A Grayscale Investments confirmou, na semana passada, que obteve a aprovação da Autoridade Regulatória da Indústria Financeira dos EUA (FINRA, na sigla em inglês) para seu fundo Ethereum Trust, que começará a ser negociado via mercados de balcão (OTC) no início de junho. Estabelecido em 2017, o fundo só estava disponível até o momento a investidores qualificados e institucionais para transações privadas de, no mínimo, US$ 25.000.
Quando for lançado no mercado OTC, investidores de varejo também poderão ter exposição ao fundo, que será negociado com o código ETHE. A Grayscale está anunciando o produto como "o primeiro título cotado publicamente nos EUA, totalmente investido em Ethereum e cujo valor deriva do preço dessa criptomoeda."
Endossando a validade da criptomoeda
Muitos estão vendo essa última iniciativa da FINRA, de aprovar outro veículo de investimento em criptomoeda, como algo que reforça a validade da classe de ativos. Não por acaso, o momento desse lançamento coincide perfeitamente com a valorização geral do criptomercado, após os rápidos e profundos declínios vistos no final de 2017 e ao longo de 2018.
Ao longo da semana passada, o Ethereum, segunda moeda digital mais popular por capitalização de mercado, se valorizou 18,33%, antes de despencar 11,4% na sessão de ontem.
Existe, no entanto, um bom número de pessoas que acredita que derivativos focados em criptomoedas são, no melhor dos casos, uma forma efetiva de ter exposição a ativos digitais. Matthew Finestone, diretor de desenvolvimento de negócios da Loopring, um protocolo de código aberto para corretoras, é crítico desse último lançamento:
"Tirando o que tem de positivo, eu pessoalmente vejo esses fundos de certa forma como contrários aos ideais do Ethereum, do Bitcoin e das criptomoedas em geral. Eu prefiro ter o ativo base em si e ser protegido pela própria rede, e não por um fundo.”
Finestone também questiona a lógica de pagar taxas de administração quando você pode comprar o ativo diretamente sem custos adicionais. O ETHE da Grayscale cobra uma taxa anual de 2,5% por cota, o que representa aproximadamente 0,09662399 ETH. Na visão de Firestone, já é ruim não ter a criptomoeda diretamente, mas:
“É ainda pior ter um fundo que me cobre uma pequena porcentagem ao ano e, o mais importante, é negociado acima do valor líquido do ativo. Se a GBTC (Grayscale Investments) serve de alguma indicação de que o ETHE será negociado a um valor relativamente próximo ao do Ether, a expectativa é que os traders de varejo paguem cerca de 20-40% acima do valor de mercado para ter essa exposição. Isso é um pouco frustrante.”
Entretanto, é preciso destacar, como argumento favorável, que a possível segurança obtida ao investir em um fundo administrado pode valer o custo adicional. Iain Wilson, assessor da NEM Ventures, braço de venture capital e investimento da NEM blockchain, observa:
“Embora as taxas anuais associadas a esse fundo possam parecer altas, a possibilidade de investir pequenas quantias, como parte de uma carteira diversificada de aposentadoria, será o principal fator de demanda de investidores de varejo.”
Wilson também afirma que o fundo pode ter benefícios indiretos inesperados para os desenvolvedores da moeda digital.
“Para a plataforma do Ethereum, ter detentores passivos de dinheiro real no longo prazo permitirá que seus projetos consigam se financiar com mais facilidade através da liquidação de títulos de ETH.”
ETF de Bitcoin a caminho?
Evidentemente, sempre que um novo derivativo de criptomoeda recebe autorização regulatória, a próxima questão sempre é: quando os EUA vão aprovar um ETF (fundo negociado em bolas) de Bitcoin? Já foram realizados diversos pedidos nos últimos anos, mas todos foram rejeitados pela Comissão de Valores Mobiliários do país (SEC, na sigla em inglês).
“A eterna pergunta ‘E um ETF?’ pode se resolver de forma positiva até o fim de 2019 ou início de 2020", afirma Finestone.
“Até onde sei, os reguladores veem um problema na imaturidade das corretoras de criptomoedas, a qual as torna suscetíveis a manipulações. Um ETF se basearia em muitas dessas corretoras para marcar preços, evitar flash crashes, etc.”
”Entretanto, estamos começando a ver muita pesquisa séria mostrando que, enquanto muitas corretoras de criptomoedas podem apresentar volumes falsos, fixação errônea de preços, etc., as corretoras maiores e reguladas estão se profissionalizando em ritmo acelerado. O mercado de Bitcoin, em particular, é profundo e líquido para conseguir suportar um ETF, em minha opinião.”
“Estamos indo lentamente nessa direção”, concorda Kirill Bensonoff, CEO da OpenLTV. Ele acredita que isso possa acontecer já em 2020.
“Esse fundo [Grayscale ETH] está sendo negociado no mercado de balcão nos EUA, portanto ainda não chegamos ao ponto em que um criptoativo, ou um instrumento que representa um criptoativo, seja negociado em uma grande bolsa nos EUA. [Embora no futuro] eu acredite que possamos ter alguns cenários possíveis: uma aprovação de ETF ou listagem de um instrumento derivativo. Para um ETF ser aprovado, a SEC aguarda uma maturidade maior do mercado.”
Istanbul, Hard Fork do Ethereum, no horizonte
Quanto ao Ethereum em si, uma atualização de todo o sistema, ou hard fork, chamado Istanbul, deve entrar em operação durante o mês de outubro de 2019. Emma Cui, CEO da LongHash, incubadora mundial de blockchain, afirma que isso poderia dar um impulso à moeda digital:
“Atualmente, não existe uma proposta aceita sugerindo qualquer mudança maior no mecanismo de consenso ou na arquitetura subjacente do Ethereum, ou seja, o Istanbul do ETH só melhorará a experiência de uso, sem mudar a tecnologia em sua essência.”
“Até agora, a única proposta que foi aprovada sugere uma pequena mudança na taxa de Gas da rede do Ethereum, o que me faz acreditar que isso cria um Ethereum tecnicamente mais simplificado, em vez de criar um subproduto inteiramente novo.”