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Aumento no consumo de picanha

Publicado 04.08.2023, 08:05
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Nos últimos doze meses, o preço da picanha caiu 6,9% no varejo, segundo dados do último IPCA-15, de julho.

Embora o corte tenha sido prometido em campanha, promessa que foi sendo ajustada para carnes menos nobres ao longo do pleito, o incremento atual do consumo de carne bovina tem a ver com o ciclo pecuário, que abordamos outras vezes nesta seção. 

A figura 1 mostra as variações de outros cortes, entre julho de 2022 e julho de 2023.

Fonte: IBGE (IPCA-15) / Elaboração: HN AGRO
Figura 1. Variação de preços no varejo em 12 meses. 

Essa queda de preços da picanha, também observada para os outros cortes, é resultado de uma maior oferta de vacas e novilhas para abate, gerada pela redução da rentabilidade da cria, após as quedas de preços do bezerro nos últimos anos. 

E por que o bezerro caiu? Pelos investimentos fortes ocorridos entre 2019 e 2021, influenciados pelo otimismo com a atividade e preços em alta à época. O desânimo atual com a cria vai deixar o churrasco mais caro nos próximos anos.

De janeiro a junho de 2023, segundo dados parciais do MAPA, o abate de bovinos aumentou 8,9% na comparação com o mesmo intervalo de 2022. Com isso, a produção de carne aumentou e, como as exportações cederam 4,9% no mesmo intervalo, houve aumento de 14,4% na disponibilidade interna de carne bovina. 

A disponibilidade interna é uma forma de avaliar o consumo. O que apresentamos aqui é um cálculo com as principais variáveis (produção e exportações de carne in natura). 

Não consideramos importações e outros tipos de carnes exportadas (salgada e industrializada), pelo peso menor e o objetivo desta análise, de demonstrar a tendência. Outra variável que pode ser incluída, é a informalidade dos abates, mas aqui usamos os abates formais (SIF, SIE e SIM), estimados até junho com base nos dados preliminares do SIF.

Com as ponderações metodológicas acima, tivemos um aumento de 8,2% na produção de carne e de 14,4% na disponibilidade interna. O aumento menor da produção de carne (estimada com dados preliminares) em relação aos abates (8,9%), se deve ao peso médio menor das carcaças, uma vez que mais fêmeas compõem os abates este ano, e essas são mais leves.

Com isso, embora não estejamos observando um consumo forte, do ponto de vista de pagamento pelo consumidor, de bolso, a queda de preços tem permitido o escoamento de um volume maior de carne, ainda que mais barata.

É o efeito da elasticidade-preço da demanda por carne bovina. Assim como o consumo aumenta, à medida que a renda aumenta - até certa faixa de renda, depois o peso da alimentação se torna pequeno no orçamento e o efeito se perde - com a chamada elasticidade renda da demanda, quando o preço cede, o consumo melhora. 

Consumo de carne e preço do bezerro

Boa parte do aumento da oferta de carne nos anos preços em baixa é decorrente do descarte de vacas e novilhas, pelos preços do bezerro, como citado. Então, na prática, anos de descarte tendem a ser de maior disponibilidade interna, porque mais carne é produzida, preços caem, efeito de elasticidade-preço da demanda, e por aí vai. 

Veja a figura 2, que mostra a participação de fêmeas nos abates nos doze meses anteriores e a disponibilidade interna per capita, também nos doze meses que antecedem a data de referência.

Fonte: IBGE / MAPA / HN AGRO
Figura 2. Disponibilidade interna per capita nos doze meses anteriores e % de fêmeas nos abates, no mesmo período.

Perceba a relação de oferta de vacas e novilhas com disponibilidade interna de carne. Evoluindo no raciocínio, se o que gera o abate de fêmeas é o desinvestimento na cria, influenciado pelo preço do bezerro, observe na figura 3 a cotação média do bezerro nos doze meses anteriores, em valores deflacionados pelo IGP-DI, e a mesma disponibilidade interna (per capita, 12 meses anteriores) apresentada antes.

Fonte: FGV / CEPEA / IBGE / MAPA / HN AGRO
Figura 3. Disponibilidade interna per capita nos doze meses anteriores e preço do bezerro em São Paulo, valores reais, média móvel de 12 meses.

Nas épocas em que o criador está com as menores margens, o pessoal na cidade está comendo mais carne.

Considerações

O aumento da oferta desde 2022 pressionou as cotações do boi gordo, atacado e, em menor nível, o varejo tem repassado as baixas. 

Nos níveis de preços do primeiro semestre, a disponibilidade interna aumentou. No acumulado dos doze meses terminados em junho, a disponibilidade per capita aumentou 7,4% em relação aos doze meses terminados em junho de 2022 (figura 4).

Fonte: IBGE / MAPA / HN AGRO
Figura 4. Variação da disponibilidade interna per capita em doze meses, em relação ao mesmo período do ano anterior.

Os níveis de preços dos últimos meses permitiram que mais carne fosse escoada no mercado doméstico. Ou seja, se houver melhoria do poder de compra no segundo semestre e uma competição maior com a carne exportada, é possível que essa precificação ao longo da cadeia possa trabalhar um pouco mais positiva.

Vamos acompanhar.

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