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Arábia Saudita Quer Estabilizar o Mercado de Petróleo nos Preços Atuais

Publicado 25.06.2021, 11:06
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Publicado originalmente em inglês em 25/06/2021

Quando o ministro do petróleo da Arábia Saudita, Abdulaziz bin Salman, realizar sua sexta videoconferência neste ano via Zoom com seus pares de 22 países, na próxima semana, sua maior preocupação não será apresentar novos esquemas para fazer o mercado subir, mas evitar que o grupo não produza mais petróleo do que deveria nos preços atuais.

Pode-se argumentar, evidentemente, que esse é o trabalho diário de AbS, como o ministro também é chamado por vezes com base nas iniciais do seu nome.

Desde que assumiu o cargo há um pouco menos de dois anos, cada reunião da Opep+ presidida por AbS – congregando os 13 membros da Opep e 10 aliados externos liderados pela Rússia – começa com pedidos de cotas de produção significativamente maiores. Ele habilmente se desvencilha de cada uma delas, lembrando aos defensores dos aumentos no grupo que existe algo mais importante do que isso: o preço do barril em si. Além, evidentemente, da demanda e da participação do mercado.

Petróleo mensal

Em virtude dos esforços despendidos por AbS, a adesão da Opep+ aos cortes de produção liderados pelos sauditas atingiu a incrível marca de 122% desde a destruição da demanda pela Covid, responsável por fazer o barril atingir a cotação negativa de US$40 em abril de 2020.

Eu digo “incrível” porque quem acompanhou a Opep durante grande parte dos últimos 60 anos conhece seu histórico de “trapaças” no que se refere às cotas de produção. E, apesar de os russos só terem começado a trabalhar seriamente com o cartel há cinco anos, acabaram se tornando os novos vilões do pedaço pela superprodução dentro da aliança Opep+. Alexander Novak, ministro do petróleo e vice-chanceler da Rússia, habilmente pressiona AbS contra a parede em relação às cotas em cada reunião da Opep+, antes de sair com um acordo aparentemente mais satisfatório a Moscou do que a Riad.

De fato, o colapso do mercado de petróleo em 2020 foi desencadeado pela pública e vergonha dissolução das tratativas entre sauditas e russos sobre a produção, um pouco antes da pandemia. Desde então, o maior fardo dos cortes da Opep+ tem recaído sobre os ombros de Riad, embora AbS mereça crédito por determinar limites de produção aos outros 22 membros da coalizão e garantir seu cumprimento.

Nem produtores nem consumidores estão contentes

Mas a cada mês que passa na recuperação do mercado petrolífero, só aumenta o desafio do ministro saudita de fazer os russos – bem como outros “trapaceadores” históricos da Opep, como a Nigéria – respeitarem as cotas estabelecidas. E a razão, ironicamente, é o mesmo preço do petróleo que AbS certa feita apontou como motivo para a continuidade da profunda redução de oferta. Esse preço é agora mais do que o triplo do que em 13 de abril de 2020, quando a Opep+ anunciou pela primeira vez que tiraria do mercado cerca de 9,7 milhões de barris por dia.

Com o barril a US$26 em média naquele momento – e um mundo praticamente nadando em petróleo, sem compradores –, era fácil entender por que a Opep+ aderiu com tanta veemência aos cortes de produção.

Agora, com o barril a US$73 na fração americana e US$75 no Brent, também é fácil compreender por que essas mesmas nações desejam produzir mais, a fim de auferir as tão necessárias receitas que seus cofres perderam em um ano de distúrbios causados pela pandemia.

Mais do que qualquer outra pessoa, AbS empreende isso. Os cofres sauditas também se beneficiaram de mais produção a esses preços. Mas o ministro também está ciente do risco de abrir as torneiras da Opep+ mais do que o necessário agora, principalmente em um mundo onde as vacinações contra a Covid-19 encontram-se extremamente desiguais e outra variante do vírus, a Delta, começou a se disseminar.

Ministro saudita ainda não está convencido da demanda

Isso explica o mantra de AbS toda vez em que foi indagado sobre a demanda de petróleo nos últimos meses:

“Eu acreditarei nela quando vi-la”.

Sim, apesar de os estoques mundiais terem voltado para as tendências sazonais de cinco anos; apesar de o mercado estar drenando praticamente todo o excesso de oferta provocado pela Covid; apesar de os perfuradores norte-americanos estarem extraindo 2 milhões de barris por dia a menos do que antes da pandemia; e apesar de a cotação do barril ser três vezes maior do que há 14 meses, o ministro saudita ainda não está convencido da demanda.

Mas AbS também sabe do perigo de permitir que o preço do petróleo continue seguindo o mesmo caminho desde novembro, quando foram anunciadas as primeiras vacinas eficazes contra a Covid.

Em algum ponto, a alta dos preços irá prejudicar a economia global – se é que já não o fez, a julgar pelas persistentes reclamações da Índia, terceiro maior importador de petróleo, e pela máxima de sete anos dos preços da gasolina nas bombas americanas.

Aparentemente dando-se conta disso, AbS afirmou na quinta-feira:

“Temos um papel na contenção e controle da inflação, garantindo que o mercado não perca a mão."

Problema duplo e malabarismo na corda bamba

Por isso, AbS tem um problema duplo: Ele precisa elevar a produção na quantidade suficiente para aplacar a Opep+, que deseja produzir mais barris neste verão, bem como arrefecer o rali intenso do petróleo, garantindo que a alta que ele autorizar não pese demais na psiqué dos participantes do mercado.

Para fins de registro, a Opep+ afirmou que considerava uma elevação de 500,000 barris por dia (bpd) em sua produção de agosto, após concordar com um aumento de 440.000 bpd em julho.

Mas nada está certo até que o grupo se reúna em 1 de julho. Não seria uma surpresa ouvir a Rússia e alguns outros países exigindo 700.000-800.000 bpd a mais em agosto, dado que a Opep+ ainda está segurando 5,8 milhões de bpd fora do mercado.

A Agência Internacional de Energia, que cuida dos interesses dos países ocidentais importadores de petróleo, solicitou que a Opep+ começasse a usar sua capacidade ociosa de produção, de modo a aumentar a oferta diante do repique da demanda. O Goldman Sachs estima que o mercado de petróleo registra um déficit de 3 mbpd e previu a cotação de US$80 antes de julho, uma profecia que tem tudo para se concretizar. Para não ficar para trás, o Bank of America previu US$100 por barril.

Tudo isso faz com que as manobras de produção de AbS sejam um malabarismo na corda bamba cada vez mais perigoso a cada reunião da Opep+, segundo Tariq Zahir, à frente do fundo focado em petróleo Tyche Capital Advisors, em Nova York.

O gestor afirma:

“As pessoas já começam a falar no petróleo a US$100, achando que os sauditas querem isso. Não poderiam estar mais equivocadas. AbS não quer o petróleo a US$100. Ele provavelmente ficaria satisfeito com o preço atual. Sua maior preocupação é manter a Opep+ unida a esses preços, em vez deixar todos produzirem loucamente como antes”.

“Além disso, assim que terminar o consumo do petróleo no verão, haverá uma desaceleração sazonal que afetará todo o setor de viagens, inclusive voos. Também existe a possibilidade de a variante Delta do vírus estragar a recuperação mundial nos próximos meses, bem como a probabilidade de o Irã fechar um acordo nuclear no quarto trimestre. Nada disso faz bem à demanda de petróleo”.

Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.

 

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