O final da semana passada foi algo caótico no aspecto político, completando um período de governo sem muito comando. Começamos a semana discutindo ainda o uso de recursos do Fundeb e de precatórios para formar a nova denominação do programa social que substituiria o Bolsa Família e outros, agora intitulado de "Renda Cidadã".
Antes disso, já tínhamos assistido algum entrevero entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia e o ministro da Economia, Paulo Guedes, com acusações de demora na entrega de reforma tributária mais completa e alegações de que Maia estaria fazendo corpo mole, adotando tática petista. Já sobre o programa Renda Cidadã, as disputas são entre Paulo Guedes e o ministro da Integração Social, Rogério Marinho. Marinho sugere que o relator no Congresso fure o teto de gastos para viabilizar o programa, enquanto Paulo Gudes só admite isso numa hipótese de segunda onda de contaminação pela covid-19 e não como plataforma política.
A briga pelas redes sociais foi intensa entre os dois ministros, mostrando as disputas viscerais do governo. Mas é fato que o presidente Bolsonaro gosta do programa como alavancador da aprovação de seu governo, principalmente no norte e nordeste do país (deslocando o petismo), e daria muita força para um novo mandato em 2022. Basta ver o efeito em sua imagem do auxílio emergencial da pandemia. Até aqui o presidente tem dado sinais dúbios, bloqueando as ideias da equipe econômica de como arranjar recursos para o programa Renda Cidadã e dizendo que Paulo Guedes tem o comando de 99,9% das ações na área econômica. Mas também tem o ministro Marinho como um dos mais próximos, inaugurando obras pelo norte do país a convite do ministro.
Se nas disputas com Rodrigo Maia, a classe política anda tentando pôr panos quentes e até marcando almoço entre os dois para apaziguar (previsto para 5/10), nas disputas entre os ministros a situação parece diferente e anda exigindo uma atitude mais severa do presidente Bolsonaro. De nossa parte, temos sistematicamente dito que o governo (presidente e seus ministros), têm que endereçar absolutamente o que pretendem fazer (e como), notadamente no pós-crise. O efeito está aí mesmo para quem quiser ver.
Investidores estressados e investidores estrangeiros sacando recursos do país mesmo com o dólar já beirando R$ 5,70, dificuldades de rolagem de dívidas em prazos mais longos, Banco Central se mostrando mais preocupado, sugestão de pedaladas fiscais, nível de endividamento já tangenciando os 90% do PIB (último dado em 88,8%), reformas que não andam (e não devem caminhar quase nada nesse final de ano de eleição de prefeitos); e muita coisa a ser feita, enquanto os três poderes se confrontam numa disputa absolutamente inglória. Se a isso juntarmos todas as críticas ambientais que, por exemplo, interrompem as negociações entre a União Europeia e o Mercosul, a necessidade de colocar um basta nessas disputas se torna ainda mais forte.
Estamos perdendo tempo precioso nesses embates, enquanto o país sangra com a falta de recursos e os investidores externos começam a largar o país. Se ainda restam resquícios de nacionalismo e patriotismo entre os três poderes, a paz deveria ser buscada com o intuito de acelerar mudanças que são fundamentais para mudar a trajetória do Brasil e atrair investidores de boa cepa que nos ajudariam a crescer mais rápido e desenvolver nosso país.
Torcemos para que o “estalo de Vieira” aconteça com as lideranças dos três poderes e que tudo que precisamos fazer comece a fluir. Mas reconhecemos que é difícil de ocorrer.