Publicado originalmente em inglês em 21/08/2020
Grandes empresas influentes nem sempre desejam dar visibilidade a todo o seu poder. Talvez seja isso que esteja passando pela cabeça dos executivos da Apple (NASDAQ:AAPL), que ganhou as manchetes internacionais esta semana ao se tornar a primeira empresa com uma capitalização de mercado de US$ 2 trilhões.
A Apple atingiu essa marca no momento em que as gigantes da tecnologia estão sob forte escrutínio regulatório ou crescendo rápido demais.
Na quarta-feira pela manhã, a alta das ações da Apple fez sua capitalização de mercado atingir um patamar jamais alcançado por qualquer outra companhia. Depois de dispararem 60% neste ano, seus papéis ficaram entre os maiores ganhadores durante a pandemia, que aumentou ainda mais a demanda por conectividade, entretenimento doméstico e comércio eletrônico.
A Apple, com seu popular iPhone e seu ecossistema de serviços, estava perfeita mente posicionada para se beneficiar desse novo ambiente e fortaleceu ainda mais sua posição de mercado. Esse novo marco de US$ 2 trilhões ocorre apenas dois anos depois de a empresa americana ter conseguido um valor de mercado de US$ 1 trilhão. O próximo trilhão, entretanto, pode não ser tão fácil de alcançar.
A seguir resumimos os três desafios que essa gigante da tecnologia enfrenta para continuar crescendo:
1. Loja de aplicativos sob investigação
A Apple está enfrentando um escrutínio regulatório cada vez maior em seus dois maiores mercados: EUA e Europa. Em junho, a União Europeia anunciou que havia aberto duas investigações antitrustes contra a Apple, sendo que uma delas examinava especificamente as diretrizes de requisitos do seu sistema de compra em aplicativos.
Em muitos dos casos, as empresas de tecnologia são acusadas de abusar do seu duplo papel como operadoras de marketplace e competidoras nesse mesmo marketplace. Se for considerada culpada, a Apple pode levar uma multa de até 10% da sua receita anual e ser forçada a ajustar suas práticas comerciais.
Ao mesmo tempo, o escrutínio de grandes empresas de tecnologia está crescendo nos EUA. O Departamento de Justiça, a Comissão Federal de Comércio e o Congresso estão investigando essas companhias, inclusive a Apple, em relação a possíveis casos antitrustes.
O último sinal de que essa questão continuará gerando desafios para a companhia foi o processo aberto pela Epic Games contra a Apple e o Google (NASDAQ:GOOGL) em uma corte federal após o videogame Fortnite ter sido removido dos seus marketplaces de aplicativos. A Epic deseja obter uma liminar contra a Apple, a fim de evitar a remoção do jogo e proibir a empresa americana de retirá-la do seu programa de desenvolvedores, de acordo com reportagens.
2. A aposta no 5G
O atual valuation das ações da Apple indica que a companhia em breve entrará em mais um superciclo de vendas, na medida em que os novos celulares habilitados para a tecnologia 5G devem impulsionar sua demanda. A expectativa geral dos analistas é que a Apple lance seu primeiro iPhone 5G nos próximos meses.
Entretanto, pode ser difícil vender esses modelos mais caros, pois a pandemia de covid-19 continua gerando insegurança para o trabalho de milhões de pessoas ao redor do mundo. Analistas do Bank of America levantaram preocupações similares em nota recente, citando a desaceleração das vendas nas lojas da Apple na China.
“A Apple está experimentando uma desaceleração no crescimento das receitas das lojas localizadas na China... Nossa preocupação é que isso pode ser um precursor de uma desaceleração similar em outras áreas, assim que as economias começarem a se reabrir.”
As ações da Apple, que fecharam ontem a US$ 473,10, são negociadas a 32 vezes seu lucro prospectivo (ou 31 vezes excluindo US$ 81 bilhões em caixa líquido no balanço patrimonial da companhia). Essa métrica também equivale ao dobro do múltiplo do que as ações valiam quando o valor de mercado da Apple cruzou pela primeira vez a marca de US$ 1 trilhão em agosto de 2018.
“Tudo o que um valuation de US$ 2 trilhões significa é que os investidores da Apple estão agora dispostos a pagar duas vezes pela mesma perspectiva de resultados”, declarou Dan Gallagher, do Wall Street Journal.
“Com um setor estratégico sob ataque – e toda a histeria com o lançamento do iPhone 5G nos próximos meses em meio a uma combalida economia mundial – de fato é uma grande aposta”.
3. Inovação contínua
A Apple é uma empresa reconhecida pela inovação. Para impulsionar ainda mais seu ciclo de crescimento, deve manter sua máquina de inovações funcionando. Em junho, a Apple apresentou um conjunto de adições de software à sua família de aparelhos, incluindo as mudanças mais drásticas na tela inicial do iPhone desde o lançamento do produto em 2007.
Os AirPods que incorporam a tecnologia de surround sound e áudio espacial e o Apple Watch com suporte para mais atividades de saúde, como rastreamento dos movimentos de dança e da rotina de sono dos usuários, são alguns exemplos de como a inovação da Apple deseja usar a integração entre hardware e software para aumentar a adesão ao seu ecossistema.
Daqui para frente, a Apple precisa lançar novos aplicativos capazes de operar com a maior velocidade da tecnologia 5G sem fio, o que torna a atualização dos celulares mais atraente.
De acordo com uma reportagem da Bloomberg na semana passada, a Apple está preparando uma série de pacotes que permitirão que os clientes assinem diversos serviços digitais da companhia por uma mensalidade mais baixa.
Os pacotes, chamados “Apple One”, devem ser lançados já em outubro, em conjunto com a próxima linha de iPhones, a fim de incentivar os clientes a assinar mais serviços da empresa.
Resumo
As ações da Apple já mostraram que são uma excelente escolha para investidores de longo prazo e não há qualquer sinal de que sua posição dominante esteja sob ataque. Mas, após o poderoso rali deste ano, que fez sua capitalização de mercado ser a mais alta do mundo, há pouco espaço para que a empresa cometa erros.