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As Consequências da Alta dos Juros Americanos

Publicado 15.03.2021, 14:01

Na semana retrasada, falei para vocês que acredito que veremos as taxas de juros dos EUA reverterem a tendência de queda e finalmente voltarem a subir. Hoje, quero falar um pouco mais sobre as consequências dessa alta na economia e nos seus investimentos.

Podemos analisar essas consequências do ponto de vista dos 3 representantes da sociedade: o Governo, as empresas e as famílias. Além disso, quero acrescentar a visão do investidor, que também é importante para nós.

As empresas:

Aumento das despesas financeiras

Essa consequência é clara e óbvia. As empresas carregam suas dívidas e pagam juros por elas. Boa parte das empresas americanas tem dívidas prefixadas, mas uma alta do juro americano vai aos poucos batendo no custo de rolagem de dívida dessas companhias.

Se a taxa do juro americano dobra ou triplica de preço, vamos ver a linha de despesas financeiras das empresas fazer a mesma coisa. Isso significa uma menor margem de lucro na maioria dos casos. Companhias fortemente alavancadas são as mais prejudicadas, pois dependem de baixo custo de empréstimos para viabilizar seu balanço.

Aqui, no Brasil, o aumento do custo com juros viria ainda mais rápido, uma vez que boa parte das dívidas internas é atrelada ao CDI. A alta da Selic imediatamente aumenta as despesas das dívidas atuais.

Quem tradicionalmente se beneficia de juros mais altos são os bancos, que conseguem aumentar o spread de crédito, que acaba sendo proporcional ao nível dos juros em si.

Redução do valor presente dos dividendos

O modelo que os analistas usam para precificar o valor de uma ação é chamado de dividendos descontados. Nesse modelo, é estimado o fluxo de dividendos ao longo dos anos e, depois, esse fluxo é trazido a valor presente pela taxa de juros de mercado.

Podemos ver, na fórmula abaixo, que a taxa de juros fica no denominador desta equação:

Equação 1

Assim, a alta dos juros causa a redução do valor presente dos dividendos de uma empresa, e a consequência é a redução dos valores das ações, tudo mais constante.

Lembrando que toda tendência de queda nas taxas das últimas décadas teve o efeito inverso, de valorização dos preços das ações por meio de aumento do valor presente dos dividendos.

Em um cenário de crescimento econômico robusto, a queda do valor presente com a alta de juros é normalmente compensada por um aumento da expectativa de lucro. Isso faz com que cenários de aumento de juros não sejam ruins para a bolsa.

O aumento só é nocivo quando desordenado. Por exemplo, se as taxas subirem muito rápido, ou se a inflação descarrilhar, aí o mercado de ações sentirá o peso de uma alta rápida demais.

É bem difícil dizer de forma antecipada se teremos ou não uma alta rápida e desordenada. Eu diria, a princípio, que não. Mas esse tipo de coisa é difícil de antecipar. Por isso, não consigo dizer se a consequência para a bolsa será uma resultante positiva ou negativa.

Governos:

Aumento do custo de rolagem de dívida

Nos últimos anos, os governos do mundo todo vêm aumentando significativamente suas dívidas. Números antes impensáveis, como 200 por cento ou 300 por cento do PIB, só foram possíveis com juros extremamente baixos.

Os EUA fecharam 2020 com 135 por cento de dívida sobre PIB. Japão com 225 por cento. China com 285. Itália com 158 por cento. Brasil com 90 por cento. Lembrando que o crescimento desses números foi mais intenso na última década e com taxas bem mais baixas.

O aumento dos juros terá como consequência um custo maior de rolagem, que impacta diretamente no déficit nominal dos países.

Aumento do custo da dívida significa redução de gastos com outras coisas – como investimentos, por exemplo. Quanto mais alavancado um país for, menor será a capacidade dele de investir em produtividade, tecnologia, educação, saúde.

Desvalorização da moeda

Esse item é importante em um contexto global. A alta do juro americano, que é o país considerado mais seguro do mundo, obriga outros países a subirem também suas taxas. Isso acontece através da desvalorização cambial, um pouco do que já estamos vendo no Brasil.

Se os juros "livres de risco" agora são maiores, os investidores entendem que os mais arriscados são menos atrativos e saem de países emergentes para investir no mais seguro. Esse fluxo de saída desvaloriza a moeda dos países emergentes.

A desvalorização da moeda pressiona os preços comercializáveis, impactando negativamente na inflação. A alta da inflação pressiona os banqueiros centrais a subir suas taxas locais. Assim, uma alta dos juros americanos pressionará o mundo todo por mais aumentos.

Famílias:

Queda da renda disponível

Para as famílias, o impacto do aumento de juros vem no custo do crédito. O aumento das parcelas dos seus empréstimos reduz a renda disponível, que, por sua vez, reduz o consumo.

É importante dizer que as famílias, principalmente aqui no Brasil, estão com alto nível de endividamento.

Percentual de Famílias com Dívidas (Fonte: G1)

Além disso, juros mais altos significam parcelas mais altas, portanto, menos pessoas conseguindo pegar mais empréstimos.

Investidores:

Por fim, vamos falar sobre o impacto dos juros mais altos na sua vida de investidor.

Quando a Selic bateu 2 por cento, muita gente começou a olhar para outros tipos de investimentos procurando render mais. O investidor aumentou o prazo dos investimentos em renda fixa, além de aumentar a parcela de ações na carteira.

Uma alta de juros teria o efeito inverso. Claro que não é todo mundo que vai sair da bolsa. Uma parte aprendeu e gostou de poder contar com essa modalidade. Mas outra parte foi mais no fluxo e voltará a ser rentista de baixo risco quando a Selic voltar a subir.

Isso representará um fluxo menor para bolsa como um todo. A queda de fluxo pode influenciar o preço de algumas ações, principalmente as queridinhas do investidor. Agora, mais do que nunca, vale a pena focar nas ações de empresas boas e que entregam resultados.

Além disso, temos um impacto importante também nos títulos de crédito. A redução das taxas livres de risco amassou também os spreads pagos por empresas para tomar crédito no mercado. Hoje, vemos emissões de longuíssimo prazo pagando quase nada de prêmio em relação aos títulos do governo.

Isso é fruto de um fluxo direcionado para esses tipos de investimento, em que novos fundos são obrigados a investir, gerando uma demanda grande que amassa os prêmios pagos pelas empresas.

A alta dos juros deve descomprimir essa pressão nos prêmios de crédito privado. Isso significará um aumento de taxas e prejuízos de marcação a mercado para quem carrega esse tipo de título.

Teremos, ao longo de 2021, um tempo razoável para nos prepararmos para este novo cenário mundial.

Olhe sua carteira, veja se tem algum ponto de fragilidade. Altere posições mais expostas a essas mudanças e conte com a Nord para ajudá-lo com essa arrumação!

Lembrando que, nesta semana, teremos reunião do Copom, e será o início do ciclo de alta de juros por aqui. Eu acredito que o BC começará subindo 50 pontos base, levando a Selic para 2,5 por cento.

Um abraço.

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