Chegamos nesta sexta-feira (30) ao fim do primeiro quadrimestre do ano, 14º mês de pandemia, e é importante um balanço, breve que seja, sobre o que aconteceu nesta última semana e no mês de abril como um todo (estaremos fazendo um artigo especial, neste fim de semana, traçando um cenário mais detalhado sobre o que enxergamos para maio e o restante do ano).
Basicamente, o que tivemos em abril foram “batalhas bem intensas” sobre a discussão do Orçamento deste ano, atrasado em quatro meses, a abertura da CPI da Covid, mais um lapso, dentre tantos, deste governo, e a pandemia, com as mortes chegando a 400 mil no acumulado, mais um mês de recorde, superando o anterior.
Sobre o Orçamento, depois de muitos avanços e recuos, acabou sancionado no dia 15, com o presidente vetando R$ 29 bilhões em despesas e emendas, mas, inevitável, gerando um grande desgaste entre os membros da equipe econômica, com vários saindo, destaque para o “número dois”, Waldery Rodrigues. Agora, o governo deve ir “executando” este orçamento, ajustando, ao logo do ano, onde cortar para o pagamento das despesas obrigatórias.
Falando da CPI da Covid, os trabalhos tiveram início nesta semana, sob a relatoria do senador por Alagoas, Renan Calheiros, mas muitos embates foram observados, com alguns querendo dar um caráter mais técnico, e outros, “faturar politicamente”.
De fato, a CPI deve mobilizar as atenções, pois o presidente, e o ministério da Saúde, erraram sim, ao negar encomendas de algumas vacinas, sempre na contramão do que deveria ser feito. Negou também a urgência da necessidade de uma campanha de conscientização, o uso de máscaras, álcool gel, isolamento social, quarentena, quando inevitáveis os picos de mortes.
Claro que o governo se exime de parte da responsabilidade, afirmando que o STF deu aos estados a devida autonomia para gerenciar a crise, o uso de recursos a estes entes não faltaram, mas é fato também a postura sempre errada do presidente, nestes 14 meses de pandemia, sempre negando a realidade dos fatos, sempre “batendo boca” com todos. O momento era de união, coordenação, organização. Nada disso foi possível.
Tivemos alguns indicadores econômicos mais promissores, mas inevitável um “freio de arrumação” na atividade entre março e abril, já que a economia perdeu força, dadas as vacinas em atraso, levando a inevitáveis lockdown, e o clima político açodado. A inflação ao consumidor cedeu um pouco agora em abril, com o IPCA-15 a 0,6%, mas o IGP-M foi a 1,51%, acima do esperado.
No governo central, uma boa notícia foi o superávit primário de R$ 2,1 bilhões do governo central, melhor resultado para o mês desde 2014. No mercado de trabalho, o Caged mostrou a geração de 184,1 mil vagas formais em março, bem melhor do que o ocorrido no mesmo mês do ano passado (fechamento de 276,3 mil vagas, decorrentes do início da pandemia).
Foi um mês também em que o governo realizou concessões de diversos aeroportos de segunda linha pelo Brasil, estradas de ferro, portos e rodovias. Nesta sexta a expectativa se volta para o leilão de concessão da CEDAE, empresa de saneamento do Rio de Janeiro, podendo a outorga chegar a R$ 10,6 bilhões, numa intensa disputa entre 12 candidatos. Importante salientar, no entanto, que não se tem tanta certeza da sua realização, dados os movimentos contrários da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e de sindicatos, ligados aos servidores da empresa.
Nos EUA, o governo Joe Biden mostrou a que veio. Passados 100 dias da sua posse são impressionantes os seus feitos. Iniciou uma maciça campanha de vacinação pelo país prometendo imunizar a todos os adultos até maio deste ano, anunciou uma série de pacotes fiscais robustos, o último, nesta semana, para a área de educação, no total de R$ 1,8 trilhão. Antes, tivemos um pacote de infraestrutura de US$ 1,9 trilhão e um mais amplo, para as áreas ambiental, social, alternativas energéticas, dentre tantas, no total de US$ 2,25 trilhões.
Mas claro que na economia não existe “free lunch”. Alguém terá que pagar.
No seu discurso no Congresso na quarta-feira à noite, Biden falou “em impostos para quem fatura mais de US$ 1 milhão de ganhos de capital por ano e mais de US$ 400 mil.”
Segundo ele, as empresas terão que pagar, sendo muitas, com impostos reduzidos, não pagaram na gestão Trump. O corte de impostos de 2017 (Trump) elevou o déficit público em US$ 2 trilhões e “colocou bilhões no bolso de CEOs; na pandemia, 650 bilionários elevaram suas rendas em total de US$ 1 trilhão.”
Destacou também, “que o salário mínimo será elevado para US$ 15 por hora e que, com o apoio do Congresso, pode conceder crédito tributário a famílias, em medida que contemplaria até 65 milhões de crianças”.
Na opinião de muitos, o ativismo fiscal do presidente Biden surpreendeu, num discurso e decisões bem “progressista”, para muitos, “algo excessivo”. Como já dissemos, a contraposição a isso será um aumento da carga de impostos. Vejamos como a economia real deve reagir.
Foi uma semana também de reunião de Fomc e do presidente Jerome Powell pregando pela manutenção da “política acomodatícia”, sem expectativa imediata de elevação do juro, atualmente em 0,25% ao ano e o desmonte da política de compra de ativos (QE). Já o PIB do 1º trimestre nos EUA veio em linha com o esperado, crescendo 6,4%. Achamos que o crescimento da economia norte-americana deve se manter neste patamar, em torno de 6%, dados os pacotes de estímulo e a comparação estatística, depois de um ano de retração.
Na agenda desta sexta-feira (30), a divulgação da taxa de desemprego brasileira no trimestre até fevereiro. No exterior, s dados do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e da prévia da inflação ao consumidor de abril da zona do euro, além do índice inflacionário PCE nos Estados Unidos.