Por mais otimista que se queira ser é extremamente carente de fundamentos a assertiva posta na Ata da mais recente reunião do COPOM de que a economia brasileira possa ter atingido o “fundo do poço” em abril, e que, o semestre que se finda será drástico, porém o segundo semestre evidenciará retomada e recuperação gradual da atividade econômica.
Evidentemente é uma visão extremamente benigna, menosprezando a possibilidade de um cenário adverso, não desejável, mas factível.
Naturalmente, cabe às autoridades governamentais cultivar e estimular a postura “esperançosa” da população, tomada de grande ansiedade, e com percepções como as expressadas procurar atingir o lado psicológico.
Contudo, parece intencional a não abordagem mais incisiva dos efeitos ainda latentes e em curso da drástica repercussão no país no seu todo da crise da pandemia do coronavírus.
O país ainda está convivendo, não sabendo exatamente que fase, da crise provocada pelo coronavírus, e ainda mantém acentuada dicotomia entre a economia e a saúde, permanecendo ausente a necessária convergência harmoniosa de todos os segmentos da sociedade, envolvendo naturalmente os governos em todos os seus patamares.
São precárias e inseguras as decisões de reabertura de algumas atividades com sérias regras disciplinares, até porque o número de infectados e de mortalidade permanece em ascensão, e o que o país vem sofrendo não sugere nenhuma semelhança com um “stop and go”, mas sim um retrocesso expressivo em toda dinâmica de atividades do país e uma retomada extremamente lenta e gradual, ancorada numa capacidade de consumo da população fortemente decaída e com perspectivas de grave piora do desemprego.
Nada será como antes de imediato, e nem se sabe exatamente quando será a inflexão e quando efetivamente teremos atingido o “fundo do poço”.
Prognosticar situações em perspectiva sem ressalvas ao não se consumar podem provocar maior desalento, conduzindo o ambiente de forte tensão pela obscuridade do momento em depressão.
Esta divagação tem por objetivo pontificar que o Brasil poderá ter maiores dificuldades para a retomada da sua economia, e a realidade poderá estar distante dos prognósticos postos na reunião do COPOM.
Por isso, entendemos que cabe a autoridade monetária pontuar cenários benignos, adversos e indefinidos como no momento.
Embora seja de toda conveniência manter-se visão otimista, esperançosa, não se pode desconsiderar a acurácia na visão realista em perspectiva para não se renovar desalentos contínuos.
O dólar alto veio para ficar, embora volátil mais pelo comportamento da moeda americana no mercado internacional do que por méritos da moeda nacional, e, fez parte de uma estratégia do governo federal visando tornar o país atraente aos investidores estrangeiros, estimular as exportações, conter as importações, enfim, como dizia o Ministro da Economia, cessar a desindustrialização causada pelo dólar depreciado.
Não atingiu o objetivo, pois a reação dos investidores estrangeiros, e nem mesmo do setor privado nacional, reagiram como esperado.
Neste interregno o país sofreu uma “fuga intensa de capitais estrangeiros” e o BC atuou pontualmente, vendeu parte das reservas cambiais, ancorou o preço mesclando vendas de dólares à vista e ancorando o preço com oferta de swaps cambiais reversos, etc.... fez mais e com muitas intenções nem sempre percebidas, mas depois de várias intempéries e conturbações, agora parece estabilizado num patamar em que por razões internas deve permanecer estável, sofrendo tão somente os efeitos da variação da moeda americana no mercado internacional.
Convive então com um momento que está entre duas vias, o benigno em que haverá avanços efetivos no controle da pandemia e possibilidades de retomada gradual da atividade econômica ou adversa com uma segunda rodada da crise da pandemia e continuidade das incertezas e da dicotomia entre economia e saúde.
Não vemos o preço do dólar no ambiente adverso acima de R$ 5,50 visto que não há possibilidade de intensificação de demanda já bastante exaurida, afora razões de tensões políticas extremas, assim como não entendemos sustentável abaixo de R$ 5,00 devido a questão fiscal.
Ontem, o comportamento do real frente ao dólar revelou atipicidade no confronto com outras emergentes, apreciando-se 2,17%, e fechando no entorno de R$ 5,1432 enquanto o Índice dólar DXY apontava queda do dólar frente a cesta das 6 moedas mais importantes de tão somente 0,37% apontando 96,67 pontos. Não houve razões fundamentadas para este comportamento, visto que a melhora dos investidores com foco no risco não sugeria tamanha dimensão.