Publicado originalmente em inglês em 16/08/2021
Os formuladores da política monetária do Federal Reserve estão acelerando seu cronograma de retirada do estímulo monetário, o chamado tapering. Até a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, conhecida por ser mais flexível nesse aspecto, afirma que o banco central americano pode começar a reduzir suas compras de ativos antes do fim do ano.
“Eu acredito que já podemos falar em redução de estímulo no fim deste ano ou início do ano que vem”, declarou Daly em uma entrevista ao Financial Times.
Daly citou o vigor cada vez maior da retomada econômica nos EUA, já que a criação de 943.000 postos de trabalho em julho cortou a taxa de desemprego de 5,9% para 5,4%.
Isso não é uma surpresa, já que economistas – e o Sistema do Federal Reserve tem centenas deles – vêm prevendo uma robusta recuperação há meses. Contudo, membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) andam pisando em ovos, pois o presidente do Fed, Jerome Powell, insistiu que ainda era necessário um progresso muito maior antes de começarem a falar em tapering, ou redução de estímulo.
Crescem preocupações com a inflação
O mais provável é que haja uma mudança na atual política, devido à preocupação cada vez maior com a inflação, que mostra poucos sinais de arrefecimento. O índice de preços ao consumidor registrou alta ano a ano de 5,4% em julho, um pouco acima do aumento de 5,3% esperado e igual ao crescimento de 5,4% de junho.
Um levantamento feito pela Fox News, na semana passada, mostrou que 86% dos eleitores pesquisados estão preocupados com a inflação, sendo que a maioria culpa a pandemia de Covid-19, mas quase 79% também culpam as políticas do governo.
A presidente do Fed de Kansas, Esther George, conhecida por ser rígida com a política monetária no Fomc, também ressaltou que a recuperação do mercado de trabalho e as firmes expectativas de inflação atendiam aos objetivos do Fed de começar a retirar o estímulo.
“Eu defendo o encerramento das compras de ativos nessa condições”, declarou em um pronunciamento na semana passada à Associação Nacional de Economia Empresarial.
Robert Kaplan, presidente do Fed de Dallas, afirmou, na semana passada, que os formuladores da política monetária devem anunciar a redução das compras de ativos em setembro e iniciá-la em outubro. Em uma recente entrevista televisiva, Kaplan salientou:
“A razão que me leva a dizer que devemos começar a fazer o tapering em breve é que essas compras são boas para estimular a demanda, mas não temos um problema de demanda na economia. Prefiro tirar o pé do acelerador em breve e reduzir as RPMs”
O tapering pode levar oito meses, declarou Kaplan, e deve ser separado de qualquer decisão de elevar as taxas de juros.
Objetivos do Fomc quase atingidos; outros bancos centrais começam a elevar juros
O chefe do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, declarou que a atual taxa de inflação atendia aos objetivos do Fed de fazê-la ficar em 2%. De acordo com seus cálculos, a média mais suave do núcleo do gasto com consumo pessoal havia atingido 2% em maio.
Thomas Barkin e Eric Rosengren, chefes dos bancos regionais do Fed em Richmond e Boston, respectivamente, fizeram avaliações similares na semana passada, ecoando os comentários feitos na semana anterior por dois membros do conselho de governadores em Washington, Richard Clarida e Christopher Waller.
Para resumir a história: os objetivos vagos e ambíguos que o Fed vem buscando estão bem próximos de serem atingidos.
Outros bancos centrais são mais decisivos que o Fed. O Reserve Bank da Austrália disse que seguiria em frente com seu plano de iniciar a redução de compras de ativos no próximo mês, apesar de novos lockdowns em Sidney e Melbourne, devido a uma nova onda de infecções por Covid-19.
O governador do RBA, Philip Lowe, disse que os bloqueios iriam reduzir o crescimento, mas sua expectativa era que haja uma retomada econômica assim que os novos surtos forem contidos.
O Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra manteve sua taxa de juros a 0,1%, mas afirmou que uma alta modesta pode ocorrer já no próximo ano, com o avanço do crescimento e aquecimento da inflação. A previsão de crescimento foi de 8% neste ano, uma alta em relação à previsão de 7,25% em maio, e os analistas afirmam que as elevações de juros podem ocorrer já na próxima primavera local.