Longe de querer responder a questão inicial, o objetivo deste artigo é lançar uma luz à discussão sobre a Selic e dar uma direção aos investidores. Há alguns meses, temos ouvido muita gente questionar se o nosso Banco Central errou ao reduzir demais a taxa básica de juros e, agora, depois de uma inflação acima da meta em 2021, erra novamente ao elevá-la.
No primeiro caso, alguns analistas apontam o resultado inflacionário do ano passado como prova do erro de pilotagem da política fiscal expansionista. Em contestação, há quem diga que esta é uma realidade complexa e que a análise que aponta o equívoco considera apenas dados sem levar em consideração uma série de outros fatores.
De forma resumida, querem dizer que os gestores precisam avaliar diversos cenários antes de tomar qualquer decisão. E evitar o viés histórico uma vez que o que hoje é simples de ser explicado era uma probabilidade entre muitas outras.
No segundo, sobre o erro da elevação, há uma discussão se o BC será duro ou não nas próximas reuniões. Alguns economistas observaram que a alta de 100bps esta semana poderia ter sido vista como uma atitude dura no combate à inflação.
Porém, no decorrer do comunicado muita gente teve a impressão de que a linguagem "amoleceu" com passagens indicando que a Selic deve parar nos 12,75% a.a., depois de uma nova alta de 100bps apontada para a próxima reunião.
Ou seja, mesmo com a elevação indicada, ficou no ar que os ajustes parariam por aí, o que revelaria uma certa displicência no combate à inflação.
Contudo, existem motivos pelos quais o Banco Central tem atuado desta forma. Ao elevar a Selic em um ponto percentual, estima-se que a dívida pública seja elevada em mais de R$50 bilhões.
Caso a taxa suba muito, o país pode entrar em recessão. Ainda que o mandato específico da entidade seja o combate à inflação, as decisões são tomadas sem perder esta questão de vista.
O mercado, por sua vez, dá alguns indícios de que o indicador não deve parar por aí. Há quem diga que 13,75% a.a. seria um nível adequado.
Difícil dizer quem está certo ou errado nessa discussão. Como eu disse, não pretendo responder ao questionamento inicial do artigo, mas, sim, dar uma direção para quem tem dúvidas sobre o que fazer.
Do lado de quem investe, fica o alerta. Por conta de “surpresas” inflacionárias, as taxas dos títulos têm sido reprecificadas constantemente, com a curva de juros inclinando cada vez mais para cima.
Diante deste cenário, a busca por papéis indexados à inflação tende a ser uma boa opção para o investidor proteger seu poder de compra. Já existem títulos de crédito privados pagando IPCA+10% isentos de imposto.
Por outro lado, os prefixados podem performar mal neste momento por conta da marcação a mercado desses títulos, ou seja, com a Selic subindo, o preço unitário do título cai, causando deságio nas aplicações.
Como prever o futuro é uma tarefa árdua e, diria, inglória, meu conselho é que o investidor precisa ter em mente a necessidade de diversificação. Nos últimos meses, tem sido desafiador conviver com guerra e ruídos vindos da política.
Há algumas semanas, imaginávamos um mundo em retomada após dois anos de pandemia. O jogo virou e parece que não vai mudar tão cedo. Bons negócios!