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As 3 iniciativas globais da China

Publicado 21.02.2024, 13:00

Ao falar sobre a visão global da China é preciso tratar, separadamente e em detalhes, sobre cada um dos aspectos abrangentes que orientam a política externa chinesa. Para isso, o governo chinês estabeleceu três iniciativas, que tratam de desenvolvimento, segurança e civilização.

Para os chineses, essas três iniciativas oferecem soluções aos principais problemas relativos à paz global e ao desenvolvimento econômico-social dos países do mundo. Apesar de parecer inócuo, trata-se de uma proposta que tem ligação direta com a reforma da governança global, visando traçar um caminho explícito que insere a China no mapa mundial.

Isso expõe a ambição global do presidente chinês Xi Jinping para a China. Por isso, deve-se tomar nota dessas iniciativas. O mundo deveria prestar atenção.

Os argumentos são claros: a humanidade está em uma encruzilhada diante dos desafios climáticos, mas a interdependência é inevitável. Portanto, a nova era exige novas ideias, sendo que a China, baseada em sua longa história civilizacional, possui experiência e uma visão esclarecida para construir um mundo melhor.

O Desenvolvimento

Começo pela Iniciativa de Desenvolvimento Global da China, ou GDI, na sigla em inglês. Essa iniciativa baseia-se na construção de grandes obras de infraestrutura, porém mais direcionadas a projetos sustentáveis. Isso inclui questões como redução da pobreza, segurança alimentar, saúde, industrialização verde, economia digital e conectividade.

Estes pilares servem, como afirma a China, para formar “a base material para a segurança e civilização” global, que são os outros dois eixos da política externa chinesa para o mundo e que serão tratados nas próximas semanas.

Em linhas gerais, a GDI busca parcerias globais para ajudar os países a expandir sua capacidade de desenvolvimento socioeconômico, tendo como “princípio fundamental” uma abordagem “equilibrada e inclusiva” centrada nas pessoas, tidas como únicas, porém iguais.

Para tanto, a GDI é orientada para a inovação como motor do crescimento e focada em “ações voltadas aos resultados” que tragam “benefícios para todos” e mantenham uma harmonia entre o ser humano e a natureza.

Até setembro de 2023, a Iniciativa já havia recebido o apoio de mais de cem países e organizações internacionais. Em termos práticos, a China apresentou 32 medidas fundamentais para implementar a GDI através de mais de 200 projetos voltados à Cooperação Sul-Sul, através de um fundo de US$ 4 bilhões.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, descreveu a GDI como “um apelo de mobilização global para galvanizar maior atenção ao desenvolvimento e trazê-lo de volta ao centro da agenda internacional”. Ou seja, a iniciativa é a principal forma da China se envolver com o desenvolvimento mundial, especialmente com o mundo em desenvolvimento, o Sul Global.

A Segurança

Daí porque o segundo aspecto é a questão da segurança, que a China chama de Iniciativa de Segurança Global, ou GSI (na sigla em inglês). A abordagem é baseada na adaptação às profundas mudanças internacionais, abordando os riscos e desafios, tradicionais ou não, à segurança, com uma mentalidade de ganha-ganha.

A China afirma que o GSI cria um novo caminho para a segurança, com a proposta de diálogo, em vez de confronto; parceria, em vez de aliança, e resultados ganha-ganha em jogos de soma zero. Nas entrelinhas, é um contraste implícito com a política externa de Washington. Esse é o significado geopolítico crescente e profundo.

O GSI, diz a China, é um bem público internacional, que reflete a crescente consciência de Pequim sobre o seu dever de ajudar a manter a paz no mundo e salvaguardar a segurança global. Como exemplo mais lembrado, a China se diz comprometida em lidar com disputas territoriais de soberania e direitos e interesses marítimos através da negociação.

Nas entrelinhas, alguns analistas estrangeiros dizem que Pequim prefere negociar essas questões controversas de forma bilateral, um a um, e não sob as regras multilaterais ou em fóruns multilaterais. Para eles, o GSI é uma alternativa à ordem atual da política de assuntos internacionais, “baseada em regras” lideradas pelos Estados Unidos e seus parceiros na Europa e no Pacífico.

Civilização Global

Agora, irei falar sobre um tema “caro” para a China: a civilização. O apelo chinês para a Iniciativa de Civilização Global (GCI, na sigla em inglês) diz respeito à diversidade de países, raças e grupos étnicos no mundo. Apesar disso, o ser humano tem valores comuns em relação à humanidade.

É esse intercâmbio global que permite uma cooperação interpessoal. O GCI, portanto, faz parte da abordagem de política externa chinesa, que fala da construção de uma comunidade global com um futuro compartilhado.

Entre os exemplos práticos dessa iniciativa, estão, as conferências sobre o Diálogo das Civilizações Asiáticas; entre as Civilizações chinesa e africana. A China sedia regularmente eventos culturais e atividades internacionais para promover as artes de diferentes povos. Só em 2017, a China realizou cerca de 2 mil eventos em mais de 130 países.

Há, também, os acordos de cidades-irmãs com vários países, inclusive o Brasil. Enquanto Pequim e Rio de Janeiro são cidades-irmãs, São Paulo é irmã de Xangai, pois ambas são as cidades mais populosas de seus respectivos países. Além disso, Guangzhou, capital da província de Guangdong, no Sul da China, é a cidade-irmã do Recife.

Já a capital brasileira, Brasília, não tem só uma, mas duas cidades-irmãs chinesas: Xi’an, desde 1997, e Macau, desde 2020. Ao longo dos anos, essas cidades alcançaram resultados positivos na cooperação de negócios, turismo, saúde, educação e desenvolvimento.

O Insight

A China destaca com orgulho o grande número de países que elogiam as suas três iniciativas globais - de desenvolvimento, segurança e civilização. Portanto, as três iniciativas globais constituem o núcleo da política externa chinesa, que, de fato, desafia os valores dos EUA e, assim, a primazia de Washington.

Daí porque a China reitera que evitará o “caminho tortuoso percorrido por alguns países para buscar a hegemonia à medida que eles se fortalecem”, mas sim irá “buscar resolver as diferenças através do diálogo e da resolução de disputas através da cooperação.”

A minha mensagem principal é que se deve levar a sério a iniciativa global da China, pois as ações do governo chinês seguirão as palavras do presidente Xi - tenho certeza disso.

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