Após um longo período de afastamento do mercado brasileiro, investidores estrangeiros deram sinais de “operação retorno” com seus investimentos direcionados a Bovespa, de vez que inexiste qualquer atratividade em renda fixa, mas com comportamento pontual focando as “blue chips” e com isto promoveram uma forte revisão dos portfólios e que assim promoveu, num curto espaço de tempo, recuperação de preços em papéis que haviam tido seus preços deprimidos, e isto sustentou a valorização do índice.
Naturalmente, o foco é extremamente seletivo em determinados papéis que revelam importância consistente na economia brasileira, portanto sem homogeneidade, e determinado pela extraordinária liquidez no mercado internacional que estava “empoçada” e que, com a perspectiva de mudança de diretrizes no novo governo americano a partir de janeiro de 2021, que reduziu a aversão ao risco em busca de rentabilidade, mais os avanços no campo das vacinas contra o coronavírus e que com isto ocasionou forte fragilização da moeda americana frente às demais moedas, com ênfase as moedas vinculadas a países emergentes exportadores de commodities.
Esta nova realidade promoveu o “desarme” do preço induzido como “câmbio alto” fortemente estimulado pelo Ministro da Economia como estratégia básica para tornar o país barato e atraente ao capital externo, sem sucesso, e que causou forte impacto inflacionário na economia do país e um profundo desequilíbrio entre juro praticado, inflação apurada que até certo momento foi disfarçada como “temporária” e que “explodiu” o IGP-M que reajusta serviços e contratos comerciais, e que está colocando sob pressão a contra ponta do câmbio alto que é o “juro baixo”.
Neste quadro conturbado, repleto de dicotomias, o país convive com seríssima crise fiscal, sem que consiga transformar em realidades materializadas propostas retóricas de reformas imprescindíveis para o país sair deste “corner” que lhe deixa incapaz de iniciativas quaisquer que sejam que envolvam dispêndios, e, até mesmo impôs a determinação do término dos programas assistenciais estabelecidos ao longo da pandemia, que terá certamente forte impacto de retração do consumo, já que injetaram R$ 250,0 Bi na economia, a partir deste final do ano.
Há o risco efetivo da miséria da população se agravar, assim como o contingente de desempregados e desalentados, face ao término dos programas assistenciais, mas que, em perspectiva, ainda deixam como preocupação presente a forte evidência da ocorrência de um segundo ciclo da pandemia, com a retomada preocupante de dados que indicam que a pandemia está se recompondo de forma mais forte que esperado e, certamente, vai causar impactos nas atividades do país, sem que haja um alinhamento rápido, concreto e não conflituoso da disseminação das vacinas à população.
Então, o país “convive” com a intensa tendência de rompimento do teto orçamentário, digamos figurativamente “assustado” com qualquer menção de fato ou atitude que suscite este risco, e bastou uma nova “ameaça” deste risco se tornar efetivo, e o mercado financeiro, com ênfase a Bovespa sinalizar que houve um “hiato” de observação, e que certamente, se fosse tornado efetivo risco já teria promovido movimento reversivo do contexto positivo que se presencia neste momento.
Então, nestes eventos impactantes conspirando contra a convicção de que o governo não romperá o teto orçamentário verifica-se que pelo comportamento da Bovespa, fica evidente que há probabilidade de haver movimento reversivo de humor por parte dos investidores estrangeiros, com grande probabilidade de ocorrer movimento intenso de saída dos mesmos.
Fica evidente que o investidor estrangeiro está interessado em aproveitar nichos de oportunidades de ganhos no mercado de ações, mas está muito centrado e arredio ao risco fiscal, estando receoso e precavido.
O dólar segue fragilizando-se frente às demais moedas, mas aqui tem um “pouco mais de gordura” para queimar, pois havia muitos posicionamentos defensivos anteriores às eleições americanas que perdem os fatores determinantes e há o retorno ainda discreto dos investidores estrangeiros à Bolsa, mesmo que sabidamente se tenha conhecimento que haverá a demanda dos bancos para ajustar o “overhedge” da ordem de US$ 16,0 Bi até o final do mês, que também tem sido atenuado com a oferta diária complementar de 4.000 contratos de swaps novos, que é eficaz para conter as expectativas.
Afora o contexto externo que deprime fortemente o dólar frente ao real, especificamente, há forte motivação para desarme de posições especulativas no mercado futuro que apostavam contra o real em perspectiva e que agora foram atenuadas e acabam turbinando a propensão de queda do preço do dólar.
Este ambiente acaba por impor depreciação além do esperado do dólar frente ao real, sugerindo inclusive que precocemente às expectativas atinja o preço de R$ 5,00 ou abaixo, mas é preciso considerar que o risco fiscal combinado com o risco de rompimento do teto orçamentário é ameaça potencial de reversão forte e imediata, pois poderia ocorrer com intensidade intempestiva, pois os ingressos ocorrem lentamente, mas as saídas podem ocorrer em efeito “manada”.
Este quadro a partir da Bovespa e do preço do dólar acaba irradiando um positivismo que encobre a permanência da grandiosidade de problemas que afetam o país e que estão carentes de ações efetivas, e, considerando que os aspectos políticos tem sido fator de grande parte dos entraves aos avanços, não se podem descartar os acirramentos que deverão prevalecer até fevereiro quando haverá a sucessão dos atuais titulares da Câmara e Senado Federal.
Não se pode deixar de reconhecer previdentemente que há uma “nebulosidade” na visão prospectiva a respeito do comportamento da atividade econômica do país, e para tanto, contribuem a questão fiscal e a retomada do agravamento da pandemia do coronavírus.