O mercado de açúcar em NY fechou a semana em queda de 46 pontos (10 dólares por tonelada) no primeiro mês de vencimento (maio de 2017) e entre 20 e 42 pontos (4,50 e 9 dólares por tonelada) nos demais meses até o julho de 2019. Os fundos liquidaram cerca de 25,000 lotes e agora devem estar comprados ainda em cerca de 60,000 lotes. Aos poucos o mercado vai encontrar seu suporte. Acreditamos que o mercado pode eventualmente bater 16.00-16.50 centavos de dólar por libra-peso em função do pânico e, principalmente, de eventuais operações de balcão mal estruturadas que possuem níveis de desaparecimento (o famoso knock-out) no nível de 17 centavos de dólar por libra-peso!
Diz o ditado que “não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe”. Poderíamos usá-lo para ilustrar o mercado de açúcar nos dias atuais. Muitos gestores pensavam que aqueles fabulosos R$ 1,600 – 1,700 por tonelada, a equivalência do açúcar em NY convertido em reais, negociados em setembro, outubro e novembro do ano passado durariam para sempre. Ouço histórias de um executivo de um banco ligado ao setor, de empresas que decidiram suspender, naquele momento de pico de cotações em NY, novas fixações de preço e só voltar a hedgear quando o valor em reais se aproximasse dos R$ 2,000 por tonelada, o que – como sabemos – nunca ocorreu. Esta é a parte do “não há bem que sempre dure” que alguns gestores não conseguiram absorver. Falta de disciplina e gestão de risco.
Agora, com o fechamento de sexta-feira do contrato para maio/2017 na bolsa de NY nos 17.71 centavos de dólar por libra-peso e o câmbio a R$ 3.1150, estamos em R$ 1,260 por tonelada. Como disse um atento gestor: “a vida muda pouco para a usina se o preço vai de 1,700 para 2,000 reais. Mas muda (para pior) extraordinariamente se vai de 1,700 para 1,200. Enfim, temos que virar a página. Melhor seria se aprendêssemos com os erros, mas geralmente apenas nos esquecemos deles.
O período que vai de abril até julho é sazonalmente a temporada de preços baixos no mercado futuro de açúcar refletindo a força da entrada da safra do Centro-Sul. Acredito que boa parte dessa histórica pressão sobre os preços já tenha sido antecipada com a maciça liquidação da posição comprada dos fundos e deverá ser suavizada nos meses a seguir, devido ao menor volume disponível de fixação de preços por parte das usinas que, como apurado pelo nosso modelo, estão relativamente bem fixadas para os primeiros vencimentos na tela de NY. Esta é a parte do “nem mal que nunca se acabe”.
Os últimos meses têm sido marcados pela atipicidade na conduta das negociações comerciais. Dois exemplos curiosos: por razões de restrição de crédito, usinas que só podiam fixar preços de exportação de açúcar muito próximo ao período de embarque, conseguiram uma média de fixação em centavos de dólar por libra-peso superior à daquelas empresas bem capitalizadas. Ou seja, a restrição creditícia que deveria ser um entrave para as usinas com fluxo de caixa apertado, acabou beneficiando-as. Inversamente, na entressafra, empresas capitalizadas seguraram o etanol esperando vende-lo agora com ágio suficiente para pagar o custo financeiro e de carrego. Já as empresas com problemas de caixa venderam o etanol antes disso e acabaram vendendo nas máximas enquanto quem carregou estoques assistiu aos preços despencarem. Que fase!
Algumas notícias positivas no cenário econômico nacional terão impacto no mercado de açúcar, não necessariamente positivo. A inflação caiu mais do que o esperado e a estimativa é que os juros internos se reduzam para 8.75% a.a. até o final do ano. Com o possível aumento dos juros americanos, o spread entre os dois estreita e diminui o prêmio dos contratos em reais por tonelada ao longo da curva de preços via NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira). Com o real mais forte, o cupom cambial mais estreito e o petróleo não dando nenhum sinal de melhora, o mais prudente é pensar em oportunidades de fixação em reais por tonelada. A receita em reais das empresas deve diminuir na safra 2017/2018. Enquanto o período de abril até julho é péssimo para as usinas fixarem preços de venda em centavos de dólar por libra-peso, para os consumidores industriais a hora está chegando.
Uma expressiva figura do setor, formador de opinião, conhecido pela fidalguia e eloquência, em recente roda de amigos, ensinava que as qualidades chaves que todo executivo precisa ter para atravessar os atuais desafios com os quais nos confrontamos no mercado de açúcar, neste início de ano, são a beleza e a paciência. Um interlocutor, curioso, quis saber mais detalhes. O sábio executivo então revelou: “se tudo der certo, beleza. Se não der certo, paciência”.
Anote na sua agenda: o XXVIII Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas (em português) da Archer Consulting, vai ocorrer dias 19 (terça), 20 (quarta) e 21 (quinta) de setembro de 2017, das 09 às 17 horas, em São Paulo-SP, no Hotel Paulista Wall Street.