Os motivos que têm trazido inquietação contínua ao mercado financeiro e em especial ao segmento câmbio continuaram prevalecendo ontem sem quaisquer alterações que pudessem sugerir mudanças bruscas de comportamento, ainda mais envolvendo apreciação do real frente ao dólar.
O dólar iniciou o dia em forte alta no exterior contra quase todas as moedas, afinal o inicio do programa europeu de liquidez está estimulando a venda de euros e compra de dólares para compra de T-Bills do FED americano.
E o nosso real que está fragilizado e não ancorado em fundamentos, mas sim em reações mais emocionais de momento do que racionais, seguiu a tendência e foi a R$ 3,17 logo na largada.
Enquanto o mercado procurava alinhar-se com o novo patamar exorbitante, eis que a moeda nacional entra em forte processo de apreciação contrariando os fatores externos e internos.
Causa?
Aparentemente há no mercado futuro de dólar a presença fortalecida de demandadores de proteção efetiva e há uma parcela oportunista de especuladores apostando no pior consubstanciado no quadro ainda amplamente deteriorado da política econômica e fiscal do país, que tem as medidas adotadas ainda com baixa credibilidade de alcance de resultados e as demais dependentes de aprovação política com claros sinais de dificuldades de superação dos obstáculos colocados pela própria base de apoio político do governo.
O BC neste cenário complexo em torno do dólar ainda agregou mais dúvidas ao insinuar ao inicio do mês a não rolagem total da posição vincenda de swaps cambiais no mês, o que criou um foco especulativo sobre a efetividade desta decisão. Tendo rolado tão somente 22% da posição vincenda de pouco menos do que US$ 10,0 Bi, está aberta a possibilidade de uma oferta de 78% até o final do mês que se levada à rolagem causará impactos na taxa cambial.
No nosso ponto de vista o BC deveria ter rolado o todo normalmente, pois criando a duvida alavanca o preço da moeda americana e aumenta a sua perda com o estoque de swaps cambiais em poder do mercado. Gera volatilidade.
Então, face à elevada alta do preço da moeda americana os supostos especuladores detonaram forte movimento de desmonte de suas posições compradas no mercado futuro, em uma realização de lucros contundente que fez o preço do dólar retroagir a R$ 3,09.
Provavelmente houve a antecipação oportunista ante um preço bastante exacerbado da moeda, que poderia ceder se o BC decidir rolar o todo da posição vincenda neste mês.
Além disto, desde o final do ano passado temos ressaltado que o BC não tem como interromper o programa de intervenção com swaps, pois provocaria um explosiva alta no preço da moeda americana. A rigor o BC só poderá aventar esta possibilidade se e quando os fluxos de recursos externos ingressando retomarem volume, o que não se vislumbra para este ano, ou se oferecer um sucedâneo, mas os títulos federais com correção opcional de juro ou variação cambial foram descontinuados ainda na gestão do Presidente Meirelles à frente do BC, optando-se pela oferta de swaps.
Desta forma, não é improvável que o preço da moeda americana venha a retomar a tendência de alta, salvo se fatos positivos vierem a eventualmente acontecer.
O período ainda concentra grande tensão, o que sugere volatilidade.
Há riscos de todas as naturezas na economia brasileira e geram preocupações relevantes de agravamento de certos quadros como o do setor externo, e este quadro deverá manter a formação do preço com influência mais emocional do que racional.
Por outro lado, o dólar tende a continuar fortalecido, aumentando a inquietação com a possibilidade de o FED americano vir a alterar a mudança de sua política monetária.
O emocional deve continuar prevalecendo sobre o racional, então o viés, após o evento ocorrido ontem, poderá retomar a tendência de alta, salvo manifestações do BC acerca da intervenção no mercado com a rolagem da posição vincenda neste mês.