Na reta final do terceiro trimestre de 2021, tivemos novas medidas por parte do nosso Banco Central para reforçar sua atuação sobre o câmbio. Na última sexta-feira (24), com os mercados fechados, a autoridade monetária avisou que já a partir de ontem pela manhã realizaria dois leilões extraordinários de swap cambial por semana, às segundas e às quartas. Ontem o leilão ofertou os contratos equivalentes a US$ 700 milhões, com vencimentos para junho e setembro de 2022. Com isso, Roberto Campos Neto objetiva manter o funcionamento regular do mercado de câmbio, temendo novas pressões inflacionárias derivadas desta variável para os próximos meses, em especial por conta da demanda dos bancos para o ajuste do overhedge em dezembro – ocorre quando os bancos fazem uma proteção exagerada do seu patrimônio que está em moeda estrangeira no exterior. Se for bem-sucedida, a autoridade reduzirá a volatilidade do câmbio. A intenção desta medida é conter a volatilidade do dólar, que representa risco inflacionário importante na casa dos R$ 5,30. Em 2020 esses leilões para ajudar o ajuste final dos overhedge vieram apenas em novembro. Este ano surpreendeu essa antecipação.
Só que o efeito esperado pelo BC não se concretizou e mercado operou em alta fechando em R$ 5,379 na venda. Com o desempenho de hoje, o dólar agora soma valorização de 4% frente ao real em setembro e de 3,66% em 2021. O real registrou ontem o segundo pior desempenho global na sessão, à frente apenas do peso filipino. A moeda brasileira também sentiu o fortalecimento do dólar no mundo, em mais um dia de rali dos rendimentos dos títulos soberanos dos Estados Unidos, movimento que aumenta a competitividade da moeda americana como opção de investimento.
A leitura clara desta atitude do BC é que, num ambiente de inflação alta, o comportamento do real está incomodando. Quem sabe é o prenuncio de uma política menos passiva no mercado de câmbio. Como estamos com riscos fiscais altos e indefinição com relação aos precatórios e ao bolsa família no orçamento, parece que o BC está mesmo andando atrás da curva. Por hora parece que estão preferindo administrar o risco cambial a subir mais o juro para poupar a recuperação da economia.
Apesar da atuação, pelo menos ontem, o dólar se segurou em alta. Talvez as próximas rolagens desses leilões façam algum efeito, mas realmente os 14 mil contratos não aliviaram em nada. Veremos os efeitos dos próximos leilões para acompanhar o quanto vão influenciar a decisão da política monetária.
Hoje veremos a ata do Copom, para saber se o aviso do BC no comunicado da semana passada de que repetirá a dose de alta de 1 ponto da Selic será confirmado ou não. O IPCA-15 parece que colocou à prova esta estratégia, afinal foi a maior alta para o mês desde o inicio do plano real. A prévia da inflação no acumulado em 12 meses ficou em 10,05%. Capaz que a ata de hoje deixe espaço para um aumento um pouco maior do que o 1 ponto dito no comunicado.
Ontem a projeção do mercado financeiro revisou novamente para cima a expectativa de inflação para 2021, que agora está em 8,45%. Essa é a 25ª semana seguida que o mercado aumenta sua projeção de preços, de acordo com o relatório Focus.
De olho nos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes adiou a votação do programa de infraestrutura de US$ 1,2 trilhão do governo até quinta-feira (30). Um dos motivos é que no centro da discussão ainda temos a questão do teto da dívida. Sabemos que, na semana passada, a Câmara já aprovou a remoção do teto da dívida até o final de 2022, mas o embate no Senado ganha contornos diferentes e poderá atrapalhar a agenda de Joe Biden na reta final de 2021, o que é prejudicial, uma vez que as chances de aprovar grandes pautas em ano eleitoral como 2022 (teremos eleições de meio de mandato) são menores.
Uma recuperação nos pedidos de bens duráveis dos EUA (1,8% ficou acima da estimativa do mercado durante o mês de agosto), juntamente com um aumento no índice de confiança do consumidor (sai hoje as 11 horas), pode encorajar o FOMC a normalizar a política monetária mais cedo ou mais tarde, uma vez que esse indicador insinua uma perspectiva melhor para o consumo do setor privado, um dos principais motores de crescimento.
Apesar do anuncio de um tapering gradual estar previsto para novembro pelo Fed, a liquidez menor influencia o câmbio dos emergentes e deprecia o real. Atenção para a fala de Powell hoje e amanhã também juntamente com mais três outros presidentes de Bancos Centrais Americanos.
Na China, para controlar a crise da Evergrande (OTC:EGRNY) o Banco Popular da China injetou outros 100 bilhões (US$ 15 bilhões) de yuans no mercado monetário, o dobro do que injetou na sexta-feira.
Por aqui volatilidade esperada até a Ptax de quinta feira. A alta escalada global do dólar, garantida pelo Fed, ajuda a explicar o real depreciado, no contexto de desafios domésticos. Ontem mínima foi de R$ 5,3074 e máxima R$ 5,3884.