- Com a retomada do crescimento do lucro em 2022 e um valuation razoável, a BUD tem todos os atributos para uma compra.
- Mas as bases comparativas são de certa forma fáceis, e a tendência plurianual continua negativa.
- ABI precisa mostrar um crescimento consistente do lucro antes de a ação realmente ficar atraente.
Nos últimos, a Anheuser-Busch Inbev BDR (BVMF:ABUD34) (NYSE:BUD) tem sido uma das piores ações de grande capitalização de todo o mercado:
Os papéis da empresa afundaram 64% desde as máximas de 2017. A causa dessa correção é simples. A AB InBev está muito endividada, e seus lucros simplesmente pararam de crescer. Em 2017, a companhia gerou US$ 22,1 bilhões em Ebitda normalizado. Quatro anos depois, o número foi de US$ 19,2 bilhões.
Esse declínio criou um quádruplo revés para a ação. Primeiro, o múltiplo de Ebitda pelo qual os investidores estavam dispostos a comprar acabou caindo: os lucros de uma empresa em declínio valem muito menos do que os de uma empresa em crescimento.
Em segundo lugar, o Ebitda real teve queda. Assim, o valor que os investidores atribuiriam a toda a empresa baixou em um ritmo mais rápido do que os lucros.
Mas, evidentemente, as ações da BUD não representam toda a empresa, mas somente o patrimônio líquido. E a dívida no balanço permanece inalterada. A AB InBev tinha mais de US$ 100 bilhões em empréstimos no fim de 2017. Dessa forma, o valor patrimonial da AB InBev caiu mais rápido do que os lucros, e sua capitalização de mercado recuou ainda mais rápido do que isso. Para completar, o decepcionante fluxo de caixa livre sinaliza uma capacidade menor de quitar os débitos daqui para frente.
Nesse contexto, um recuo de 60% na BUD não é uma surpresa. Mas isso pode – ênfase no “pode” – criar uma oportunidade.
Afinal, o mesmo mecanismo funciona na direção contrária. Não quero dizer que a BUD tenha um caminho fácil de volta à cotação de mais de US$ 130, mas, se a empresa começar a gerar crescimento, há espaço para que a ação reconquiste uma quantidade significativa do que perdeu até o momento.
Neste momento, a AB InBev está gerando crescimento. A questão é saber se isso é suficiente.
Argumentos a favor da ação da BUD
Tudo indica que a AB InBev voltou aos trilhos. Após o balanço do 3º tri, divulgado na semana passada, a companhia elevou suas projeções para todo o ano para um Ebitda normalizado, com crescimento de 6-8%. O volume de vendas aumentou 3,7% ano a ano.
No contexto do ambiente externo, esse desempenho é muito impressionante. Como analista, notei que, na teleconferência de resultados do 3º tri, o segundo maior mercado da Budweiser é a China, que está lidando com vários bloqueios relacionados à pandemia do novo coronavírus.
A inflação está pressionando os consumidores em todo o mundo. O crescimento macroeconômico desacelerou. Os custos dos insumos aumentaram. A avaliação é que, se a AB InBev consegue aumentar os lucros nesse ambiente, também pode fazer o mesmo a partir de agora. De fato, isso é o que a gerência da companhia está dizendo: a AB InBev projeta um crescimento do Ebitda normalizado de 4% para 8% daqui para frente.
E, nesse ponto, até mesmo um modesto crescimento é suficiente para tornar a ação da BUD vencedora. Isso permitiria que a companhia continuasse quitando suas dívidas. Ela já se desalavancou em mais de US$ 20 bilhões em um pouco mais de quatro anos. Ao mesmo tempo, como a BUD é negociada a 16x os resultados deste ano e a menos de 9x o Ebitda, nem todo esse crescimento potencial está precificado.
Como foi o desempenho da empresa em 2022?
Dito isso, pode ser cedo demais para sair comprando a ação neste momento, por um conjunto de razões.
A primeira é que, mesmo diante dos atuais desafios, a comparação com o ano passado continua branda. Os resultados de 2021 sofreram com os lockdowns da pandemia, principalmente no primeiro semestre do ano. Seus resultados do 3º tri mostraram força em muitos países da América Latina, onde a recuperação em relação à pandemia foi mais lenta, e os resultados de 2021, em alguns casos, continuaram deprimidos.
A segunda razão para ter cautela é que até mesmo o crescimento em 2022 aponta para uma queda da BUD em bases plurianuais. (Isso também ressalta a ideia de que as bases comparativas são bastante difíceis, ainda). O ponto intermediário das projeções sugere que cerca de US$ 20,5 bilhões em Ebitda normalizado, uma queda de cerca de 7% em relação ao nível alcançado cinco anos antes.
Em certa medida, o que a AB InBev fez até o momento foi a parte fácil. Ela estancou a sangria. A estabilização já começou. Mas ela também o fez em um momento em que cervejarias menores estão mais suscetíveis aos impactos inflacionários que o mundo está testemunhando.
A partir de agora é que a parte difícil realmente começa. A AB InBev continuou aumentando as vendas de bebidas premium em mercados desenvolvidos, o que gerou um impulso de 58% na receita do ano passado (apesar da menor participação do lucro). Ela precisa combater o contínuo crescimento de cervejas artesanais em mercados desenvolvidos, principalmente nos EUA, o que vem deteriorando continuamente a participação de mercado da Budweiser.
Ela tem capacidade de fazer isso. Produtos como Bud Light (BVMF:LIGT3) Seltzer e os coquetéis Cutwater prontos para beber demonstram ter potencial de crescimento. Michelob Ultra está sendo implementada em todo o mundo. As cervejas artesanais podem ter atingido a saturação nos EUA e na Europa.
Esse sem dúvida é um argumento para comprar BUD agora, apostando que esse crescimento terá continuidade. Os investidores simplesmente precisam compreender a aposta que estão fazendo, e os riscos envolvidos.
Aviso: No momento em que escrevia este artigo, Vincent Martin não tinha posições em quaisquer dos ativos mencionados.