As Consequências de Uma Crise Mundial

Publicado 20.08.2019, 17:41
IBOV
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Muitas pessoas me perguntaram, nesses últimos dias, quais os possíveis efeitos para o Brasil de uma queda no crescimento global.

Embora as consequências sejam silenciosas, elas já estão acontecendo e vamos falar hoje sobre isso.

O investidor internacional opera o Brasil dentro de uma cesta de países chamados "emergentes".

Eles não estão tão preocupados se hoje o Presidente tuíta A ou B. Se os dados de produção industrial vieram maiores ou menores.

Não! Eles olham a região como um todo.

O Brasil corresponde a 7,85 por cento do MSCI Emerging Markets, uma das ETFs mais operadas para investir em emergentes no mercado internacional.

Fonte: Bloomberg

Note que no último mês de agosto, a cotação dessa ETF caiu 7 por cento, coincidindo com um movimento de saída de estrangeiros na Bolsa brasileira.

Fonte: Bloomberg

E aqui podemos falar sobre a primeira consequência de uma crise global:

Saída do fluxo de investidores estrangeiros

Os investidores globais, por conhecerem menos os países emergentes, e saberem que eles sempre têm uma série de fraquezas na sua economia, acabam por simplesmente reduzir as suas alocações nesse tipo de ativo.

Os emergentes, além de possuírem menos liquidez – que em momentos de crise provocam maior queda nos preços dos ativos quando todos decidem sair – têm maior probabilidade de entrarem em uma crise interna, seja por desvalorização da moeda, aumento da dívida, aumento da inflação, ou qualquer outro problema estrutural que carreguem.

Por isso que, em um momento de crise, a moeda dos emergentes se desvaloriza, enquanto a dos países desenvolvidos se valoriza. Pois o fluxo de investimentos sai dos emergentes e volta para as matrizes exportadoras de investimento.

A consequência para os países emergentes é a desvalorização da moeda e queda no preços de seus ativos como a Bolsa. Que é exatamente o que estamos vendo por aqui. O Ibovespa já caiu 5 por cento nos últimos dias, e o real já se desvalorizou 10 por cento.

Dependendo do país, a desvalorização cambial pode aumentar muito o risco de aumento da inflação, obrigando o BC a subir juros. Sabendo disso, o mercado antecipa o movimento, puxando os juros futuros para cima.

Isso não vem acontecendo no Brasil, pois nossa economia anda muito fraca e o repasse cambial não tem sido alto. Além disso, temos mais reservas cambiais do que dívida externa, o que faz com que nossas dívidas caiam durante uma desvalorização.

Mas, certamente, o Banco Central e o mercado estão bem de olho no movimento do câmbio.

Isso me leva a segunda consequência importante:

Queda da confiança dos empresários

Enquanto nossa Bolsa e nossa moeda deveriam estar valorizando muito após a aprovação da reforma da previdência, estamos com nossos ativos caindo, e sem saber o que esperar do fluxo global de investimentos.

Esse fator reduz a confiança dos empresários em lançar novos projetos, emitir novas ações ou dívidas, e aumentar sua produção antes de ver a volta da atividade.

Em um cenário global pujante, os empresários largam na frente, estimulando suas empresas, contratando mais funcionários e aquecendo a economia.

Em um cenário de crise, todos ficam parados, aguardando o fundo do poço.

Isso certamente irá postergar a nossa recuperação econômica.

O que era esperado para este ano, já pode ser postergado para o ano que vem. E esse é o maior impacto na economia real.

O que devemos fazer?

Se fossemos uma economia desenvolvida, eu diria para se ter uma carteira mista entre Bolsa e Juros. Afinal, ou a crise é resolvida e a Bolsa volta a subir, ou a crise segue e o crescimento mais baixo faz o Banco Central reduzir os juros.

O meu grande medo com juros é que, por sermos uma economia emergente e estarmos nesse contexto de saída de fluxo, corremos sempre o risco de desvalorização cambial, o que poderia abortar o ciclo de queda da Selic. E isso teria o potencial de subir os juros futuros, sem que o movimento fosse compensado pela alta na Bolsa, causando um perde-perde.

A solução, portanto, passa por você ter apenas a quantidade de bolsa que se sente confortável o suficiente para carregar. E que, no caso do tumulto externo durar um pouco mais de tempo, você tenha toda a paciência do mundo de esperar.

A bolsa local tem valor, a economia está passando por medidas transformacionais de aumento de produtividade. Mas podemos não ver o resultado de tudo isso no curto prazo.

É a realidade externa se impondo, e temos que respeitar. Mercado é assim. E as estrelas não se alinham na hora que queremos.

Paciência!

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