O Ministro Paulo Guedes tem uma fixação pela estratégia, que ainda não deu certo, do “câmbio alto e juro baixo” que tem o apelo de tornar o Brasil “barato” ao capital estrangeiro e desta forma torná-lo atraente, e, adicionalmente fomentar atração para o programa de privatizações, que encontra dificuldades em sair do papel e é fundamental para a modernização da infraestrutura debilitada do país.
E mais, com absoluto foco na questão fiscal, vê no câmbio alto fonte geradora de receitas ao BC sobre ganhos no ajuste do preço do estoque das reservas cambiais para transferi-los para o Tesouro Nacional, numa “pedalada” naquilo que representar ganho não ocorrido sobre a efetiva venda de parte do estoque das reservas cambiais, mas tão somente ajuste contábil que deverá ser revertido, caso o real sofra apreciação ante o dólar, o que motivaria a “devolução” do valor monetizado e transferido ao BC, que, contudo, é feito com emissão de dívida nova com os títulos entregues ao BC.
Os demais benefícios para a economia são poucos e estão concentrados nas exportações do agro negócio e metálicas, enquanto os danos para os demais setores da economia brasileira são dantescos e provocam inflação nos bens de consumo alimentares como rebote dos impactos nos preços de exportações, e que tendem a se alastrar por todos preços relativos da economia.
Com este raciocínio é plausível entender o “por quê” o BC não atua no mercado de câmbio futuro com oferta preventiva e incisiva de contratos novos de swaps cambiais, que poderiam mitigar o impulso presente sobre o preço da moeda americana demandada no mercado futuro de dólar como preservação de reserva de valor de recursos financeiros e não como “hedge comercial”, e que leva a moeda americana a sustentar o viés de alta sem que haja demanda efetiva de saída no mercado à vista.
Com a crise fiscal, embora o Brasil tenha posição confortável no que tange ao câmbio e dispondo de situação credora líquida em moeda estrangeira, o “câmbio alto” é algo preferencial ao governo ser mantido nos patamares atuais ou maiores, pois é fácil atribuir ao dólar, como falsa deficiência do país, a causa da exacerbação do seu preço, e, com isto despistar o objetivo e também a incompatibilidade da taxa de juro deprimida em demasia, mas que por outro lado reduz o custo de carregamento da Dívida Pública para o Tesouro Nacional.
Pensamentos restritos, micro focados no interesse do próprio Tesouro Nacional, quando a realidade impõe que seja macro e preserve homogeneamente todos os interesses da economia do país.
A dicotomia entre o IGP-M já na linha de 18% os últimos 12 meses afetado pelo câmbio alto versus o IPCA em torno de 3% provocará acintoso descompasso nos preços relativos da economia, impactando como fator redutor de renda acentuada dos menos beneficiados, mas na realidade atingindo a todos.
Acreditamos ser difícil a retomada da estratégia inicial que motivou o “câmbio alto e juro baixo” com sucesso em seus objetivos, o que poderá agravar a pressão sobre o “corner” em que o governo está frente aos programas assistenciais as classes mais carentes, por absoluta falta de recursos, e adicionalmente poderá impor sérias dificuldades de rolagem da Dívida Pública pela exiguidade da remuneração.
A estratégia de “câmbio alto e juro baixo” como último recurso para o país atrair investidores estrangeiros que não demonstram mais interesse pelo Brasil é uma tentativa que poderia se configurar válida, mas é necessária a existência de simetria entre os parâmetros do juro e do câmbio, e isto não está presente, havendo absoluto desencontro.
“O barco está afundando” e é lamentável que o governo, via Ministério da Economia e BC, pense pequeno olhando para os interesses imediatos e não na macroeconomia, que precisa ser dinamizada para reerguer-se de forma consistente e ganhar produtividade.
As ideias alternativas que surgem são mais tributos, num processo de teste sobre a sensibilidade política em torno das eventuais proposituras dos mesmos, num “go and stop” contínuo que só provoca inseguranças e mais incertezas.
O “forward guidance” do COPOM/BC não vislumbra tempestades, mas as previsões perceptíveis não as eliminam e, muito pelo contrário, as colocam mais próximas do que se pode supor e se propaga enfatizando este ou aquele índice que decorre mais do “input” dos recursos governamentais via programas assistencialistas do que fruto da retomada da atividade econômica.
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No momento é muito difícil imaginar retrocesso de preço da moeda americana no nosso mercado, mesmo quando ocorra apreciação da mesma no mercado externo, pois o “câmbio alto e juro baixo” estão atrelados ao interesse imediato do governo, e, seria muito bom se em algum momento despertar os demais interesses à margem em benefício do país, mas é muito improvável.