Nesse texto, analiso, de forma acadêmica, a ação BBDC3 (BVMF:BBDC3). Que os dois grandes bancos privados do Brasil vêm enfrentando dificuldades desde a pandemia não é uma informação nova para ninguém. O Itaú (BVMF:ITUB4) não bateu a máxima histórica de cerca de R$ 32 por ação obtida em 2019, embora tenha se recuperado. O Bradesco (BVMF:BBDC4) pior ainda, com o papel amargando uma queda de mais de 50% comparado com o pré-pandemia. Esse artigo visa analisar o Bradesco e verificar se ele ainda é boa compra ao preço atual.
Primeiramente, a ação do Bradesco teve uma alta devida ao fechamento de capital (OPA) da Cielo (BVMF:CIEL3), fechamento esse que será executado juntamente com o Banco do Brasil (BVMF:BBAS3). Porém, esse movimento de alta foi muito curto, com as ações despencando devido a um resultado bastante ruim do banco. O lucro líquido do quarto trimestre de 2023 foi 38% abaixo do resultado do trimestre anterior, com o resultado acumulado de 2023 sendo 21% menor do que 2022.
O comunicado do Bradesco, que é enviado justamente com as demonstrações financeiras, divulga que o banco vem reduzindo o risco da sua carteira de crédito, o que deve diminuir a sinistralidade dos recebíveis, porém ao mesmo tempo também diminui a margem do banco, tendo em vista que esses créditos possuem taxas de juros menores.
A grande questão que envolve o Bradesco é, já que o lucro de 2023 foi cerca de 21% menor que o de 2022, como será o lucro de 2024, cujas receitas serão impactadas pela limitação dos juros do rotativo? Embora essa seja uma questão sistêmica a todos os bancos, o Bradesco tende a sofrer mais com essa limitação devido a uma estrutura de custos menos eficiente do que Itaú ou até mesmo do que o Banco do Brasil.
Tendo em vista o preço da ação ordinária de R$ 12,52 e levando em conta um guidance de dividendos (JCP líquidos de IR com alíquota de 15%) da ordem de R$ 1,79 por ação ordinária, o preço médio descontado daqui a 12 meses é de R$ 10,73, o que dá uma margem de segurança de cerca de 15% para a ação em um horizonte de um ano.
Além disso, tendo em vista que o P/VPA da ação está em 0,8, e, portanto, uma ação ordinária possui valor patrimonial acima do valor de mercado (R$ 15,62 de valor patrimonial versus R$ 12,52 de valor de mercado), a ação é uma compra a valores atuais a fim de se executar um trade de valor.
Já que a ação possui margem de segurança até R$ 10,73 para 12 meses, um stop loss é possível na casa de R$ 9,50 por ação e um preço alvo de realização de lucro seria de R$ 15,00 (20% de retorno sobre o valor atual mais os dividendos recebidos durante o período de investimento, porém com um P/VPA na casa de 0,95).
Um grande ponto que demonstra uma certa irracionalidade do mercado com o Bradesco é que o P/VPA do Banco do Brasil é também exatamente de 0,8. O Banco do Brasil possui características de riscos sistemáticos muito mais evidentes do que o Bradesco, devido à natureza estatal da empresa. Se analisarmos o P/VPA do Santander (BVMF:SANB11), esse é um valor de 0,94, muito mais em linha com o esperado para o Bradesco do que os atuais 0,80. O preço alvo de R$ 15,00 está em linha com o P/VPA do Santander.
Como toda análise de um trade de valor, devem existir catalizadores para que o valor intrínseco volte à paridade com o valor de mercado. Existem dois possíveis catalizadores para que o P/VPA da empresa volte a casa dos 0,90. Primeiramente é a redução da SELIC, que aqueceria o mercado de crédito, especialmente o imobiliário, impactando positivamente o lucro do Bradesco. O segundo catalisador é o fechamento de capital da Cielo, o que potencializaria sinergias, especialmente com o fato de que o fechamento de capital da Cielo está sendo realizado em um preço muito interessante para o Bradesco, com um prêmio mínimo para os minoritários.
Como todo texto meu aqui no Investing.com, este é um material didático e acadêmico que explicita como uma análise fundamentalista de uma ação e uma comparação de uma empresa com seus pares pode ser feita, sem esse texto ser uma recomendação de compra ou venda.
Para fins didáticos, me comprometo a escrever um novo texto aqui no Investing.com após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2024, a fim de demonstrar que pontos dessa análise estavam corretos e em quais pontos me equivoquei.