Fechamos o semestre e é importante um balanço do que foi o mês e o ano, breve que seja.
O último pregão de junho, do trimestre e do semestre, foi marcado por ajustes negativos, refletindo um ambiente de cautela externa, mas também em reação à situação política doméstica, extremamente açodada. As acusações de corrupção pesada já batem as portas do governo federal, envolvendo a compra de vacinas, além da agenda de reformas, com a tributária em debate, e a crise hídrica, que pode limitar a retomada da economia. Para piorar, ainda temos a variante Delta do coronavírus, que segue derrubando mercados e elevando juro e câmbio.
Ontem, a bolsa de valores de São Paulo registrou mais uma queda, -0,41%, a 126.801 com volume financeiro de R$ 31,6 bilhões. No mês, o avanço foi de 0,46% e no semestre, 6,54%. Um detalhe é que já é o quarto avanço mensal seguido. Em março avançou 6,0%, em abril 1,94% e em maio 6,16%. Já o dólar subiu 0,63% ontem, a R$ 4,973, mas no ano acumula perda de 4,16%. No mês, a desvalorização chegou a 4,82%, a maior desde novembro de 2020, lembrando que ontem foi “dia de Ptax”, disputa entre comprados e vendidos no mercado futuro.
Sobre junho, o balanço pode ser considerado positivo ao real, com melhora na estimativa de crescimento e a perspectiva de uma Selic MAIS ELEVADA, gerando um fluxo maior de recursos ao País. Neste câmbio mais apreciado, o mercado futuro de juro fechou em correção de alta, mas com inclinação da curva a termo, uma espécie de medida de risco, perdendo força.
Não dá para afirmar, no entanto, que o dólar caia muito abaixo de R$ 4,90 no curto prazo, até porque, embora com a Selic MAIS elevada, o ambiente político segue muito tóxico, com as investigações sobre a compra de vacinas se intensificando e os temores de uma crise hídrica, o que deve derrubar a retomada da economia. Muitos no mercado, sabendo deste ambiente político açodado, já vislumbram o câmbio acima de R$ 5, podendo chegar a R$ 5,30 ao fim do ano.
Num breve balanço, o principal fato do semestre, mais uma vez, foi o combate à pandemia, com as vacinações se intensificando, no Brasil, também com os vários “bodes colocados na sala”, na nossa leitura, pelo presidente Bolsonaro e suas intempestivas declarações e decisões. Em paralelo, a CPI da Covid avançou nas várias oitivas, desgastando ainda mais o governo. Pesa contra ele não ter se empenhado na compra de vacinas, muitas negociações atrasadas, e a defesa “estapafúrdia” da “imunização de rebanho” e do tratamento precoce, algo já abandonado no mundo.
Lá fora, os debates seguem sobre o timing exato nos EUA para o Fed começar a desmontar sua política de estímulos monetários, na compra de ativos, e na manutenção do juro em patamar baixo. A leitura de que a economia está retomando, mas em ritmo desigual, e que a inflação pode ser vista como “transitória”, reflexo da reabertura da economia e da falta de insumos em algumas cadeias produtivas, parece predominar. Mas até quando? Para o diretor do Fed de Richmond, Thomaz Barkin, a taxa de juros SÓ será elevada quando a economia estiver em “pleno emprego” e a inflação, um pouco acima de 2% de forma mais sustentada.
Na CPI da Covid, depois do anticlímax no comparecimento do empresário Carlos Wizard, que permaneceu calado, será a vez agora da convocação do deputado Ricardo Barros, um dos artífices da operação de compra superfaturada da Cavaxina Indiana. Deve comparecer também o ex-diretor de logística do ministério da Saúde, Roberto Dias, aquele que pediu US$ 1 por dose da AstraZeneca (NASDAQ:AZN) (SA:A1ZN34). Os dois irão depor na semana que vem, Roberto Dias no dia 07, Ricardo Barros no dia 8. Outros personagens, citado pelos irmãos Miranda, também devem comparecer nos próximos dias.
Ao fim da tarde de ontem, caiu como mais uma bomba o superpedido de impeachment contra o presidente Bolsonaro, com mais de 100 pedidos e 23 tipos de acusações protocoladas. Caberá agora ao presidente da Câmara, Arthur Lira, aceitar ou arquivar.
No front inflacionário, o mercado segue “digerindo” o reajuste de tarifa de energia definido agora para julho. Será de 52%, a R$ 9,49 a cada 100 kWh para a bandeira vermelha 2. Deveremos ter mais uma consulta pública de mais um reajuste, a R$ 11,50. São verdadeiros “tarifaços” em gestação, e a sociedade, como sempre, terá que arcar com isso. Decorrente, a inflação segue revisada. O IPCA deve fechar este ano acima de 6%, mas pode recuar a 3,7% no ano que vem, com a taxa Selic no mesmo patamar neste ano e no próximo, qual seja, em torno de 6%.
Pelos IGPs, interessante observar o forte recuo por estes dias. Isso se explica, claro, pela apreciação cambial em curso, mas também pela acomodação das commodities, não mais em trajetória explosiva. O IGP-M de junho veio a 0,6%, bem abaixo do registrado em maio (4,1%).
Falando da reforma tributária, a proposta inicial parece não ter agradado aos mercados. A taxação sobre lucros e dividendos terá que ser revista, podendo recuar de 20% para 15%, além do fim do juro sobre capital próprio.
Ontem foi dia de taxa de desemprego, ainda elevada, 14,7% da PEA no trimestre móvel entre fevereiro e abril. Nos EUA, saiu a geração de empregos do setor privado (ADP) de junho, 692 mil, acima do esperado, mas abaixo do registrado em maio (886 mil).
Aguardemos agora o payroll e a taxa de desemprego de junho na sexta-feira. A leitura do mercado americano é de que a economia do país deve trilhar o segundo semestre fortalecida, enquanto a Europa deve viver o grande temor com a variante Delta, o que pode provocar lockdowns em vários países.
Ainda no Brasil, saíram os dados fiscais de maio. O déficit primário foi a R$ 15,5 bilhões e a dívida bruta recuou um pouco, a 84,5% do PIB. Em ambos os casos, se observa nos gráficos abaixo uma reversão, puxada pela retomada da economia e da arrecadação federal.
Vamos conversando.