Um ano inteiro de retornos negativos tem suas consequências. Assim como numa empresa convencional, recursos são necessários para o desenvolvimento de novas atividades. Quando o mercado está em baixa numa empresa normal, para manter os custos dentro das receitas e aumentar o valor presente, há redução de atividades, porém em casos extremos de firmas menores há paralisação e saída do mercado para os sócios não levarem prejuízo. Isso ocorre também nas empresas que sustentam a criptoeconomia.
Apenas nas últimas semanas, a STEEM - plataforma criada por Dan Larimer da EOS para mídia descentralizada - reduziu em 70% sua equipe; a Ethereum Classic perdeu uma importante equipe de desenvolvimento (ETCDEV) por falta de recursos. Possivelmente essas perdas são consideráveis para o prosseguimento do desenvolvimento das moedas. Contudo ambas as tecnologias mesmo em bull market não decolaram em adoção, apesar de serem projetos com proposições interessantes (aplicação crível no caso da STEEM e approach “code is law” para o Ethereum Classic). Essas reduções podem ser vistas como perdas para o mundo cripto como um todo?
Há duas questões latentes para responder essa questão. A primeira é se a queda reflete uma “destruição criativa” (processo bem descrito pelo economista austríaco Joseph Schumpeter), isto é, se novas tecnologias estão se desenvolvendo e tornando soluções anteriores que não decolaram menos importantes. A cerca de um ano - dia 3 de dezembro de 2017 - a Ethereum Classic era a 11ª maior criptomoeda em capitalização de mercado e a STEEM era a 36ª. Hoje em dia caíram para 18ª e 51ª, sugerindo que, de fato, estão ficando defasadas e que há novas tecnologias surgindo ou antigas se aprimorando.
Entretanto, a queda foi causada pelo surgimento das novas tecnologias? Essa é a segunda parte do problema: acredito que não. De maneira geral, mesmo as tecnologias recentes têm sofrido quedas em dólar ou mesmo se medidas em BTC. Se consideramos a correlação razoavelmente alta no mercado das maiores altcoins - novas ou antigas - há a impressão que o mercado como um todo está prejudicado. A evidência atual indica que Bitcoin e Altcoins competem, porém não há grandes evidências de heterogeneidade entre as altcoins. Isto é, elas podem de certa maneira serem tratadas como um bloco na falta de maiores estudos.
Se as altcoins podem ser entendidas dessa forma, o risco de ir perdendo desenvolvedores pagos é pautado pela capitalização de mercado. As maiores (que não excederam nos custos) tem maior segurança que as menores, justamente por terem mais recursos. O grande problema é que capitalização de mercado possui um grande elemento de hype e não há muita variação na liderança de capitalização de mercado mesmo com choques tecnológicos. A EOS é um desses casos, nasceu grande e logo no começo mostrou grandes falhas, porém continua entre as maiores mesmo com outros projetos se mostrando mais interessantes e resilientes. Não há como afirmar que as criptomoedas estão num estágio maduro de destruição criativa e perdas como as atuais devem acender um sinal amarelo: elas não se relacionam tanto com a tecnologia ser mais ou menos efetiva, e sim com choques de mercado.
A parte positiva é que há muitos projetos que se desenvolvem mais com comunidade que com desenvolvedores institucionalizados em empresas. Num bear market, a resiliência vem em grande parte de desenvolvedores anônimos que acreditam no projeto. Moedas com forte comunidade e, diria, algum componente ideológico como Ethereum e Monero tendem a ter menores riscos de perda de capacidade de inovação em bear markets. Se há moedas com chances de estarem realmente em baixa, são essas que possuem a capacidade de inovação puxada majoritariamente pela comunidade.