Por Clement Thibault
O Netflix (NASDAQ:NFLX), provedor global de vídeo por streaming, divulga seus resultados nesta segunda-feira (16/10) após o fechamento do mercado norte-americano. A expectativa é que o Netflix divulgue lucro sobre ação de US$ 0,32, com receita de US$ 2,97 bilhões.
1. Aumento de preços
Na quinta-feira, 5 de outubro, o Netflix anunciou que elevaria os preços para o streaming de vídeo nos EUA. A assinatura mensal para novos clientes foi aumentada em US$ 1, para US$ 10,99, enquanto o preço do plano premium – que permite até quatro acessos simultâneos – agora custa US$ 13.99, US$ 2 a mais do que antes.
A alta de preços não deveria ser uma surpresa. No último trimestre, nossa análise mostrou os gastos e a receita do Netflix e concluiu que:
“Netflix terá que aumentar os preços de seus serviços à frente”
Nós não estávamos errados, tanto em nossa previsão, quanto na importância deste reajuste. É uma necessidade.
Com cerca de US$ 15 bilhões em obrigações contratuais de conteúdo e apenas US$ 10,2 bilhões em receita nos últimos doze meses, simplesmente não teria como o Netflix manter seus preços por muito tempo.
A estratégia de precificação do Netflix parece ser uma variação do que é normalmente utilizado em uma abordagem de vendas, quase um pé na porta. A tática é simples, quase um clichê: fazer o cliente potencial se inscrever em um gasto maior após acertar um acordo mais barato. O preço inicial se dilui ao longo do tempo com um gasto mais alto no futuro.
A companhia também se apoia no tempo de experimentação gratuito, apesar que nesse caso, o teste não é verdadeiramente gratuito; é uma redução da assinatura no curto prazo. Assim que o consumidor experimenta o serviço e percebe quão bom ele é, ele ficará feliz em manter a assinatura com preço cheio. O produto da Netflix é muito interessante para a maioria das residências nos EUA, o que fez com que esses dois métodos se tornassem muito bem-sucedidos para a companhia.
Acreditamos que o efeito combinado é uma estratégia excelente para o Netflix. Um consumidor satisfeito pagando US$ 9,99 provavelmente permanecerá feliz desembolsando US$ 10,99. A maioria das pessoas vão ignorar o aumento ao dizer “é apenas mais um dólar por mês”. Poucos vão focar no aumento de 10% nos preços do serviço.
Ainda assim, aumentar preços é uma espada de dois gumes.
O preço da ação do Netflix permanece inteiramente dependente do acréscimo líquido de clientes durante o trimestre, tanto nos EUA, quanto no resto do mundo. No último trimestre, o Netflix adicionou 5,2 milhões de clientes em todo mundo, contra previsão de apenas 3,2 milhões, o que impulsionou o papel a uma alta de 13%.
O aumento de preços, contudo, não é a melhor forma de atrair novos clientes. Neste momento, o Netflix está provavelmente satisfeito com a sua participação nos EUA – com cerca de 44% das residências – e esperamos que o CEO Reed Hastings comece a dar menos valor ao crescimento no número de usuários durante a teleconferência com analistas depois do resultado de hoje à noite.
Em relação a futuros aumentos de preços, a alta recente não foi internacional, apesar de ser claro que também ocorrerá. O mercado doméstico dos EUA também deverá ter outro aumento em 2018. O passivo do balanço do Netflix de US$ 13 bilhões e as obrigações de US$ 15 bilhões com conteúdo pedem por isso.
2. Competição
Não é surpreendente que a competição está acirrada. Hulu, serviço de streaming sob demanda, que é uma joint venture entre Disney (NYSE:DIS), 21st Century Fox (NASDAQ:FOX), Comcast (NASDAQ:CMCSA) (via NBCUniversal) e Time Warner (NYSE:TWX) (via Turner Broadcasting) dos principais concorrentes do Netflix. Ele reduziu seu preço de entrada para novos clientes de US$ 7,99 para US$ 5,99. A Amazon (NASDAQ:AMZN) mantém seu preço em US$ 10,99 por enquanto, mas continua a oferecer gratuitamente o serviço com a contratação do Amazon Prime.
O aumento de preços do Netflix ao mesmo tempo que o Hulu reduz os seus cria uma placa de Petri perfeita para avaliar as preferências do consumidor. Quão sensíveis a preços são os consumidores de serviços de streaming.
Se o crescimento das assinaturas do Netflix não frear significativamente, ou encolher, e a base de clientes do Hulu não disparar, é razoável aceitar que o Netflix possui poder sobre o preço, algo de extrema importância tanto para o negócio quanto para os investidores. No entanto, se o reajuste afetar o crescimento de forma significativa ao mesmo tempo em que o Hulu mostrar uma forte alta nas assinaturas, vai ficar claro que o Netflix é vulnerável à competição.
A Amazon está acrescentando mais recursos ao seu catálogo, e, após o The Handmaid’s Tale do Hulu ter faturado o Emmy neste ano, o Hulu mostra que é um competidor sério na geração de conteúdo. A Apple (NASDAQ:AAPL) e o Facebook (NASDAQ:FB) também estão tentando entrar nesta área.
O Netflix gasta cerca de US$ 7 bilhões ao ano com conteúdo. A Amazon não está muito atrás, com US$ 6 bilhões. O Hulu despende US$ 2,5 bilhões em conteúdo, enquanto a Apple e o Facebook começaram a testar o mercado ao aplicar US$ 1 bilhão ao ano, cada.
Tudo isso explica ainda mais a necessidade do Netflix em aumentar seus preços ainda mais. Sem a receita nova de assinaturas a companhia não será capaz de cumprir com suas obrigações, sem mencionar sua obrigação com acionistas. Desde o início, o Netflix apostou que gastos significativos o separarão do bolo e permitir que aumente gradativamente os preços. Estamos esperando para ver o que o futuro traz: seja prova de poder de preços ou sinais de grandes, grandes problemas à frente.
O preço da ação do Netflix tocando nos US$ 200 mostra que Wall Street segue otimista sobre o futuro da companhia. Como mencionamos no último post sobre a companhia, demorará ao menos dois anos para, ao menos, justificar o patamar de preços atuais.
Se o número de assinaturas alcançar ou superar o objetivo, o Netflix poderá ser bom para um lucro rápido, mas não vemos agora como um bom momento para comprar de olho no longo prazo.