Diante do processo que a Securities and Exchange Commission (SEC), dos EUA, está movendo contra o serviço de mensagens Kik Interactive, alegando que a oferta inicial de moedas (ICO) do KIN, realizada pela companhia em 2017, teria violado a legislação de valores mobiliários do país, pode ser que a fase de boom de ICOs tenha terminado oficialmente. De fato, à medida que a reputação coletiva dos ICOs fica cada vez mais manchada por ofertas repletas de escândalos e o escrutínio financeiro de órgãos reguladores se intensifica, duas novas rotas para a tokenização podem reverter grande parte dos danos, fazendo com que a entrada dos investidores no mercado de criptomoedas fique mais fácil e, possivelmente, mais segura.
Vale a pena examinar esses dois novos caminhos, chamados de “ofertas de tokens de segurança” e “ofertas iniciais de exchanges” (STOs e IEOs respectivamente, nas siglas em inglês), a fim de compreender o que cada oportunidade realmente tem a oferecer.
STOs vs. IEOs v.s ICOs
Embora os STOs sejam similares aos ICOs, no sentido de que ambos arrecadam fundos através do intercâmbio de dinheiro por criptomoedas ou tokens, as distribuições de STOs são consideradas como valores mobiliários. Dessa forma, explica o site Cryptocurrency News, os tokens "são instrumentos financeiros fungíveis e negociáveis atrelados a um valor monetário", tal como a detenção de ações de uma propriedade ou empresa.
As ofertas iniciais de exchanges (IEOs) estão inextrincavelmente ligadas a uma corretora específica. De acordo com CryptoPotato, tais ofertas são conduzidas e administradas por uma corretora de criptomoedas, “em nome da startup que deseja levantar fundos com seus tokens recém-emitidos”.
“Como a venda de tokens é realizada na plataforma de uma corretora, os emissores desses tokens têm de pagar uma taxa de listagem, bem como uma porcentagem dos tokens vendidos durante a IEO. Em troca, os tokens das startups de criptos são vendidos nas plataformas da corretora, e suas moedas são listadas após o fim da IEO. Como a corretora de criptomoedas fica com uma porcentagem dos tokens vendidos pela startup, a exchange é incentivada a ajudar nas operações de marketing da emissora dos tokens.”
“Os participantes do IEO não enviam contribuições a um contrato inteligente, como ocorre em um ICO. Em vez disso, precisam criar uma conta na plataforma da corretora onde o IEO está sendo realizado. Com isso, os contribuintes financiam suas carteiras na corretora com moedas e usam esses fundos para comprar os tokens da empresa que faz a arrecadação.”
Daniel Tanner, CEO da Platon Finance, observa que, com a emergência de STOs e IEOs, a fase de ICOs de fato acabou.
“Ocorreram muitos golpes em ICOs. Isso fez com que toda a indústria visse com maus olhos [inclusive] projetos potencialmente excelentes, que precisavam levantar capital.”
A indústria, no entanto, não deixou a arrecadação de fundos morrer, afirma Tanner. Ela desenvolveu um caminho para projetos que “os investidores podem ter certeza de que são confiáveis e seguros”. A principal diferença entre essas duas opções e os ICOs, explica Tanner, é que os STOs são uma oportunidade mais segura para todas as partes envolvidas, pois são respaldados por ativos reais e, além disso, seguem as normas e a legislação governamental, portanto, o futuro dos projetos de STO é realmente promissor.
No entanto, Tanner faz um alerta sobre os IEOs. Para quem deseja entrar nesse setor, tenha cuidado e “siga as regras”. Encontre uma corretora onde o token será listado. Só isso, segundo ele, pode exigir bastante trabalho, esforço e dinheiro. O processo de IEO é similar ao de ICO mas, como se baseia em corretoras, Tanner afirma:
“Para iniciar a arrecadação, você precisa passar pela corretora e suas regras de compliance. Isso dá confiança e segurança aos investidores, pois a corretora garante que o projeto é honesto e tem potencial para ser bem-sucedido.”
Ascensão e queda de ICOs
Para deixar claro, tanto STOs quanto IEOs são considerados opções muito melhores para o financiamento de um projeto. Ambos estão tendo um início promissor que os ICOs jamais tiveram.
Maksim Izmaylov, CEO da Winding Tree, afirma:
“[O] modelo de ICO para arrecadação permitiu que empresas levantassem fundos de pessoas ao redor do mundo; por isso, a ascensão (e a subsequente queda) dos ICOs foi um evento singular. Os tokens de segurança não diferem em nada das ações eletrônicas, com as mesmas limitações (apenas investidores credenciados podem comprá-los), sendo que blockchain e descentralização não têm nada a ver com STOs.”
Um fator-chave é a regulação e o compliance, explica David Williams, chefe de tecnologia da BlockRules. Os tokens de segurança são títulos regulados, registrados em um livro contábil distribuído.
“As ofertas de tokens de segurança exigem o mesmo nível de compliance regulatório de uma oferta tradicional, como um IPO. No entanto, ao contrário de uma oferta tradicional de ações, que é lançada e negociada dentro do campo de atuação de uma única bolsa de valores, um STO não precisa ficar confinado a um único mercado.”
Destacando ainda mais a promessa de STOs, Williams aponta para o recente Fintech Forum, patrocinado pela SEC, dos EUA. Considerado um dos órgãos regulatórios mais conservadores do país, ele acredita que o evento da SEC é um passo promissor na direção da aceitação da tecnologia de distributed ledger na indústria financeira. Williams diz ainda:
“Infelizmente, STOs são às vezes comparados a ofertas iniciais de moedas. É verdade que ambas são ofertas em um blockchain. Mas, enquanto os STOs respeitam a legislação por definição, os ICOs foram criados como uma tentativa de trabalhar em torno de regulações. Não é de surpreender que, sem as proteções inerentes às regulações de segurança dos investidores, muitos ICOs acabaram sendo fraudulentos.”
Essa falta de proteção aos investidores é a razão pela qual as corretoras estão agora promovendo os IEOs. No entanto, alguns observam que esse tipo de oferta é um pouco mais do que um ICO respaldado por uma corretora de criptomoedas. No entanto, uma corretora de criptos não substitui a devida supervisão regulatória. Como ocorre com todos os veículos de investimento, a análise criteriosa deve ser o primeiro passo de tudo.