É inegável que os mercados de investimentos em renda variável se movem por narrativas no horizonte de tempo curto, afinal, as empresas não têm sua performance operacional oscilando numa base tão frequente quanto oscilam as suas ações diariamente, ou até mesmo, as redes de blockchain e protocolos não tem o seu uso afetado na mesma proporção em que oscilam os seus tokens utilitários.
Mas até aí tudo bem e para o investidor isso não deveria ser uma novidade. Afinal, os mercados são compostos por pessoas, eles são “vivos”, e naturalmente, todo santo dia teremos fluxos de investidores comprando e teremos fluxos de investidores vendendo. E para amparar essa decisão de comprar ou vender diariamente, notícias e dados vindos da política e economia são bastante suficientes para mover essa massa.
E no meio de tudo isso, o mundo passa por uma situação peculiar quando o tema é macroeconomia, com uma expansão monetária nunca vista até então, muito potencializada e com o pico atingido entre 2020 e 2021, crises inflacionárias nos quatro cantos do globo, e por consequência, uma nova fase de aperto monetário iniciada nos últimos meses, mas que parece ser bastante intensa também.
Talvez você já possa ter entendido o que eu quero dizer. Ou seja, nunca vimos tanta volatilidade em ativos de risco e nunca teve tanta mudança de narrativa no dia a dia do mercado financeiro, e tudo isso num espaço de tempo de aproximadamente 24 meses. Até mesmo o tal dos ciclos econômicos, uma das poucas certezas que temos no mundo dos investimentos, teve o seu tempo médio de duração das etapas encurtado.
E os criptoativos, o que tem a ver com tudo isso? Pois é. Essa é a reflexão que eu gostaria de trazer ao leitor. Assim como o mercado acionário, o mundo dos criptoativos também teve as suas narrativas de tese de investimento bastante alterada nos últimos dois anos, até porque, com a entrada do capital institucional nesse mundo, os gestores acabam tendo que regular suas posições conforme o fluxo de capital gira entre renda fixa e renda variável.
Fonte: Arcane Research – Correlação do Bitcoin com outros ativos
Agora, se você é um investidor de longo prazo em criptoativos, você sabe que não existe o mesmo conceito de “valor” como conhecemos no mercado de ações. Não existe modelagem de preço justo, pois os tokens não são ativos geradores de fluxo de caixa. Sendo assim, você tem que formar a base da sua tese de investimentos em outros motivos.
O motivo que me parece mais claro é: o crescimento do uso. Simples assim. Quem tem um entendimento um pouco mais profundo sobre as vantagens competitivas da tecnologia da blockchain, deve ter muito claro na cabeça que podemos estar vendo uma possível revolução em diversas áreas da atuação humana.
Fonte: Blockware Solution – Estudo sobre uma possível curva de adoção do Bitcoin
Se hoje, o uso de blockchain em processos e atividades do dia a dia do cidadão comum ainda não ultrapassa nem 5% da adoção de tecnologia ampla, investir nesse momento em Bitcoin, Ethereum e outras redes sólidas, me parece ser uma das poucas oportunidades da década.
E se quando o Bitcoin era cotado a US$ 50.000 essa oportunidade já interessantíssima, dado a provável ampliação do uso ao longo do tempo, o que podemos dizer agora que a moeda digital é cotada a U$ 24.000?
Lembrem-se, o Bitcoin e companhia perderam metade do seu valor de mercado em menos de um ano, por causa daquela introdução que escrevi nesse artigo. O mercado no curto prazo sempre se move por narrativas, e nos últimos meses, a narrativa que dita o ritmo dos criptoativos está relacionada à inflação, juros e PIB. Parece fazer sentido?
Investidores de longo prazo, deixem a volatilidade correr solta, deixem as narrativas serem trocadas a cada seis meses e tenham capacidade de aportar regularmente. Essas janelas não deverão se abrir com tanta frequência.