Os preços do arroz em casca, que vinham operando nas máximas nominais desde o início deste ano, atingiram em agosto recordes reais da série do Cepea, iniciada em 2005. No dia 11, o Indicador ESALQ/SENAR-Rio Grande do Sul, 58% grãos inteiros, com pagamento à vista, fechou a R$ 73,05/saca de 50 kg, acima do até então patamar recorde real, atualizado para R$ 71,59/saca, que foi verificado em maio de 2008 (a série mensal do Cepea foi deflacionada pelo IGP-DI de julho/2020). A partir de então, as máximas reais foram renovadas consecutivamente até o encerramento do mês, quando o Indicador fechou a R$ 94,02/saca de 50 kg. A média de agosto ficou em R$ 78,94/sc, expressivos 22,07% superior à de julho e 62,66% acima da de ago/19, em termosreais. O impulso veio especialmente da demanda aquecida. Boa parte das indústrias/beneficiadoras do estado sul-rio-grandense teve interesse em realizar novas aquisições, com o objetivo de repor estoques, mesmo com certa dificuldade nas negociações do cereal beneficiado com atacadistas e varejistas de grandes centros consumidores. Inclusive, em alguns dias, pesquisadores do Cepea verificaram disputa entre empresas na aquisição de novos lotes. Esses demandantes também estiveram atentos aos baixos estoques de passagem. Do lado da oferta, orizicultores, de olho no movimento de alta nos valores, limitaram as vendas de novos lotes de arroz em casca no mercado spot, à espera de preços ainda maiores. Assim, esses produtores “fizeram caixa” com a venda de outros produtos.
O movimento de forte avanço nos valores foi verificado em todas as regiões do Rio Grande do Sul acompanhadas pelo Cepea. De julho para agosto, as médias subiram 26,18% na Planície Costeira Externa (R$ 83,10/sc); 22,44% na Planície Costeira Interna (R$ 80,99/sc); 23,28% na Fronteira Oeste (R$ 79,18/sc); 17,46% na Zona Sul (R$ 79,14/sc); 23,16% na Depressão Central (R$ 75,61/sc) e 21,73% na Campanha (R$ 75,85/sc). Em algumas regiões, os preços se aproximaram do Indicador, reduzindo os diferenciais. Com ritmo de mercado parecido, os demais rendimentos também registraram recordes em agosto/20. O arroz de 59% a 62% de grãos inteiros subiu 22,43%, o de 63% a 65% de grãos, 23,29% e o de 50% a 57% de grãos inteiros, 22,7% entre julho e agosto. Os preços médios foram de R$ 79,84/sc, R$ 92,64/sc e R$ 76,59/sc, respectivamente.
SAFRA BRASILEIRA 2020/21 – As primeiras estimativas da safra 2020/21, divulgadas pela Conab, apontam que a área a ser semeada com arroz pode crescer em 12,1%, enquanto a produção deve se elevar em 7,2%, com produção de 12 milhões de toneladas. Esse cenário se deve à rentabilidade favorável ao produtor. Apesar disso, a produtividade deve ficar negativa, em 4,3%, mesmo diante dos ganhos na temporada 2019/20. Especificamente no Rio Grande do Sul, maior estado produtor de arroz, a área a ser semeada deverá crescer 3,5% frente ao ano-safra anterior, podendo chegar a 969,2 mil hectares na temporada 2020/21, segundo informações do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), divulgadas no dia 3 de setembro.
PREÇOS FUTUROS E PARIDADE – Em agosto, os preços futuros nos EUA (considerando-se o primeiro vencimento, Set/20, da CBOT) avançaram 7,7%, com média de U$S 11,94/quintal (US$ 263,17/t ou US$ 13,16/saca de 50 kg). Considerando-se essa cotação e o dólar médio de R$ 5,46 no período, em Reais, esse contrato ficaria em torno de R$ 1.436,91/t, o que corresponde, aproximadamente, a R$ 71,85/sc de 50 kg. Enquanto isso, na Argentina (terceiro maior fornecedor do arroz ao Brasil neste ano), os valores FOB (Free on Board) do cereal em casca no Porto de Buenos Aires encerraram agosto a US$ 250,00/tonelada, estável frente ao mês anterior, de acordo dados do Ministério da Agroindústria. Em Reais, esse índice ficaria em torno de R$ 1.365,00/t, o que corresponderia a R$ 68,25/sc de 50 kg.
SECEX – Em agosto, as exportações brasileiras de arroz somaram 212,8 mil toneladas, 28,8% abaixo das de julho e 98,1% superiores às de agosto de 2019. Já as importações nacionais de arroz totalizaram 61,2 mil toneladas, 28,4% superiores às registradas em julho, mas 42,7% abaixo das de agosto/19.