Após o governo mudar o tom do discurso e garantir que, agora, irá desprender toda energia necessária para aprovar a reforma da Previdência, o mercado doméstico aguarda, então, avanços concretos nas negociações com o Congresso, pois sabe que a missão é cada vez mais difícil. O ritmo de tramitação das medidas é motivo de cautela, em meio a tantos feriados neste mês e faltando poucas semanas para o início do recesso legislativo.
Como o tempo é curto, os sinais têm de vir rápidos. E de pouco adianta tentar costurar mudanças apenas na idade mínima e na equiparação das regras se não saírem novidades em relação à reforma ministerial. O presidente Michel Temer está refém do Centrão, que não tem mais interesse só em emendas parlamentares e agora exige a saída do PSDB do primeiro escalão do governo.
A expectativa é de que a troca de cadeiras no Executivo aconteça logo após o feriado de 15 de novembro, com os tucanos se despedindo dos ministérios da Cidades e da Secretaria de Governo. Mesmo assim, isso ainda pode não garantir o quórum de 308 deputados. A estratégia do presidente deve ser de jogar pressão na Câmara e votar a reforma da Previdência independente do risco de derrota. No Senado, a discussão é menos complicada.
O objetivo é levar uma versão mais enxuta da proposta para votação na Câmara ainda neste mês, com a medida sendo aprovada na Casa até o dia 15 de dezembro. A retirada de pontos polêmicos deve ser discutida hoje em café da manhã de Temer com Rodrigo Maia e líderes da base aliada. Já o ministro Meirelles (Fazenda) recebe o ex-diretor do Banco Central Tony Volpon e o atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, em horários separados, à tarde.
Já a agenda econômica doméstica segue fraca e traz a leitura semanal do Índice de Preços ao Consumidor da FGV (8h) e os números atualizados da safra agrícola em 2017 e do prognóstico de colheita em 2018 (9h). A expectativa é de que no ano que vem não se repita a safra recorde de grãos deste ano, o que sustentou os preços dos alimentos em queda, absorvendo os choques vindos dos aumentos nos combustíveis e na conta de luz.
Na temporada de balanços, destaque para os resultados trimestrais de Banco do Brasil (SA:BBAS3), antes da abertura do pregão local, e de BRF (SA:BRFS3), após o fechamento dos mercados. No exterior, o calendário norte-americano traz os pedidos semanais de auxílio-desemprego (11h30) e os estoques no atacado em setembro (13h). Na virada de ontem para hoje, a China anunciou números acima do esperado para a inflação no atacado (PPI) e no varejo (CPI).
O índice de preços ao produtor chinês subiu 6,9% em outubro, ante previsão de +6,6%, enquanto os preços ao consumidor avançaram 1,9%, ficando levemente acima da expectativa de +1,8%. A inflação acima do previsto na China afasta o receio de desaceleração econômica mais forte do país, mas os dados foram insuficientes para animar o pregão na Ásia.
Apenas Xangai e Hong Kong subiram firme na região, sendo que a Bolsa de Tóquio liderou uma mudança de sinal, para o negativo, entre as praças asiáticas, mas as perdas foram moderadas. O índice japonês Nikkei caiu 0,20%, após atingir novas máximas históricas durante a sessão. O iene e o ouro ensaiam ganhos, com o dólar sendo fragilizado pela perspectiva de reforma tributária nos Estados Unidos.
A expectativa é de que a proposta fiscal do governo Trump seja divulgada hoje como uma "marca conceitual", ao invés de um texto legislativo detalhado sobre a redução de tributos. O plano de cortar impostos às empresas e aos contribuintes nos EUA assume contornos favoráveis aos países emergentes, o que favorece as moedas mais arriscadas e também as commodities industriais, que sustentam leves ganhos nesta manhã.