Esta semana o brilhante pesquisador e professor Hendrik Bessembinder nos ensinou um pouco mais sobre como ganhamos com a diversificação nas carteiras de ações, em sua palestra no evento promovido por Empiricus e Vitreo.
A conclusão de seus estudos, apresentado com detalhes de dados de diversos países, dos EUA ao Brasil, mostram claramente como a maior parte da criação de riqueza no mercado de ações vem de poucas empresas: 90% da criação de riqueza para os acionistas veio de apenas 1% destas empresas mais rentáveis nos EUA - exemplificado pela diferença entre o retorno médio, de 290% e o retorno mediano, de -17%. O mesmo fenômeno ocorre em outras bolsas e países, como demonstrado pelo professor em detalhes na sua apresentação.
Portanto, para aqueles que sempre me pedem que conte qual a minha ação preferida ou para que eu fale apenas uma ação para que invistam, como que diminuindo o “favor” prestado pela analista, eu agora retribuo com um favor maior ainda, dizendo que seria muito ruim indicar apenas uma preferida ou apenas uma empresa para que coloquem suas economias.
Em verdade, toda vez que me pedem que fale apenas uma ação hoje em dia, eu me nego ou faço um belo ressalve em pró da diversificação em outros papéis, pois penso que estaria fazendo um verdadeiro desserviço com esta suposta “dica quente”, uma vez que se o pobre desavisado alocar toda sua parcela destinada para a renda variável em apenas uma ação - dar um “all in” no jargão do mercado - poderá realmente se dar mal.
Para aqueles que acham que a minha negativa em indicar apenas uma única ação, “aquela que subirá mais” é má vontade, os dados do professor Hendrik deixam muito claro que diversificar é mais que uma questão de responsabilidade, mas também uma verdadeira necessidade para quem investe, principalmente em ações.
Indicar investimento em ações, sem atentar para a diversificação, para mim poderia estar no código penal. Brincadeiras à parte, poderia estar sim no disclaimer obrigatório dos analistas de investimento, em minha opinião. Algo como: Investimento em ações sem diversificação traz riscos demasiadamente altos de erro.
Quando eu comecei a trabalhar no mercado, como estagiária na corretora, há cerca de 15 anos, eu como toda boa jovem boba que acha que suas ideias são totalmente disruptivas e geniais pensei que, se eu comprasse um pouco de cada ação small cap que existisse na bolsa, em 10 nos eu estaria rica, pois certamente alguma delas viraria o Google (NASDAQ:GOOGL) (SA:GOGL34). Ainda bem que naquela época meu salário era de estagiária.
Não preciso nem contar o final da história, afinal você sabe que nenhuma empresa chegou ao patamar do Google no Brasil, ou mesmo da Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34), que aliás foi a empresa que mais criou riqueza para seus acionistas segundo o estudo do professor.
Então, além da importância da diversificação , eu gostaria de adicionar um pitaco, decorrente da minha experiência pessoal, ao exposto pelo mestre.
Diversifique, mas de forma inteligente. Não adianta comprar qualquer coisa, sem analisar. Se analisando e estudando muito as ações e empresas, os analistas e gestores já erram, não vá cair na tentação de comprar qualquer coisa como eu fiz aos meus 18 anos. Isso na maior parte das vezes não funciona. Se funcionar, é sorte, e, de fato, a sorte importa. Mas estamos aqui tentando falar de investimentos.
Aproveitando, no Brasil, as ações vencedoras de 1990 a 2020 foram a Vale (SA:VALE3), o Itaú (SA:ITUB4), o Bradesco (SA:BBDC4) e a Souza Cruz, segundo o estudo do professor.
A essa altura penso que poderíamos defender o uso dos ETFs, os quais acabam se beneficiando de uma certa “Seleção Natural Darwiniana” ao passar do tempo, com os cases mais vencedores ganhando mais espaço e os perdedores desaparecendo, exatamente como ocorre com a seleção natural das espécies.
Confesso que sou viesada para opinar, pois como analista de investimentos eu me dedico ao extremo para realizar um bom stock picking, e sabemos que o retorno de excelentes gestores de fundos ativos no longo prazo supera os benchmarks. Agora, entre a escolha por comprar qualquer coisa, investir em qualquer empresa aleatoriamente, sem estudar, eu se fosse você preferiria um ETF, por experiência própria, lá do meu início de carreira.
Se você, assim como eu, gosta de saber exatamente o que tem na sua carteira e o porquê está lá, tudo bem, conte com o auxilio de bons analistas para te ajudar nisso, é para isso que estamos aqui.
Mas uma coisa é inquestionável: a diversificação – inteligente- deveria ser a lição número um para quem pretende ganhar dinheiro com ações.