A primeira semana de maio se encerra com forte elevação da volatilidade nos principais mercados (renda variável, moedas e juros) locais e globais. O estopim do movimento está associado à atuação dos Bancos Centrais. Especificamente relevante para o cenário brasileiro, tivemos movimentos de aperto monetário tanto nos EUA como no Brasil. Desde o começo do ano, o nosso cenário contempla elevação da taxa de juros a nível global durante 2022, cenário que mantemos, dados os desafios de inflação.
O Banco Central dos EUA elevou a taxa de juros em 0,5 p.p., no maior movimento de juros desde os anos 2000. Essa também foi a primeira sequência de alta em reuniões seguidas desde 2006. Ou seja, não somente o FOMC (comitê de política monetária do FED) está elevando a taxa de juros em passos maiores, como o ritmo de elevação também está mais acelerado. A interpretação lógica disso é que a autoridade monetária deseja retirar estímulos de forma mais célere. Além disso, o FOMC também indicou o início da redução do seu balanço a partir de primeiro de junho.
Mais relevante do que a ação do Banco Central em si, tivemos indicações relevantes sobre a condução futura da política monetária durante a conferência de imprensa de Jerome Powell. Fica evidente que o movimento de 0,5% deve ser repetido na próxima reunião. Ao mesmo tempo, o chair do FED comentou reiteradamente que o objetivo do FOMC neste momento é provocar um recasamento da oferta e da demanda nos EUA de forma a garantir a redução da taxa de inflação.
Em nossa avaliação, essa é a condução correta do Banco Central. No entanto, ressaltamos que esse movimento passa, necessariamente, pelo desaquecimento da demanda agregada para garantir taxas de inflação menos pressionadas. Ou seja, toda a discussão de aperto da política monetária justifica o aumento dos riscos de recessão (ou, ao menos, uma desaceleração abrupta) na economia americana. Assim, é razoável supor que a volatilidade dos mercados permanecerá elevada.
Aqui no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom do Banco Central do Brasil (BCB) elevou a taxa de juros em 100 pontos bases, para 12,75%, conforme nossa projeção e mediana do mercado. Essa é a décima alta consecutiva da taxa Selic.
Em relação aos próximos passos, o Copom sinaliza a provável extensão do ciclo de altas, mas indica uma redução na magnitude do movimento. Isso é justificado pela elevada incerteza e pelas defasagens de atuação da política monetária sobre atividade e inflação.
Vis-à-vis nossas expectativas e apesar do movimento do movimento de alta, o comunicado tem tom dovish dado que o comitê, mesmo ao reconhecer maiores riscos inflacionários, também adiciona a atividade como um risco baixista, exclui 2022 do ano-calendário de política monetária e indica a redução no ritmo de alta.
Nossas projeções encontram-se acima do divulgado pela autoridade monetária no horizonte relevante, impulsionadas essencialmente por uma atividade mais forte do que o esperado neste começo de ano, como consequência provável de medidas de estímulos diversas, e uma acentuação dos determinantes da inflação oriunda do choque de oferta global e da dinâmica de preços local.
Assim, os desenvolvimentos desta semana reforçam a perspectiva de juros mais elevados a nível local e global. Dado que projetamos manutenção das pressões inflacionárias no médio prazo (consequência de problema nas cadeias logísticas, aumento de preço de alimentos e commodities energéticas), acreditamos que a tendência dos mercados no restante do ano ainda será ditada pelos Bancos Centrais.