O cenário prospectivo econômico do Brasil sinaliza ambiente extremamente nebuloso, gerando muitas dúvidas e inseguranças e uma incontestável tendência a desalinhamentos acentuados na política monetária e cambial, já que a fiscal está bastante deteriorada e em linha de agravamento imediato, convivendo com a tentação de o governo fazer o que necessário for para romper o teto orçamento com ações sutis e comprometedoras, parecendo ser uma questão de tempo e refinamento da criatividade.
Cada vez mais, torna-se evidente que o “forward guidance” do imaginário do BC/COPOM é mais uma peça de anseio que se situa bem distante da realidade prospectiva do país.
O mercado financeiro já percebeu esta situação e desta forma se torna altamente defensivo.
Pressão por juros maiores e prazos menores para rolar a Dívida Pública são sinais claros emitidos pelo sistema financeiro de que há insegurança e agravamento no nível de incertezas.
Temos presente o “câmbio alto” até certo ponto ambicionado pelo governo, mas que tem grande potencial de ascender a parâmetros muito mais elevados do que os já elevados presente, visto que a busca do “hedge por insegurança” em dólares tende a se intensificar, sendo aquele que não se vincula a ativos ou passivos efetivos, mas como segurança defensiva ante um cenário prospectivo incerto e ameaçador da reserva de valor, que não proporciona alternativa diferente imediata.
Observa-se então que o mercado financeiro ao pressionar o juro tenderá a buscar também proteção no dólar, pois o cenário consequente do complexo ambiente presente sugere duas alternativas preocupantes: ou inflação ou recessão.
O poder de consumo da população, em especial carente, está em forte contração após ter sido expandida com programas governamentais assistencialistas agora reduzidos, e isto, até então havia possibilitado ao governo não sancionar a inflação presente nos preços dos alimentos já migrados do atacado para o varejo já em grande monta, já que os benefícios davam a população capacidade de aceitar e pagar os preços aviltados, mas agora seguramente a inflação será detectada, porém se o consumo se retrair a cena prospectiva indica recessão da atividade econômica, contrariando as expectativas dogmáticas do BC/COPOM.
Por outro lado, a massa de recursos de pessoas físicas que estava locada no mercado de renda fixa e foi deslocada para o mercado acionário em grande monta indica desalento com a Bovespa, e, diferentemente do que poderia se esperar de na saída do mercado de renda variável poder se tornar consumo puramente, o que se observa é um forte deslocamento para investimentos imobiliários de todos os portes, numa espécie também de “hedge por insegurança”, mas com outro ativo, mais “familiar”.
Tomada como exemplo a cidade de São Paulo revela um extraordinário “boom” de ofertas as mais diversas no ramo imobiliário e para todos os bolsos impulsionados pelo sentido de defesa da população, ainda que o juro reduzido ainda seja elevado para a finalidade. Mas a opção da população de todas as rendas é imobilizar e com isto o setor de construção civil se revitaliza e surpreende a muitos pelo seu dinamismo atual.
Mudar este contexto com a elevação do juro por parte do governo, se bem que já há bancos ofertando papéis com rentabilidade de 7% aa, mas isto serve mais para evidenciar a dimensão do desarranjo presente no mercado financeiro.
O risco prospectivo é de ocorrência de um desajuste mais acentuado nos preços relativos da economia, envolvendo bens de consumo e outros ativos, conduzindo o todo, mercado financeiro e investidores pessoas físicas a posturas severamente defensivas, impactantes na arrecadação federal e com agravamento das contas públicas.
O BC deve de imediato e de forma pró-ativa entrar com oferta de swaps cambiais no mercado futuro de dólar para evitar que a taxa cambial se torne explosiva, e colocar na pauta para a próxima reunião do COPOM a elevação da taxa SELIC, tardiamente visto que a inflação já está presente.
A pressão no câmbio será obviamente interna por postura defensiva do mercado financeiro, visto que não há pressões em perspectiva de saídas de recursos estrangeiros mais intensos do país, que, em grande parte, já ocorreram e só da Bovespa foram retirados R$ 80,0 Bi.
O fluxo cambial do Brasil não revela dados presentes preocupantes tendo um saldo negativo próximo de US$ 20,0 Bi, consequente de US$ 52,0 Bi positivo comercial e US$ 32,0 Bi negativo financeiro, mas a demanda defensiva tende a se acentuar no mercado futuro de dólar com o incremento do “hedge por insegurança”.