Quando há mais de dois meses mencionamos num de nossos posts a perspectiva de 2022 ser um ano perdido com crescimento nulo, alguns dos leitores “mais a direita” foram críticos.
Contudo, após a reunião do BC/Copom encerrada ontem e em que mais uma vez referendou sua permanente dicotomia entre “discurso contumaz de austeridade” e “atitude decisória absolutamente tímida”, a percepção da efetiva viabilidade, praticamente irreversível porque não há tempo para recuperar os erros sistêmicos cometidos por este governo em sua política monetária (cambial, fiscal e juros), é agora quase uma unanimidade.
A inflação presente tem forte dinâmica de alavancagem no processo denominado “bola de neve”, com agregados como combustíveis, crise hídrica e energética, com o agravante de que o país se auto inflacionou, por erro de estratégia da política econômica, antes mesmo da pandemia ao privilegiar o setor do agronegócio com o câmbio alto e, com isto, permitir o rebote dos preços internacionais extremamente aviltados para a economia interna, disseminando a alta em toda cadeia de bens essenciais alimentares de forma gradual e contínua, para depois atingir quase todos os setores da economia.
Não trouxe benefícios, como muitos propagam, pelo contrário aumentou o desemprego e, dado pouco observado, a redução expressiva da renda do assalariado pelo excesso de oferta de mão de obra não qualificada (algo como 24% do contingente) agravada adicionalmente pela taxa da inflação, algo como 10% devido a cada causa, o que determina expressiva redução de consumo.
O momento, a dimensão da pressão inflacionária presente, justificaria uma elevação da ordem de 2% a 2,5%, elevando a Selic já para 8,25% a 8,75%, fazendo-a agressiva não com o intuito de resgatar erros antecedentes incorrigíveis ainda neste governo, mas com o intuito de evitar que o “que está ruim fique pior”, buscando estancar a volúpia inflacionária, que da forma como ficou tende a ser contida pela exaustão da elevação dos preços que deve impactar retraindo o consumo, neste caso podendo causar estagflação da economia.
Certamente, a Selic precisará fechar o ano acima de 12%, contrariando expectativas iniciais, principalmente após o mais recente IPCA-15, e então a elevação deverá ser mais abrupta e menos eficaz.
E ainda há mais coisas negativas no painel como a questão dos precatórios, da qual se esperam mais repercussões negativas. As perspectivas para 2022 são extremamente preocupantes e pode determinar várias formas de deterioração dos preços do mercado financeiro. Há uma latente preocupação e voracidade em dispêndios sem nenhuma previsão de origem dos fundos, com grande concentração no foco eleitoral ao longo deste final de ano e durante 2022, a economia deve perder dinamismo tendente a PIB zero, as discussões fogem aos temas mais relevantes para o país e se concentram em direitos de participar de redes sociais, que propagam grande parte das “fake news” e a pobreza não deve demonstrar recuperação. Então, para o mercado financeiro, supomos, restará a máxima de que “o melhor do capitalismo é ser capitalista”, e a tendência seria então o crescimento do mercado de renda fixa em detrimento da renda variável e o dólar pode ser operacionalizado como instrumento de postura defensiva, o que dará sustentação ao preço.