No dia 12 de junho de 2022 um movimento em específico chamou muita atenção, o Euro registrou paridade com o dólar pela 1ª vez desde 2002, acumulando queda de 12% desde o início do ano. A desvalorização da moeda europeia em relação à norte-americana é mais um dado que escancara a visão negativa do mercado em relação à economia europeia.
Um dos pontos por trás desse movimento contrário à moeda do velho continente é o risco de recessão na Europa. Nesta quinta-feira, a Comissão Europeia reduziu as previsões de crescimento da zona euro para 2,6% este ano, em maio a previsão era de 2,7%, e em fevereiro 4,0% previstos em fevereiro.
Outra amostra de fragilidade do crescimento vem dos dados do Project Management Institute (PMI) que mede o nível de atividade dos gerentes de compras na indústria da construção, se a um ano atrás o dado divulgado em 01 de julho de 2021 estava em 63,4 indicando expansão da produção, no último dado divulgado no 01 de julho do corrente ano o PMI chegou a 52,1, valendo destacar que dados abaixo de 50,0 podem ser indicativos de contração.
Neste sentido e antes mesmo dos últimos dados divulgados pela Comissão Europeia (CE) a gestora Dahlia Capital afirmou em sua última carta mensal (referente à junho/2022) que na Europa o risco de uma recessão “é real”, já a Legacy Capital afirma em sua missiva ser “mais provável o ingresso dessas economias numa recessão a partir do primeiro semestre de 2023”.
A inflação tem contribuição importante para o pessimismo, na zona do euro, a inflação alcança 8,1% em 12 meses e atinge recorde histórico para o período desde o início da série em 1979. A CE divulgou nesta quinta-feira expectativa de 7,6% para o ano ante 6,1% da previsão de maio.
Se antes o Banco Central Europeu adotava tom mais contido em suas comunicações, a postura mudou ao longo do mês de junho frente a situação caótica na inflação, indicando possível alta de juros já na próxima reunião no final de julho, movimento que não acontece desde 2011, inclusive com a possibilidade de acelerar o ritmo caso o cenário de preços não se altere. No mês de junho, o 2Y no Reino Unido e Alemanha subiram 26 bps e 14 bps alcançando 1,83% e 0,63%, respectivamente. Já as taxas de 10 anos subiram 13 bps no Reino Unido alcançando 2,23% e 21 bps na Alemanha alcançando 1,33%.
Por fim, e se não bastasse o cenário já complicado, ainda vem sendo ventilado o possível corte de fornecimento de gás Russo para a Europa. A ACE Capital, em sua última carta divulgada, expõe a possibilidade de agravamento da crise ao externar que “para a Europa, o grande tema continua sendo a guerra e suas consequências. A Rússia cortou recentemente mais da metade do gás fornecido para a Europa, argumentando necessidade de manutenção. O risco de desabastecimento fez ligar o sinal de alerta do governo alemão, que já colocou em prática algumas políticas de redução de consumo, tanto das famílias quanto das indústrias. Essa fragilidade da matriz energética europeia adiciona incerteza em um cenário global já bastante incerto”, Sérgio Machado sócio e gestor da Trópico Investimentos resumiu, no podcast Stock Pickers, episódio 154, que “a situação da Europa é cavernosa sem a guerra, com a pior guerra”.