Estamos enfrentando uma verdadeira tempestade perfeita na taxa de câmbio, com o real desvalorizando-se mais de 18% frente ao dólar desde o início do ano. A moeda brasileira está se saindo pior em comparação com outros países emergentes, inclusive, deixando claro que há questões domésticas em jogo. O que está impulsionando essa tendência?
Primeiramente, há mais de um ano, as taxas de juros altas nos EUA estão drenando recursos para o país, pressionando o valor das moedas globalmente, especialmente dos emergentes. Embora se espere um corte na próxima reunião, o que pode atenuar esse efeito, os juros ainda permanecerão elevados.
Além disso, a crescente tensão geopolítica, com os conflitos na Rússia, Ucrânia e Oriente Médio, e as fricções entre EUA e China, estão contribuindo para a incerteza global e afetando a economia emergente. O Brasil segue sendo muito afetado pela volatilidade em commodities e pela demanda chinesa.
Internamente, o cenário também não é favorável. A confiança conquistada no ano passado em relação à situação fiscal do país se deteriorou, com temores de maior intervencionismo em empresas estatais e relaxamento das políticas fiscal e monetária. As mudanças na meta de superávit fiscal e a influência do governo na política monetária têm gerado preocupações.
O que poderia diminuir as pressões cambiais atuais e levar o real a se valorizar em relação ao dólar mora em duas frentes. Em primeiro lugar, precisamos de sinais claros de que o ciclo de cortes de juros nos EUA será mais intenso do que o esperado anteriormente. Esse ponto vem se tornando cada vez mais palpável, principalmente após dados benignos de inflação nos últimos dois meses e recentes sinais mais fortes de desaceleração da economia americana. Na frente geopolítica, alívios nas tensões atuais poderiam favorecer o câmbio, mas parecem improváveis no curto prazo.
No cenário doméstico, é crucial que o governo mostre compromisso com políticas fiscais e monetárias estáveis, alinhadas ao tripé macroeconômico que garantiu estabilidade nas últimas décadas. Medidas como contingenciamentos são um passo na direção certa.
Para investidores, é prudente evitar movimentos bruscos e reduzir o apetite por risco. Recomendamos manter uma parcela significativa dos investimentos no exterior para diversificação e retorno potencial. Antecipar flutuações do dólar é difícil, então o ideal é construir a carteira gradualmente e formar um preço médio nas compras de moeda. Lembre-se: dólar caro é o dólar que você não tem.