Essa semana passada não foi fácil para as altcoins. Verge, Bitcoin Gold e Monacoin sofreram os famosos ataques de 51%, que possibilitam double spendings. Esses ataques deveriam ser impossíveis em moedas suficientemente descentralizadas. Entretanto, mesmo em moedas cujo maior objetivo era a descentralização (Bitcoin Gold) esse ataque foi bem-sucedido. O que explica esse aparente fracasso? Principalmente: qual a tendência para ataques do tipo? Mais moedas terão problemas de segurança?
Vamos tomar o Bitcoin Gold como estudo de caso, mas o argumento se expande a todas moedas ASIC-resistant. Seu time de desenvolvedores anunciou uma mudança na função geradora de hash após o ataque de 18 milhões de dólares. Uma das causas indicadas pelos desenvolvedores é o uso da função Equihash. Essa função hash foi adotada por demandar maior memória: desenvolver placas ASIC para elas seria em teoricamente mais difícil. Isso permitiria que computadores pessoais fossem usados para mineração, trazendo em tese maior descentralização. Entretanto, essa função obteve relativo sucesso – tanto acadêmico quanto prático – e mais moedas a adotaram (ZCash, por exemplo). Com muitas máquinas especializadas em resolver os problemas do Equihash, um hack que concentrasse esses esforços conjuntamente uma delas (Bitcoin Gold, por exemplo) traria problemas, sendo essa a hipótese do time de desenvolvedores.
Vale notar que de fato houve maior dificuldade para o surgimento de placas ASIC para essas moedas. Entretanto, recentemente a Bitmain, produtora de placas ASIC, desenvolveu finalmente as placas especializadas para esses ativos. Nesse caso, se o objetivo for evitar placas ASIC, é esperado que essas moedas abandonem o Equihash e adotem novas tecnologias. Entretanto, com o tempo é difícil que haja muitas funções confiáveis inexploradas – por exemplo, SHA-256, Scrypt, ETHash e diversas outras foram dominadas por ASICs – e há a necessidade pelo desenvolvimento de novas soluções.
O principal problema nessa dinâmica é o tempo necessário para uma função hash ser desenvolvida. A família SHA-3 – sucessora da família da função SHA-256 do Bitcoin – levou quase uma década (2006 a 2015) para ser propriamente desenvolvida e testada. A Equihash foi desenvolvida mais rapidamente – surgida em 2016 – e, infelizmente, teve uma falha em sua segurança encontrada em 2017. Ou seja, mesmo funções adotadas e aclamadas podem ter problemas. Com a maior demanda – afinal, placas ASIC parecem estar surgindo em maior ritmo – pode haver a pressão para a adoção de funções pouco testadas e, dessa forma, haver a possibilidade de ataques.
Uma recordação interessante é a querela entre MIT e IOTA. Uma equipe de pesquisadores do MIT indicou que havia uma falha na função hash do IOTA e isso, aparentemente, trouxe malefícios ao preço da criptomoeda. O desenvolvimento de criptomoedas pode ser fortemente afetado por escolhas técnicas como funções de hash, algoritmos de consenso ou mesmo pequenas decisões de implementação. Isso não é normalmente compatível com pressa. Moedas dependentes de ASIC-resistance (privacy coins, por exemplo) podem, portanto, ter problemas causados por mudança nos seus protocolos, com impactos em suas valuations. Além do mais, pode haver a reutilização de funções em diferentes moedas, facilitando potenciais ataques.
Em suma, as dinâmicas do mercado de placas ASIC impõem dificuldades aos times de desenvolvedores de moedas que se pretendem resistentes às essas tecnologias. Essas dificuldades tendem a aumentar conforme o R&D de empresas de placas ASIC se consolida. Nesse caso, o futuro de moedas Proof-of-Work voltadas para computadores pessoais é nebuloso e é possível ser pessimista por agora. Creio potencialmente fúteis as tentativas de se manter simultaneamente usando um sistema de Proof-of-Work e fortemente descentralizado. Nesse caso, não penso ser uma aposta ruim acreditar que a tecnologia de alguns criptoativos descentralizados ainda poderá mudar mais que apenas na função hash. Como consequência para investidores, é possível, portanto, ser algo bearish com moedas com propostas de forte descentralização.