É elogiável e meritório do esforço do Presidente do BC, Campos Neto, ao passar aos investidores estrangeiros, em reunião ontem, uma imagem promissora de recuperação da economia brasileira, confrontando dados com as demais economias emergentes, porém, notoriamente, por razões óbvias, sem propagar a efetiva e caótica situação fiscal quase incontrolável e nem as fontes de rendimentos que têm ancorado estes sinais de recuperação do comércio varejista, que por sua vez impacta na demanda das indústrias, mas não nos serviços, e que têm origem nos recursos injetados pelo governo e sem origem no trabalho, visto que a economia não tem força motriz própria.
Enfim, o BC está no seu papel de vender bem a imagem do Brasil, mesmo que distante da efetiva realidade, presta um serviço à nação neste momento crítico, postura absolutamente díspar em relação a assumida por nosso Senado Federal, que “deu um tratamento com “formicida” para um paciente em estado gravíssimo na UTI”, demonstrando absoluta falta de comprometimento com a situação fiscal do país e deixando evidente que o velho jargão de “que o combinado não é caro” não funciona na política brasileira, e não há foco no interesse maior do país.
Se faltava algo mais relevante para derrubar o “castelo de areia” que vem sendo construído sem bases sólidas, a ação do Senado Federal foi precisa e contundente, já que no momento não faltam desafios ao governo para sair do “corner” em que se envolveu com seus programas assistenciais à população carente e que agora imponderavelmente não tem condição de manutenção ilimitada no tempo e no valor e com isto, considerando que nestes recursos estão ancorados os índices melhorados da economia e a sobrevivência de parte relevante da população, ocorre um impasse relevante e propaga piora insustentável do déficit fiscal e sérias dúvidas sobre o curto prazo, pois pode interromper abruptamente os sinais de melhora na atividade econômica, afora o desapontamento enérgico da população que vem sendo acudida.
Evidentemente, os investidores estrangeiros têm a efetiva percepção acerca do “status quo” brasileiro, que inusitadamente ganhou destaque negativo até na mais recente reunião do FED americano, e sabem bem dos desafios que o país enfrenta, inclusive com a crise da pandemia do coronavírus que ainda está presente, e todas as consequências advindas do quadro enfrentado em várias áreas com absoluta falta de convergência.
A despeito do esforço não se espera reação positiva dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, até porque o programa de privatizações que seria onde haveria maiores apelos de atratividade está paralisado e foi até motivo de saída dos responsáveis recentemente.
A Bovespa não exerce atratividade aos investidores estrangeiros visto que a economia brasileira, com exceção do agronegócio, não suscita interesse com o estado atual.
O país como um todo está inseguro sobre como se dará a retomada e com que dinâmica, e o mercado financeiro, que tem percepção mais imediata dos reflexos da crise fiscal e do quanto isto deteriora conceitos, até se mostra resiliente na Bovespa, já sem tração, porém demonstra assumir rapidamente postura defensiva no dólar, o ativo mais sensível a piora de ambientes, e assim passa a demandá-lo como instrumento de proteção no mercado futuro e ocorre a consequente pressão sobre a formação do preço.
O mercado de juro reage negativamente e eleva seus indicativos.
Volatilidade intensa é consequência de incertezas e dúvidas e evidência de insegurança quanto à tendências efetivas, uma atitude inicial de observação para “ver no que vai dar” antes de precipitar um movimento corretivo mais intenso.
Contudo, o dólar repercute o aumento da demanda imediata como proteção, não necessariamente no mercado à vista que já tem baixa capacidade de escoamento de recursos externos após volumes dantescos antecedentes, mas no mercado futuro de dólar onde fica concentrada a demanda consequente da insegurança e assunção da postura defensiva que busca proteção.
Este tipo de demanda tem como fator fomentador muito mais o lado psicológico e presunção dos players que temerários, e no caso ainda não em pânico, procuram abrigo de reserva de valor nos instrumentos designados em moeda americana.
Nestas circunstâncias não cabe ao BC o enfrentamento que seria inconsequente e propagaria o aumento da dimensão do fato desproporcionalmente, mas tão somente prover ao mercado oferta de swaps cambiais novos para atender a demanda e com isto coibir relativamente à distorção momentânea.
O enfrentamento buscando conter pela intensidade da oferta de swaps cambiais a elevação da taxa fomentaria uma disputa inconsequente e então proporcionaria até o surgimento de um estado de pânico, onde não há, até porque o BC tem reservas cambiais suficientes para lastrear os volumes de hedge que oferecer, e isto confere credibilidade ao instrumento.
É uma situação controlável, porém o patamar do preço pode ser elevado a um novo parâmetro, pois a questão fiscal tem forte poder de contágio negativo, e ocorre um descolamento da sinergia com o comportamento da moeda americana no mercado global.
O país enfrenta um momento de altíssima complexidade e enfrenta o desafio de se viabilizar efetivamente para a retomada gradual da atividade econômica, afastando o risco de estar, como já salientamos, realizando tão somente o “voo da galinha”.