Os bancos são o coração do sistema econômico, pois como intermediários financeiros podem direcionar recursos captados ou reter esses recursos, o que pode gerar uma crise financeira. Ou seja, o comportamento dos bancos pode gerar uma crise financeira.
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Vivendo um momento de grande preocupação com a questão climática, será que os bancos têm um papel nesse aspecto? Como podemos avaliar se os bancos, como intermediários financeiros, contribuem ou não com a questão climática?
Venho estudando esse assunto com alunos no Coppead/UFRJ em duas linhas de pesquisa, uma, que explorarei aqui, é a da transparência socioambiental. Como o trabalho que venho desenvolvendo com Leandro Grapiuna pode contribuir com esse tema, trago, aqui, alguns tópicos do paper que estamos elaborando. O nome do trabalho é transparência socioambiental e o risco bancário.
O Brasil é um dos países que possui alguns dos biomas mais importantes do planeta e ao mesmo tempo um sistema financeiro grande e complexo, equivalente aos principais sistemas financeiros do mundo. Então, uma análise do impacto socioambiental dos bancos brasileiros é relevante não só para o Brasil, mas também para o mundo todo.
O Banco Central do Brasil (BCB) está envolvido em uma agenda socioambiental, seguindo a mesma tendência em todo o mundo e, assim, vem regulando o tema. A primeira iniciativa neste sentido foi a resolução 4.327/2014, que obriga os bancos brasileiros a possuírem uma política de responsabilidade socioambiental.
Como é sabido, uma condição fundamental sobre a eficiência de um normativo é a necessidade da compreensão sobre sua aplicação pelas partes envolvidas: os bancos, os clientes, ou seja, a sociedade de uma maneira geral.
Assim, a transparência das instituições financeiras em relação às suas políticas socioambientais pode aumentar o comprometimento das instituições financeiras em aplicar e aprimorar suas políticas internas, uma vez que o banco que divulga seu desempenho socioambiental se torna suscetível à avaliação e cobrança de desempenho.
A gestão dos riscos sociais ambientais representa um novo desafio para instituições financeiras, ou seja, a transparência dos riscos ambientais pode ter um impacto relevante no comportamento dos bancos.
Para investigar a trajetória da transparência socioambiental dos bancos foi elaborado no trabalho com o Leandro um índice que leva em consideração, entre outros, a avaliação do cumprimento de padrões referentes aos da Global Reporting Initiative (GRI) e do Sustainability Accounting Standards Board (SASB), adoção das recomendações da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD) e um canal de comunicação dedicado para divulgação social e ambiental em seu site.
Para examinar os determinantes da transparência socioambiental bancária no brasil foi testada a hipótese de que existe relação entre a tomada de risco bancário e a transparência socioambiental dos bancos.
Os principais resultados sugerem que bancos menos arriscados possuem maior grau de transparência socioambiental. Além disso, a regulamentação bancária possui impacto positivo na transparência bancária social e ambiental. Por fim, foi identificado um padrão de inercia, ou seja, os bancos transparentes tendem a ser mais transparentes ao longo do tempo.
Sem dúvida, além da transparência, uma questão relevante é a qualidade da política socioambiental. É bom deixar claro que não analisamos a qualidade, mas, sim, a transparência. Mas existem razões que dão sustentação econômica a nossa análise. Você já ouviu falar em disciplina de mercado?
Os estudiosos da disciplina de mercado explicam que se trata de um mecanismo de pressão por parte dos agentes privados em que investidores e depositantes são responsáveis pelo monitoramento do banco. No entanto, para que a disciplina de mercado seja eficiente, deve haver algum grau de transparência por parte das próprias instituições financeiras, o que significa regularidade e padronização das informações divulgadas.
Ou seja, a sequência que identificamos em nosso estudo foi: os reguladores pressionam por políticas socioambientais, os bancos divulgam suas políticas, quando divulgadas as políticas os bancos assumem compromisso de melhorias, o cliente fica ciente (principalmente o investidor institucional) e cobra melhorias e mais transparência.
Um dos resultados intermediários do nosso estudo foi observar a evolução da transparência socioambiental ao longo do tempo. O x representa média, que não para de subir. Essa evolução positiva nos enche de esperança, não é mesmo? A linha da mediana, quando comparada à média, indica um crescimento bem assimétrico, ou seja, há também ainda muito espaço para melhorar. Gostou? Agora é preciso aguardar a publicação do paper.
No meu próximo artigo avaliarei uma outra vertente da análise do papel dos bancos em relação à questão socioambiental.
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