Como destacamos no post anterior, o BC/COPOM e seus economistas precisam aceitar os dados e as perspectivas pouco favoráveis e admitir os dados da realidade e não os anseios para construir seus modelos, e não tentar acomodar forçadamente a realidade dentro dos seus modelos pré-concebidos, e como consequência gerar “forward guidance” insustentáveis e perspectivas e expectativas não factíveis, que, recomendavelmente, deve ser pratica extinta doravante em suas análises.
Precisa considerar que a pressão inflacionária está presente, não sendo temporária como tem procurado disfarçar no entendimento contumaz, e que o IPCA de 4,52% e o IGP-M de 24% em 2020, inquestionavelmente, vão irradiar reajustes dos preços da economia neste 2021.
Aliás, a 2ª prévia do IGP-M neste mês de janeiro já desponta com expressivo e preocupante 2,37% bem acima das expectativas. A realidade está visível, não dá para fazer “vistas grossas” e buscar fundamentos onde não existem para justificar o fato, que em realidade expressa a pressão inflacionária presente na economia brasileira.
É imperativo o reconhecimento que a volatilidade no câmbio, afora fatores pontuais de natureza externa e riscos agravados internos, ter muito a ver com o juro em patamar muito baixo, sendo absolutamente necessária a elevação da SELIC, que, acreditamos, ainda teimosamente possa ser mantida nesta reunião do COPOM que se finda hoje, visto que há a preocupação em “blindar” o custo do carregamento da Dívida Pública, já que a elevação impactaria e afetaria a já grave crise fiscal.
O dólar tem razões internas consistentes para manter o viés de alta, mas terá grande dependência do comportamento da moeda americana no mercado internacional, a partir da gestão do Presidente Joe Biden, com Janet Yellen no Tesouro.
De toda forma, não vislumbramos a possibilidade do preço no nosso mercado recuar a R$ 5,00, pois as “barreiras” internas são enormes e a tendência presente é mais de agravamento fiscal do que o encontro de soluções.
Tudo indica que o governo Biden será expansionista, esperando aprovar o novo pacote de US$ 1,9 Trilhão de apoio à população carente e incentivo à retomada da atividade econômica, e, questiona-se muito se será necessária a manutenção de “dólar forte” por interesse do Tesouro, o que, em tese, contraria a linha normalmente defendida pela nova titular do Tesouro, Janet Yellen, e as próprias expectativas do mercado.
Em seu pronunciamento ontem perante o Senado, em audiência de confirmação, Yellen pontuou que “o mercado é que deve estabelecer o preço do dólar”, e esta tese posta é absolutamente carente da total sinergia entre o câmbio e o juro, caso contrário ocorre o descompasso.
Contudo, é de amplo conhecimento que esta prática não é rigorosamente cumprida por grandes “players” no comércio exterior, entre os quais se destaca a China, mas também inclui o Brasil.
Este é um ponto relevante a ser observado, visto que, em tese, se espera a fragilização do dólar no mercado externo e isto se prestaria para amenizar a impulsão da taxa cambial no Brasil, já que sabidamente o dólar tem grande capacidade de influência sobre os preços relativos da nossa economia, visto que somos potenciais exportadores agrícolas, cujos preços reboteiam nos preços internos.
É preciso aguardar os sinais iniciais da gestão Biden e as reações dos mercados.
A vacinação no Brasil, ainda que em estado de absoluta desorganização e negacionismo sistêmico, insinua avanços e mal iniciada já tem o risco de interrupções por falta de matéria prima causando desalento e frustrações, mas, ainda assim, é um fato positivo embora crie expectativas não tão imediatas quanto aos anseios de superação do grave problema sanitário, pois quando se tornar efetiva não eliminará as condutas protetivas fundamentais no enfrentamento da pandemia do coronavírus, as quais se teme possam ser abandonadas, mas inquestionavelmente é um avanço.
A inércia da atividade econômica corre o risco de manter-se ainda por um bom tempo, visto que há evidências de perda de controle da disseminação da pandemia no seu segundo ciclo, o que determinará impactos na atividade econômica incontidos pela vacinação, razão pela qual há forte apelo generalizado para a retomada dos programas assistenciais que foram importantíssimos e fundamentais para dar suporte ao PIB em 2020, e que, interrompidos podem colocar em risco todas as expectativas em torno de 2021, agravando ainda mais o risco fiscal.
O assunto deve retomar pauta tendo em vista que, segundo pesquisa XP/Ipespe, a popularidade do Presidente entrou em baixa.
O Congresso renovará suas Presidências da Câmara e Senado e é fundamental que se alinhe o destravamento das pautas envolvendo reformas e outros avanços, visto que, bom lembrar, faltam em termos efetivos tão somente 1 ano e meio de mandato ao atual Presidente para fazer o que não foi feito nos 2 anos passados, mas que foi muito falado.
Neste ínterim, o IBOVESPA segue com baixa sustentabilidade em suas apregoadas perspectivas otimistas, como decorrência do fato de estar ancorado em seu desempenho em “blue chips” pontuais, como, por exemplo Vale (SA:VALE3), Petro e assemelhadas, então quando ocorrem mutações no exterior nos preços pertinentes as commodities ligadas a estas, as oscilações no nosso mercado são pontuais. Entendemos prematuro se ter perspectivas muito efusivas para o mercado acionário brasileiro, que parece um tanto esgotado na medida em que a economia não dá sinais consistentes e fundamentados de recuperação.
Os sinais de retração do consumo devem se tornar mais transparentes a partir de janeiro, refletindo o término dos auxílios dos programas assistenciais do governo.
Embora se relute em admitir, há uma sombria ameaça que 2021 possa ser pior que 2020, pois como temos destacado “o que se lê e se ouve não é exatamente o que se vê”.
Enfim, ....