Embora ainda contemporizada e enfatizada somente com aumento exponencial das tarifas, o fato concreto é que a crise hídrica/energética já é uma dura e nefasta realidade no país.
E, com ela, vêm de imediato os impactos inflacionários e a absoluta necessidade de revisão das projeções acerca da retomada da atividade econômica do país, o crescimento do seu PIB, e a contaminação do fato aos preços relativos da economia, fortalecendo a perspectiva de que 2021 poderá fechar com IPCA em dois dígitos, com folga, embora ainda perdure a projeção que deva estar em 8%.
Ora, se temos 9,3% nos últimos 12 meses, e há um cenário prospectivo sobre o último quadrimestre deste ano com forte pressão inflacionária, tudo leva a crer que este número ao final do ano chegará aos dois dígitos.
Ambiente extremamente desafiador para o “novo independente” BC e o COPOM, que se não focar com rigor o fato que se vislumbra poderá, ao tentar atenuar esta realidade, agravar mais o quadro, visto que o juro aquém da necessidade “vis-a-vis” a inflação, sabidamente, provoca inúmeras distorções e até estimula mais inflação, em especial, a partir do preço do dólar que é não responsivo nesta situação, dado a insuficiência.
É de se lamentar a forma com que certas autoridades justificam este cenário decrépito. Evidentemente, os governos não têm culpa pela falta de chuvas, mas certamente a tem pela ausência de investimentos, e então, apelando para a “pseudo solução” mais fácil, eleva preços e desmantela todas as perspectivas mais imediatas para o país.
Quando o Presidente diz que o país está no “limite do limite”, poder-se-ia entender como a “beira do caos”, visto não ter solução concreta para o fato absolutamente reversivo de todas expectativas e que, certamente, tornará o mercado financeiro e suas projeções mais defensivas e cautelosas.
Acreditamos que o BC/COPOM não deveria aguardar a nova reunião, mas sim, dada a relevância do fato e suas repercussões imediatas na economia, adotar a excepcionalidade de ajustar a taxa SELIC de forma extraordinária, que seria a atitude correta e pontual e evitaria a disseminação da inflação pelos preços relativos da economia e, se promulgada na exata necessidade, conter pressões sobre o preço do dólar.
E devemos considerar que está presente, também, a pressão inflacionária sobre os combustíveis, outro fator preponderante na impulsão inflacionária e que poderia ser atenuada com o preço da moeda americana melhor calibrado.
Não há com que se preocupar com o setor de commodities, em especial o agronegócio, que é experiente e já deve ter se posicionado no mercado futuro de dólares pela safra seguinte, visto que há indícios procedentes de que os preços internacionais percam parte do aquecimento ocorrido ao início da retomada da atividade econômica das grandes potenciais.
Há muita preocupação interna com os fatores externos, em especial com as decisões que o FED americano venha a adotar na política monetária, mas é importantíssimo que não se perca o foco principal que é a nossa situação interna fortemente abalada pelo novo cenário prospectivo mais concreto.
O risco de agravamento fiscal neste ano e no próximo é bastante latente, visto que o governo está amplamente envolvido no clima eleitoral do pleito do próximo ano, e o cenário que se propaga lhe é desfavorável.
O país tem soberbos desafios como as reformas imprescindíveis, desemprego massivo embora a economia venha gerando empregos mais ainda modestamente face à necessidade o que poderá ser afetado, mas seguramente precisa priorizar ações para evitar que a crise hídrica/energética cause maiores danos à economia e à população do país.
É impositivo que haja mais ações pontuais, contundentes e pró-ativas por parte do governo, como a antecipação da elevação da taxa SELIC, antes que o mercado se desorganize mais, para mitigar, dentro do possível, os impactos negativos do novo cenário prospectivo.
Neste momento, o BC/COPOM precisa estar à frente dos ditames do mercado financeiro no enfrentamento de conter as mudanças bruscas de expectativas.