A economia dos EUA registrou uma expansão muito mais lenta do que se esperava no primeiro trimestre, o que vem sendo encarado como um prelúdio de uma recessão, na visão de alguns analistas. Seria ingênuo descartar essa possibilidade no clima atual, mas é preciso ressaltar que há argumentos no sentido de que a economia americana pode continuar se expandindo de forma lenta e constante.
Basta ver os detalhes da estimativa inicial do PIB no primeiro trimestre. A produção cresceu 1,1%, muito abaixo da previsão consensual de 2,0%, ainda mais do crescimento de 2,6% do quarto trimestre (taxas anuais ajustadas sazonalmente). Apesar da desaceleração geral, o consumo não foi o fator mais importante.
De fato, os gastos com consumo pessoal, de longe a maior fatia da atividade econômica, aceleraram 3,7% nos primeiros três meses do ano, ritmo mais forte em quase dois anos. Graças ao nível de renda e poupança mais elevado, a economia real continuou registrando uma atividade de compras mais robusta, compensando parte da fraqueza em outras áreas da economia do país. Já os gastos empresariais tiveram uma forte queda, diante do recuo dos estoques e dos investimentos em imóveis e equipamentos comerciais.
O resultado final foi um crescimento mais fraco, mas alguns indicadores sugerem que a economia americana está se estabilizando em um ritmo mais lento, em vez de entrar em uma recessão. Um sinal disso é o WEI, índice econômico semanal do Fed de Nova York , que se manteve estável recentemente, depois de cair por mais de um ano. Embora o PIB possa e, às vezes, difira bastante do WEI, o índice de abril do Fed de Nova York sugere que a desaceleração da economia geral pode se estabilizar a um ritmo mais fraco de expansão no segundo trimestre.
Uma narrativa semelhante é encontrada nos dados da pesquisa de abril. O PMI Composto, um indicador de atividade econômica, recentemente se fortaleceu, sinalizando que o risco de recessão pode ser menor do que algumas previsões sugerem, com base em dados publicados em 21 de abril, antes dos números do PIB divulgados ontem.Chris Williamson, economista-chefe de negócios da S&P Global Market Intelligence, declarou o seguinte:
"A última pesquisa mostra sinais de que a atividade empresarial se recuperou após uma contração nos sete meses até janeiro. A leitura mais recente do PMI [para abril] indica que o PIB está crescendo a uma taxa anualizada um pouco acima de 2%".
O ponto negativo é que outros indicadores apontam para uma economia que segue em desaceleração e, em breve, acabará entrando em recessão. O mercado de títulos é extremamente importante neste ponto, em vista da curva de juros profundamente invertida. A rígida política monetária está na lista de fatores que aumentam a expectativa de que a economia americana se contrairá no futuro próximo. Os efeitos defasados do aumento da taxa de juros ainda estão se acumulando, razão pela qual poderemos ver mais obstáculos pela frente, segundo essa perspectiva.
No entanto, também é útil considerar a variação do PIB ano a ano para reduzir o ruído trimestral para uma visão geral. Apesar da comparação trimestral mais fraca, a tendência de um ano do PIB real aumentou no primeiro trimestre, subindo 1,6% contra 0,9% no quarto trimestre. Essa ainda é uma taxa lenta, mas é bom ver que o ritmo se fortaleceu e permanece bem acima do ponto de inflexão de zero por cento, alinhado a recessões do passado.
Outro fator-chave é o mercado de trabalho. Embora haja sinais de que o ritmo de contratação esteja desacelerando, os dados recentes ainda refletem uma sólida geração de postos de trabalho. Os pedidos de seguro-desemprego, indicador antecipado do mercado de trabalho, permanecem perto das mínimas históricas, sinalizando que as contratações continuarão positivas no curto prazo.
Não se pode descartar o risco de recessão, mas, no momento, tudo indica que não há uma crise iminente. Se e quando a economia entrar em tendência descendente, os números começarão a se inclinar decisivamente para o lado negativo. Pode ser que isso venha a ocorrer, mas, por enquanto, ainda há espaço para discussão.