Os dados do PMI de serviço japonês, através da pesquisa realizada pelo au Jibun Bank, mostraram que o setor permanece em uma tênue expansão em outubro, mas ainda assim, enfrentando desafios de uma demanda historicamente estagnada. O Índice PMI de Serviços avançou de 51,1 em setembro para 51,6 em outubro, contrariando as expectativas de mercado, que indicavam que o índice permaneceria estacionário. Abaixo irei setorizar a análise do PMI, destrinchando ponto por ponto as condições do setor de serviços da economia japonesa:
1) As condições de demanda interna que se encontravam em expansão durante os três primeiros trimestres do ano parecem ter diminuído conforme a demanda reprimida foi sendo realizada ao mesmo tempo que as pressões inflacionárias exógenas foram se acumulando. Portanto, a realização da demanda, aliada com as expectativas de inflação futura dos consumidores japoneses, deprimiram a pressão que outrora vigorava no país. A percepção da deterioração da demanda interna provocou uma diminuição marginal na confiança empresarial, com os agentes de mercado adaptando as suas expectativas com os novos dados do mercado.
2) Para tentar reaquecer a demanda, e tendo em mente o histórico deflacionário da economia japonesa, o BoJ continua a adaptar suas condições acomodatícias no campo da política monetária, de forma a estimular o crédito e o consumo. O BoJ, na contramão da maioria dos bancos centrais, irá expandir o seu programa de “Afrouxamento Quantitativo” (Quantitative Easing), anunciando a compra de 12 trilhões de ienes em ETFs e 180 bilhões de ienes em J-REITS. Por outro lado, mantendo a sua política de Controle da Curva de Rendimentos, a “Yield Curve Control”, o BoJ pretende flexibilizar as taxas de longo prazo, deixando o Título JGB de 10 anos variar até 1%, mas mantendo a meta em 0%, sem utilizar de limites rígidos e estacionários. Ainda assim, o BoJ reforça a sua taxa de depósito em -1%, desestimulando a manutenção de reservas junto ao BoJ. As operações de Suprimentos de Fundos com Garantias Colateralizadas continuarão, tanto para ajustar a liquidez no mercado, quanto para controlar a curva de juros.
3) A política monetária, que, nas palavras de Ueda, o seu papel no contexto econômico japonês, visa a criação de um “ciclo virtuoso”, de forma a concomitantemente com o aumento de preços, aumentarem também os salários, fomentando o consumo interno. Na minha opinião, dada a natureza praxeológica da economia, os riscos subjacentes à manutenção de dinâmicas desse tipo podem criar espirais inflacionárias, uma vez que o excesso de estímulos e alavancagem na condução de políticas monetárias, quando desajustados com as capacidades reais de uma economia e os padrões de consumo, podem levar tanto a episódios de hiperinflação quanto de “debt deflation trap”, a depender da resposta da demanda agregada.
4) As pressões inflacionárias visíveis no PPI, apesar de se encontrarem em patamares elevados, diminuíram seu ritmo de aceleração quando comparado com os do ano passado. A inflação ao consumidor, acompanhando o repasse da inflação ao produtor, subiram, porém, de maneira menos vertiginosa no ano passado, e desaceleraram esse ano, apesar de se encontrar em crescimentos elevados se olharmos as dinâmicas de inflação japonesas, que em muito divergem de outras economias.
Em resumo, os dados do au Jibun Bank Japan Services PMI de outubro mostram que o setor de serviços japonês continua crescendo, mas em um ritmo mais lento, com desaceleração no crescimento de novos negócios e pressões inflacionárias persistentes. A confiança empresarial diminuiu, mas o emprego aumentou marginalmente por conta do afrouxamento monetário. O otimismo em relação ao futuro ainda é historicamente alto, dadas as conjunturas macroeconômicas complicadas, embora tenha diminuído em relação ao mês anterior. Seguiremos acompanhando de perto os dados japoneses.