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Bancos Centrais e Inflação: Semana de Resoluções

Publicado 10.06.2022, 16:10
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Em mais um capítulo do livro de reação das autoridades monetárias globais ao ciclo de elevada inflação que vivemos, deu-se a largada nesta semana à temporada de reunião de comitês de política monetária de junho. Em especial, o Banco Central Europeu (ECB, na sigla em inglês) indicou a primeira elevação de juros desde 2011 para a próxima reunião, enquanto as leituras de IPCA e IPC definiram o cenário para as reuniões do Banco Central do Brasil e do Federal Reserve Fed na semana que vem. 
 
O Banco Central Europeu decidiu manter a taxa de juro das operações principais de refinanciamento em 0%, a taxa de juros da facilidade permanente de cedência de liquidez em 0,25% e da facilidade permanente de depósito em -0,50%. Em nossa visão, tanto o comunicado quanto a conferência de imprensa deram uma leitura mais hawk do que o esperado, especialmente ao sinalizar sua intenção de trajetória para as próximas duas reuniões. 
 
Na coletiva de imprensa, a presidente Christine Lagarde afirmou que as pressões inflacionárias se intensificaram e estão mais disseminadas pelos grupos. Em função disso, reforçou o tom mais duro adotado no comunicado, afirmando que o comitê assegurará que a inflação retorne à meta de 2% no médio prazo. Ainda assim, espera que a inflação se mantenha “indesejavelmente alta” por algum tempo. 
 
O índice de preços ao consumidor nos EUA teve leitura acima do esperado tanto no headline (1% vs. 0.7% esperado) como na leitura subjacente (0.6% vs. 0.5% esperado). Tanto o headline como a composição do índice são negativas para a trajetória da inflação. Vemos riscos diversos advindos da inflação subjacente (consequência de um mercado de trabalho aquecido) bem como da inflação não-subjacente (consequência de novas pressões em combustíveis e alimentação). 
 
A abertura mostra um cenário complicado para a convergência da inflação e reforça nossa percepção de ao menos mais três altas de 50 pontos-base (bps) nos EUA seguida de outras altas de 25bps em diante. 
 
 
Aqui no Brasil, o IPCA de maio variou 0,47%, abaixo da nossa expectativa (0,61%) e da mediana do mercado (0,60%). Pelas aberturas, os preços administrados ficaram acima do esperado (-0,51% vs. -0,63% exp.). Nos preços livres (0,83% vs. 1,07% exp.), a surpresa baixista ocorreu principalmente em alimentação no domicílio (0,43% vs. exp. 1,05%), mas também pode ser observada em industriais (1,05% vs. exp. 1,25%) e serviços (0,85% vs. exp. 0,95%). Os serviços intensivos em trabalho tiveram alta de 0,60% no mês, levando a medida em 12 meses a acelerar para 4,45%. Nas leituras subjacentes, os industriais mostraram alta de 1,31% (vs. 1,52% exp.) e os serviços subiram 0,75% (exp. 0,89%). 
 
A média dos cinco núcleos acompanhados pelo Banco Central seguiu bastante pressionado, atingindo 0,93% (vs. 0,95% em abril/2022). Em 12 meses, a medida acumula alta de 10,11%, maior valor desde novembro/2003. Adicionalmente, o índice de difusão ficou em 72,41% (vs. 78,25% em abril/22). 
 
Ainda que o headline tenha ficado abaixo da expectativa, destacamos que a composição do índice segue desfavorável, principalmente sob a ótica das medidas subjacentes. Por esses motivos, entendemos que o IPCA de maio corrobora a perspectiva de elevação de 50bps nas próximas duas reuniões. 
 
Os impactos do movimento generalizado de aperto monetário começam a aparecer mais amplamente em diversos pontos do mercado financeiro. Por exemplo, destaca-se forte aumento do spread entre a estrutura de juro futuro da Itália se comparada a Alemanha (tradicional medida de stress maior na Zona do Euro). 
 
Na economia real, a queda da confiança do consumidor dos EUA para o pior patamar da série histórica (iniciada em 1970) também é ilustrativo da dificuldade vivenciada pelas famílias em um ambiente de inflação elevada. Os indicadores fortes do mercado de trabalho, no entanto, devem sustentar o consumo e com isso dificultar a tarefa do FED, que terá de elevar os juros o suficiente para desacelerar a demanda agregada. 
 
Finalmente, o cenário brasileiro é dominado por notícias políticas. Enquanto a defasagem dos preços de combustível mostra riscos de nova rodada de reajuste de preços da Petrobras (SA:PETR4), as movimentações políticas indicam desejo do legislativo e do executivo de conter de alguma forma a inflação ao consumidor. Se as medidas anunciadas esta semana foram confirmadas, podemos ver um alívio de até 300 pontos base na nossa projeção de inflação para o ano. No entanto, parte disso será compensado por uma elevação da projeção no ano que vem. 
 
Ou seja, mantemos que o cenário à frente mostra riscos consideráveis, com a perspectiva de aperto monetário das economias centrais e também das economias emergentes não dando sinais de arrefecimento no curto prazo. Portanto, mantemos nossa projeção de mais duas altas da taxa SELIC até esta chegar a 13.75% em agosto. 

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