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Bets ameaçam solidez do sistema financeiro

Publicado 17.12.2024, 10:30

As apostas esportivas se tornaram a nova febre brasileira, infelizmente, no sentido negativo do termo. Hoje, segundo dados de mercado, praticamente um quarto da população aderiu às chamadas Bets, e o crescimento é exponencial. Já a estimativa do Banco Central projeta que cerca de 24 milhões de pessoas físicas participaram de jogos de azar e apostas. Seja 20, 30, 50 milhões ou mais, o cenário existe e precisa ser encarado de frente: essa dinâmica tem comprometido a renda das famílias e vai ter consequências diretas na saúde das instituições financeiras. Para se ter uma ideia, o número de apostadores cresce mais rápido do que o número de pessoas contaminadas no pico da pandemia.

O Banco Central tem alertado sobre o impacto das apostas esportivas na economia. De acordo com o relatório da autoridade monetária, o valor médio mensal transferido para apostas chega a R$ 3.000,00 entre pessoas com mais de 20 anos, um dado preocupante considerando que a renda média do brasileiro é de apenas R$ 3.200,00, conforme levantamento recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 

Apesar de o Banco Central ainda indicar um cenário relativamente estável em termos de inadimplência e empréstimos problemáticos, um estudo da CNC revelou que, no primeiro semestre de 2024, 1,3 milhão de pessoas entraram em inadimplência devido ao jogo online. Esse comportamento reflete diretamente nas decisões de consumo: muitos apostadores estão priorizando as apostas em detrimento de compras essenciais, como acessórios, vestuário, lazer, alimentos (tanto em supermercados quanto fora de casa), internet, contas de serviços públicos, produtos de beleza, itens de higiene e até medicamentos.

A pesquisa “Bets e inadimplentes: A relação dos inadimplentes com apostas no Brasil”, conduzida pela Serasa em parceria com o instituto Opinion Box, revela que 46% dos inadimplentes já realizaram apostas pelo menos uma vez. Dentre eles, 44% apostaram com o objetivo de quitar dívidas. Além disso, 13% dos inadimplentes admitiram ter deixado de pagar contas para poder apostar.

Estatísticas obtidas pela Datarisk durante o processo de criação de suas análises destacam a influência da convivência com apostadores no mesmo núcleo familiar. Quando uma pessoa possui um parente que aposta, a probabilidade de também adotar esse comportamento aumenta em cerca de 77%. Esse efeito é ainda mais pronunciado quando os pais são apostadores, elevando a probabilidade para aproximadamente 216%.

Neste momento, para quem atua no sistema financeiro, torna-se imprescindível utilizar os insights gerados por dados e inteligência artificial (IA) para apoiar a tomada de decisão em todo o ciclo de crédito. A aplicação da IA busca mitigar possíveis dificuldades de pagamento, especialmente em situações como concessão de crédito ou vendas parceladas. Para ilustrar, algumas análises indicam que as apostas são mais comuns entre homens (70,8%), com idade média de 34 anos. Quase metade dos apostadores (47,8%) está na faixa etária de 25 a 40 anos. Além disso, o score revelou que 63,9% dos apostadores possuem vínculo empregatício em regime CLT, com uma média salarial de 4,7 salários-mínimos.

Segundo Isaac Sidney, presidente da Febraban, caso o ritmo atual de desgaste do orçamento familiar devido às apostas permaneça, haverá um impacto abrangente na economia brasileira, prejudicando desde pequenos negócios até grandes corporações. Ele alertou que essa situação pode desencadear uma crescente onda de endividamento, excluindo milhões de brasileiros do mercado de crédito e acarretando sérias repercussões nas taxas de inadimplência, nos riscos financeiros e nos custos de crédito.

Os dados são fundamentais como direcionadores, mas, isoladamente, não resolvem o problema. É necessário criar uma camada adicional de inteligência, onde todas essas informações sejam integradas em uma decisão (score) que seja prática e fácil de aplicar em processos dinâmicos, como o de concessão de crédito.

O estudo de caso das apostas nos EUA revela que, mesmo após a regulamentação, os consumidores tendem a aumentar seus gastos e níveis de endividamento. Acreditamos que as apostas esportivas já se consolidaram como uma realidade no Brasil e vieram para ficar, não sendo um fenômeno passageiro. O monitoramento contínuo de variáveis, modelos e do mercado será essencial nesse processo. 

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