O preço da moeda americana ainda tem espaço para depreciação adicional nesta fase imediata após eleição, provavelmente chegando a R$ 2,60 nos próximos dias.
A descrença no governo atual reeleito perdura e se pontifica, já que vêm do mercado financeiro e do setor produtivo, setores que não acreditam na capacidade do governo realizar uma robusta mudança nas diretrizes prevalecentes no país e que entendem acabaram por conduzir o país a uma situação critica de baixo crescimento, inflação elevada, juros altos, política econômica errática e que conduziu a política fiscal a um extremo de deterioração.
Há por parte destes setores a percepção de tendência de saída liquida de recursos dos investidores estrangeiros que adentraram o país buscando rentabilidade em renda fixa e variável, em concomitância com retração dos ingressos estrangeiros focando conta capital, já que o país não desperta atratividade e credibilidade aos investidores nacionais e estrangeiros, porque o que precisa ser feito confronta com os dogmas que tem norteado as decisões deste governo que terá continuidade.
Uma mudança robusta focando alterar profundamente o modelo atual implicaria em perda de emprego e renda por parte da população, o que não seria desejável pelo governo, além naturalmente de contenção dos ajustes salariais fazendo-os menores do que a produtividade, um dos fatores inflacionários.
Enfim, o sentimento do setor interno produtivo, mercado financeiro e dos investidores estrangeiros e nacionais é de que há enormes barreiras a serem superadas e que atingiriam plataformas da popularidade do governo e que seriam muito difíceis de virem a ser adotadas.
Acreditamos que não seria menos desafiador para a oposição, porém o grande diferencial é que esta teria o beneficio da dúvida que lhe proporcionaria maior tempo de tolerância e, em principio, convicção de que poderia promover as mudanças por representar o novo, não tendo comprometimentos com o modelo adotado pelo governo atual.
O plano do governo ao longo dos últimos 12 anos tem sido o de estimular o consumo da população através o incentivo à concessão de crédito para tal fim, mas há alguns anos esta estratégia vem se revelando cadente em seu objetivo e gerando pouco estimulo ao setor produtivo que revela uma indústria cadente e retroagindo em seu nível de atividade, reticente aos investimentos necessários e tornando-se cada vez mais importadora de produtos acabados ou semiacabados, com o estimulo do dólar depreciado à serviço da contenção inflacionária.
Este ano ingressaram no país US$ 584,814 Bi e saíram US$ 584,136 Bi, gerando um saldo liquido inexpressivo de US$ 668,0 M composto por US$ 5,520 Bi positivo comercial e US$ 4,842 Bi negativo financeiro. E devemos considerar o relevante fluxo de capitais especulativo ocorrido no 1º quadrimestre do ano, a partir da sinalização do FED americano de que postergaria a medida alterando sua política monetária, imprevisto e promoveu a oportunidade ao capital especulativo de vir buscar rentabilidade no Brasil e assim evitou que a situação fosse pior no momento em termos de performance de fluxo cambial.
Importante ressaltar que parte destes recursos ainda está presente no país, mas a percepção é que esteja propenso a sair.
O fluxo cambial já tem um passivo de US$ 16,5 Bi composto pelas posições vendidas dos bancos autorizados a operar em câmbio que se prestou a gerar liquidez no mercado à vista, preservando o BC de fazê-lo diretamente utilizando as reservas cambiais brasileira, que representa 4,35% das mesmas.
A estratégia do governo deve continuar sendo a de utilizar os bancos com ampliação de suas posições vendidas para garantir liquidez ao mercado à vista, tendo em vista ser extremamente arriscado utilizar diretamente as reservas cambiais para suporte de leilões de dólares à vista para o mercado, pois poderia motivar movimentos especulativos sobre o real.
O fato de o país deter US$ 377,0 Bi em reservas cambiais não deve sugerir que os utilize, pois pode ser também outro ponto de estimulo a movimentos especulativos e, ademais, no momento o país está sem condições de repor os valores eventualmente utilizados das reservas cambiais devido os fluxos cambiais serem adversos.
O contexto da economia brasileira no momento é pior do que a visão que se tinha no mesmo período no ano anterior, e não havendo crença de que possa “virar o jogo” prontamente, a tendência é que os fluxos piorem em 2015, ainda mais com a perspectiva presente de saída de recursos do país.
Urge que a Presidenta Dilma indique quem será o novo Ministro da Fazenda que substituirá o ex-Ministro da Fazenda em atividade, Guido Mantega, pois a demora sugere que esteja com dificuldade de encontrar um nome que aceite o cargo, além de criar um vazio sobre com qual plano pretende reerguer o país da situação em que se encontra.
E se tiver condições o nome de quem será o Presidente do Banco Central do Brasil.
No nosso entendimento, reafirmando o que já dissemos meses atrás, o setor externo deverá ser um grande desafio para o novo governo.
O câmbio ainda deve sofrer muitas trepidações ao longo de 2015 e ao final deste ano de 2014, pois há no radar eventos importantes, como mudança da política monetária americana, que promoverá relevante saída de recursos do país.
Com o câmbio irrequieto e com parcas condições de agora mantê-lo depreciado a serviço da inflação, certamente as pressões inflacionárias ocorrerão de forma intensa, o que poderá exigir que a taxa de juro seja elevada.
Esta roda viva só poderá ser superada com políticas duras, até certo ponto impopulares por extrema necessidade, sem o que teremos mais do mesmo e o país continuará patinando.