O ano de 2020 foi desafiador ao setor arrozeiro brasileiro, mas, no agregado, a cadeia apresentou bom desempenho. De acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a demanda esteve mais ativa em boa parte do ano, e a busca pelo abastecimento acirrou a disputa pelo produto, contexto que resultou em forte elevação nos preços, especialmente no segundo e terceiro trimestres. Já nos últimos três meses do ano, os valores internos do arroz estiveram enfraquecidos, diante da possibilidade de importação de arroz de fora do Mercosul com isenções de impostos.
No primeiro trimestre deste ano, os valores médios do arroz em casca oscilaram, acompanhando as alterações na oferta, tendo em vista o período de colheita e a baixa intenção de produtores de negociar. Aliado a isso, os estoques de passagem para a safra 2019/20 chegaram, em março/20, a um dos menores volumes da história, não deixando muito espaço para quedas bruscas nos preços internos.
A partir de março – quando a pandemia de coronavírus começou a avançar no Brasil e medidas de restrições sociais foram impostas por governos municipais e estaduais –, consumidores do beneficiado passaram a adquirir volumes maiores, forçando o varejo a se abastecer do atacado e, por sua vez, dos engenhos beneficiadores. Então, o atacado e o varejo passaram a formar estoques maiores.
Nesse cenário, no segundo trimestre, os preços de arroz em casca iniciaram um consistente movimento de alta – que foi verificado até outubro –, fazendo com que os recordes nominais fossem renovados. Nem mesmo a proximidade da finalização da colheita (entre abril e maio) foi suficiente para segurar as reações positivas de preços.
No segundo semestre, o avanço nos valores do arroz em casca foi intensificado, tendo em vista que, além da demanda interna aquecida, as exportações do produto também cresceram, estimuladas pelo dólar elevado. Assim, de fevereiro a julho/20, o beneficiamento e as vendas de produtos de arroz foram aumentando, alcançando recorde histórico neste último mês.
Na primeira dezena de agosto, os preços internos atingiram recordes reais da série histórica do Cepea, iniciada em 2005, e que foram sendo renovados nos meses seguintes. Em setembro, o Indicador ESALQ/SENAR-RS passou a operar acima dos R$ 100/saca de 50 kg, registrando o pico, de R$ 106,34/sc, no dia 13 de outubro de 2020.
Naquele período, agentes pareciam não identificar com clareza fatores que justificassem alterações bruscas nos preços. A liquidez se enfraqueceu, devido à diminuição do desempenho de vendas do fardo por parte de indústrias beneficiadoras, verificado sobretudo a partir de agosto, mas com volumes significativamente menores entre setembro e novembro.
No acumulado do ano (de 30/12/2019 até 30/12/2020), o Indicador ESALQ/SENAR-RS subiu expressivos 95,5%, fechando a R$ 93,91/sc de 50 kg no dia 30. A média anual, de R$ 73,38/sc de 50 kg, registrou alta de 68,7% frente à de 2019 (R$ 43,50/sc de 50 kg), em termos nominais – é a maior média anual de toda a série histórica do Cepea. Em termos reais (considerando-se os efeitos da inflação), a média em 2020 foi de R$ 65,70/sc, 51% superior à de 2019 (de R$ 43,50/sc).
Os elevados valores internos do arroz em casca estimularam ações importantes na cadeia produtiva, como a liberação da importação de 400 mil toneladas de fora do Mercosul com isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), divulgada em setembro pelo Governo Federal. Esta medida teve relevância no mercado, mas se mostrou insuficiente para causar mudanças significativas de preços no curto prazo, devido à paridade de importação elevada por conta do dólar alto e à disponibilidade restrita do arroz em casca no Brasil.
EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO – De janeiro a novembro, as exportações cresceram 47,8% em relação às do mesmo período de 2019, somando 1,77 milhão de toneladas em equivalente casca, segundo dados da Secex. Já as importações somam 1,05 milhão de toneladas em equivalente arroz em casca nos 11 primeiros meses do ano, 12,7% acima do mesmo período de 2019. Assim, as vendas ao mercado externo superaram as importações, em 718,65 mil toneladas. Em valores, o superávit é de US$ 186,78 milhões.
PRODUÇÃO – A produção da temporada 2019/20 foi estimada em 11,18 milhões de toneladas, 6,7% maior que a anterior, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Somando aos estoques iniciais (em fevereiro/20), de 554,1 mil toneladas, e as importações, de um milhão de toneladas (entre março/19 e fevereiro/20), a disponibilidade interna ficaria em 12,89 milhões de toneladas. Desse total, a previsão é que 10,7 milhões fossem consumidos internamente e 1,75 milhão de toneladas, exportados. Assim, o estoque final está estimado em 437,5 mil toneladas em fevereiro/21, o menor desde a safra 2016/17.
De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção global na temporada 2019/20 foi estimada em 496,1 milhões de toneladas de arroz beneficiado, estável frente à anterior (-0,2%). Foram projetados crescimentos nas colheitas da Índia, Bangladesh, Filipinas, Brasil, Coreia do Sul e Egito, mas recuos em outros 10 importantes países. O consumo mundial ficou abaixo da produção, mesmo com elevação de 2% frente à safra passada. O estoque global chegou a 178,22 milhões de toneladas, 0,8% maior que o de 2018/19.