O tão esperado lançamento da mainned da rede EOS que foi inicialmente agendado para o dia 2 de junho e depois transferido para o dia 10 de junho, foi oficialmente interrompido, deixando os tokens do EOS no limbo. A moeda alternativa criada pela Block.one, uma empresa com sede nas Ilhas Cayman e lançada em meados de 2017, atualmente existe na plataforma Ethereum; o lançamento permitirá mudar para sua própria rede principal.
O atraso, descrito por muitos como caótico, é um resultado da complexidade do processo que requer que os detentores de tokens votem para eleger 21 produtores de blocos EOS (BPs) que essencialmente minerariam a moeda. Mas o processo de votação requer um mínimo de 15% dos eleitores antes que qualquer coisa possa avançar. Atualmente apenas 9,9% dos titulares de contas EOS votaram.
Embora o Block.one tenha disponibilizado a versão 1.0 do software EOS, lançando tecnicamente a mainnet, sem a aprovação de 15% das partes interessadas, o EOS não está oficialmente ativo, deixando a moeda alternativa vulnerável a ataques. Os tokens do EOS estão agora congelados, à medida que a votação continua.
A moeda digital é atualmente a quinta maior criptomoeda por valor de mercado. Seu preço despencou na semana passada. Abaixo de 24,79% no momento em que escrevo esse artigo.
Vulnerável e aberta ao ataque
Ao transitar por blockchains, há vários riscos de segurança em jogo. Nesse caso específico, um risco crítico é o baixo número de produtores de blocos (21), o que poderia abrir caminho para um ataque. Embora os riscos de segurança do node não sejam exclusivos do EOS, quando um sistema possui apenas 21 nodes centralizados, a rede é, por sua própria natureza, mais suscetível à manipulação. Brendan Playford, diretor-presidente da Constellation, aponta que o modelo do EOS sacrifica o sonho da descentralização quanto a escalabilidade.
O pequeno número de produtores é uma preocupação flagrante. "Entendo de várias fontes que o plano principal era que 21 produtores de blocos seriam nomeados", disse Roni Baibochaev, fundador da CryptoXchange. Isso é altamente arriscado, explica, e aumenta a possibilidade de um ataque em 51%. Ele disse, "faz sentido minimizar o risco de ter muitos BPs que podem diminuir a escalabilidade. A equipe do EOS mais cedo ou mais tarde terá que decidir se vale a pena o risco".
Contudo, Baibochaev não considera nada disso como profundamente enraizado ou insolúvel:
“A questão principal é se os desafios que o EOS está enfrentando agora são temporários e se podem ser evitados para que não sejam duradouros. É verdade que o lançamento da rede principal não foi conforme o planejado. Por isso, o EOS deve se certificar de que atingirá seus objetivos em uma perspectiva de longo prazo”.
Falta de transparência aumenta a complexidade
Estefano Elhawary, co-fundador da Block Stocks, vê riscos adicionais, alguns deles relacionados com a falta de transparência, em vez de questões tecnológicas que acompanham blockchains em trânsito, neste caso o EOS migrando da Ethereum. Como um número tão pequeno de detentores de EOS votou até agora por produtores de blocos, a Elhawary considera isso como uma falha por parte do EOS em não enfatizar a importância do voto, o que teria proporcionado uma melhor experiência ao usuário.
“O problema é que envolve um grande esforço para educar: de explicar porque o EOS está atualmente na cadeia da Ethereum, mas mudando para uma nova, para mostrar aos usuários como registrar seus novos tokens (através de diversos canais diferentes), para integrar com as trocas para ser capaz de suportar a troca, fazer com que os usuários interajam na nova cadeia, etc. É muita informação para digerir e comunicar em um tópico bastante complexo”.
Isso faz você pensar como o EOS conseguiu levantar US$ 4 bilhões em seu ICO, observa Elhawary, mas eles não conseguiram um orçamento de US$ 10-100 mil para facilitar o voto das partes interessadas.
Aprendendo com as falhas do passado
A indústria cripto já observou muitas grandes iniciativas falharem no início, disse Mati Greenspan, analista sênior de mercado da eToro, muitas vezes devido a falhas fatais de segurança. Isso inclui a primeira oferta inicial de moedas, conhecida como o projeto DAO, que levantou US$ 150 milhões. Entretanto, em meados de 2016, um hacker descobriu uma brecha no código, permitindo desviar cerca de US$ 70 milhões em ethereum, que na época somava 3,6 milhões de tokens.
“O EOS é um pouco mais centralizada, tanto em distribuição simbólica quanto em governança”, destaca Greenspan, “e é muito bem financiada. Tudo isso deve ajudar a equipe a promover um lançamento estável eventualmente. Como investidor, não me preocupo com qualquer atraso de curto prazo e entendo que eles estão fazendo o melhor para que esse grande projeto seja executado da melhor maneira possível”.
Greenspan compara o atraso do EOS com um avião que está prestes a decolar.
"Imagine que você está dentro de um avião antes da decolagem e o capitão entra no sistema de som para informá-lo de que está ocorrendo dificuldades técnicas. A reação da maioria dos passageiros racionais é realmente de alívio, uma vez que é claro que os profissionais identificaram o problema e não decolarão sem estar absolutamente certo de que a falha foi reparada. Nesse caso, os passageiros estão sendo solicitados a votar em quem deve ser o piloto e a tripulação em um novo sistema de alta tecnologia que não é fácil de usar e nem é comprovadamente seguro. Portanto, o processo de votação pode levar também algum tempo adicional para funcionar”.
Nicolas Gilot, co-diretor-presidente da plataforma de distribuição de jogos baseada no blockchain Ultra, concorda que há aspectos positivos, apesar do Block.one enfrentar dificuldades com o lançamento do EOS. Ao contrário de muitos, ele elogia o desenvolvedor do protocolo blockchain de código-fonte aberto, chamando seu tratamento do EOS de "refrescante e promissor" porque a comunicação entre as cadeias poderia ser uma grande melhoria para a escalabilidade. De acordo com Gilot, o fato do EOS ter 21 produtores de blocos é parte do que torna esse blockchain único.