Atribuir a apreciação do preço da moeda americana às pesquisas eleitorais é artifício para especulador e no fundo encobre a realidade do país afastando-a do debate mais focado no confronto político.
Da mesma forma, atribuir a alta a ausência do BC com oferta mais intensa intervindo com swaps cambiais é acreditar que estes instrumentos financeiros são solução para todas as mazelas que afligem o mercado de câmbio a partir do quadro adverso que enfrenta no setor externo.
O que menos interessa ao governo neste momento é estabelecer um forte embate para conter a apreciação da moeda americana colocando o tema no centro das discussões políticas.
Swaps cambiais não mitigam movimentos de apreciação de alta do preço da moeda americana quando a busca por “hedge” esta atendida com o volume de US$ 95,0 Bi “em ser” presente no mercado.
No momento este instrumento de intervenção perdeu eficácia e o BC denota ter consciência por isso não realizou o enfrentamento esperado pelo mercado se mantendo até então inerte ante a forte apreciação do dólar.
É bastante provável que existam no mercado futuro posições compradas especulativas que ajudem a impulsionar a pressão de alta do dólar que também advém da demanda sobre o mercado à vista.
Focando este movimento especulativo centrado no mercado futuro que vem impulsionando adicionalmente a apreciação da moeda americana, num contexto favorável para que isto ocorra face à valorização da moeda americana no mercado global é que a autoridade monetária decidiu elevar o montante de oferta de contratos de swaps para que a rolagem da posição vincenda no dia 1º de outubro ocorra pelo seu valor total de US$ 6,68 bi.
Esta atitude não envolve uma oferta nova de swaps em volume para enfrentamento, mas serve para quebrar a inércia aparentemente intencional do BC para não dar destaque à forte apreciação do dólar com fundamentos e colocar o tema no centro do debate político. A decisão envolve somente a complementariedade da rolagem da posição vincenda em 1º de outubro e agregará oferta de US$ 1,88 bi que não estava previsto ser rolado.
Mas, inquestionavelmente, não tem o objetivo de ofertar mais “hedge”, até porque é muito improvável que haja interesse para esta finalidade com o preço em R$ 2,41. O foco é tentar interferir no movimento especulativo que ocorre a partir do mercado futuro que adiciona pressão no mercado à vista que também tem demanda de recursos que estão deixando o país.
E, há pressão também no mercado à vista. A situação macroeconômica do país não sugere a continuidade dos recursos especulativos que adentraram o país ao inicio do ano, mas também inibe o ingresso de IED´s por razões prudenciais dos investidores em conta de capital, que certamente preferem aguardar para ver quais são os planos do governo que assumir para tirar o país deste quadro incômodo de baixo crescimento, inflação alta, política fiscal deteriorada e risco efetivo de perda de nota de crédito soberano.
À margem disto, mas não menos importante há a perspectiva de que o FED venha a adotar mudanças na sua política monetária até antes do previsto, e assim o “retorno à base” dos capitais, em especial os forjados em operações em “carry trade”, tende a antecipar-se ao fato e ocorrer com antecipação, até porque eventual elevação do juro americano pode afetar a estrutura de custo das operações em sua estratégia.
A forte valorização do dólar no mercado internacional emite sinais de alerta e poderá precipitar decisões do FED em relação à sua política monetária, e este é um tema novo no farol de observações e que deve motivar movimentos reversivos de recursos em poder dos emergentes.
A questão cambial no Brasil é passível de readequação no médio/longo prazo na ponta final antecedida da necessidade de inúmeros acertos do novo governo, que recoloquem o país no foco dos investidores estrangeiros, em especial na conta capital, restabelecendo fluxos positivos consistentes que permitam o desmonte da extraordinária intervenção praticada no mercado pelo BC para ancorar a credibilidade da moeda nacional.
A utilização deste fator político para justificar a apreciação do dólar tem puramente o objetivo de ancorar especulação e não colocar os fundamentos do movimento no centro da discussão política neste momento.
Tudo sugere que possa ocorrer volatilidade, mas não se pode esperar que o preço da moeda americana “derreta” no nosso mercado, pois há fundamentos internos e externos que sancionam a alta e, no nosso entender, os instrumentos financeiros “swaps cambiais” tem neste momento baixa capacidade de interferir na formação do preço.
Não nos parece que o BC tenha a disposição de ensejar um embate forte contra a apreciação do dólar dada a proximidade do evento eleitoral, pois o tema certamente viria para o centro do debate.