Na análise macroeconômica keynesiana, o “espírito animal” dos empresários é essencial para despertá-los a assumir riscos na decisão de investimentos em novas plantas (na ampliação da capacidade produtiva). Diante da perspectiva de um retorno de capital atrativo, acima do seu custo, e uma demanda crescente, dentre outros vários fatores, os empresários acabam optando por novos aportes de capital.
Este processo de “tomada de decisões cruciais”, no entanto, só é possível quando se inclui mais uma variável, as expectativas futuras. Ou seja, o empresário precisa ter um horizonte de planejamento sem grandes nebulosidades, com mais certezas do que dúvidas, sobre o que acontecerá com a economia nos próximos meses ou anos, para voltar a investir.
Quanto maior a incerteza maior a tendência deste empresário em optar por ativos mais líquidos e imediatos, encontráveis, muitas vezes, no mercado financeiro, ou por entesourar recursos, adiando os investimentos na produção. Como investir se não se sabe, com uma margem razoável de segurança, como se comportará a demanda?
Além disto, para investir é necessário um ambiente de negócios favorável, pouca burocracia, um governo “neutro” agindo com transparência e eficiência, baixos custos de produção, externalidades positivas, estradas escoando a produção, carga fiscal suportável, etc. Enfim, são tantas as pré-condições, ou fatores, que detonam este processo de investimentos, que, olhando para o Brasil, fica difícil visualizar algo parecido.
Claro que a Presidente Dilma vem se esforçando neste intento. Nas últimas semanas chamou vários empresários para conversar, dando a eles garantias de retorno para investimentos.
Este, aliás, é outro ponto importante. O setor privado só assume riscos em alguns investimentos, como infraestrutura, por exemplo, se houver garantias para os projetos. Se não, nada feito. Isto pode ser visto, inclusive, com as estranhas parcerias na concessão de aeroportos. O governo até abriria espaço ao setor privado, mas desde que a Infraero entrasse com 49% de participação na composição do capital. Ou seja, o governo não alocaria recursos, mas teria metade da sociedade. Sabendo-se que boa parte do caos aéreo que vivemos foi gerado pela baixa capacidade de gestão e geração de investimentos do governo, daí pode-se compreender o desinteresse dos grandes grupos aeroportuários internacionais nesta parceria.
Dito tudo isto, como visualizar uma retomada do crescimento em 2013, dado que os investimentos continuam retraídos e a inflação volta a ameaçar?
Na análise do PIB do terceiro trimestre de 2012, com crescimento fraco de 0,6%, os investimentos, ou seja, a Formação Bruta do Capital Fixo registraram, pelo quinto trimestre seguido, taxas negativas, devendo ainda se repetir no último trimestre de 2012. Com muito boa vontade, teremos fechado o ano passado com crescimento ao redor de 1,0%, impulsionado pelas medidas pontuais do governo, estimulando o consumo das famílias, além da maior oferta de crédito, manutenção do emprego e renda e taxa de juros no menor patamar da história (7,25%). Mas terá sido isto suficiente para crescermos acima de 4% e com inflação controlada?
Segundo a CNI, até a capacidade instalada vem se mantendo baixa, em torno de 81%, o que permitiria expansão da produção, atendendo a uma demanda crescente sem maiores pressões inflacionárias, mas aí caímos em outras “armadilhas”.
A inflação, pelo IPCA, mostrou recrudescimento em 2012, registrando 5,8%, por uma variedade de fatores conjunturais, como choques agrícolas, assim como estruturais, na alta dos serviços, pela escassez de mão de obra. Nos primeiros, uma forte estiagem no Hemisfério Norte entre junho e outubro do ano passado acabou impactando nos preços dos alimentos, que chegaram a 9,8% no ano passado. Em 2010 estes registraram alta de 8,1% e em 2011 outros 9,9%. Nos serviços, um mercado de trabalho aquecido, além do reajuste do salário mínimo em 14% no início do ano passado, acabou impactando nos preços do setor, em alta de 8,7%. Isto pode ser visto pelo gráfico a seguir, na trajetória dos preços dos Serviços e dos Bens Não Duráveis, entre 8% e 9%. Os preços dos Bens Duráveis fecharam no negativo em 3,4%, devido à isenção de IPI para automóveis, linha branca e construção civil ao longo do ano.
Sendo assim, a inflação é um fantasma a ser combatido em 2013. Espero que o governo esteja atento a isto.