Olá, Pessoal. Neste artigo, compartilharei com vocês uma análise do mercado de FIAs, os fundos de investimentos em ações. Ao contrário do que normalmente faço em minhas análises das melhores e piores ações da bolsa, eu não comentarei sobre desempenhos individuais de FIAs porque não quero correr o menor risco de expor um gestor. Minha ideia é dar um belo panorama do mercado de FIAs e ajudar você leitor a posicionar FIAs (que você possui em carteira ou que estuda investir) dentro de um contexto geral desse mercado.
Como sempre sugiro a clientes e amigos, uma análise de qualquer tipo de investimento jamais pode se deixar levar apenas pelo desempenho mais recente ou apenas por rentabilidades. Observar períodos mais longos é fundamental para analisar a persistência de eventuais boas performances. Da mesma forma, verificar o risco ao qual a estratégia do fundo se expõe permite avaliar se ele se adequa ou não ao seu perfil de investidor. Por fim, analisar a performance ajustada a risco é importante para concluir se um eventual ótimo desempenho permanece adequado mesmo após o risco ser considerado.
Nas análises a seguir, utilizo as rentabilidades acumuladas em períodos recentes de um, três e cinco anos. Uso como medida de volatilidade o desvio-padrão amostral e anualizado dos retornos mensais dos fundos. Finalmente, utilizo como medida de desempenho o tradicional índice Sharpe, calculado de forma anualizada e relativo ao CDI como taxa livre de risco. Quem lê minha coluna assiduamente sabe que sou um crítico ferrenho do índice Sharpe, tendo desenvolvido o índice Campani, que corrige as distorções do Sharpe (e até do Sortino). Não obstante, preferi desta vez utilizar a medida de desempenho tradicional para facilitar comparações. Além disso, dentro de uma mesma classe de fundos, as distorções provocadas pelo Sharpe se reduzem um pouco.
A amostra de fundos analisados contou inicialmente com todos os 3.094 FIAS disponibilizados pela plataforma de dados da Quantum Finance, à qual agradeço pelos dados gentilmente disponibilizados. Por conta de muitos fundos sem histórico de cotas em cinco anos e alguns replicados em estruturas feeder-master, analisamos uma amostra final com 1.215 FIAs.
ANÁLISE DE RENTABILIDADES
Apresento abaixo os retornos acumulados em um, três e cinco anos para os seguintes percentis da amostra: 90%, 75%, 50%, 25% e 10%. A interpretação é a seguinte: se o FIA que você analisa teve uma rentabilidade de 64% nos últimos 12 meses, isso significa dizer que ele se posiciona dentre os 10% melhores FIAs, tendo em vista que sua rentabilidade foi acima da rentabilidade do percentil 90%. Esse resultado teria sido excepcional. Por outro lado, uma rentabilidade de 30% nos últimos três anos significaria que o fundo analisado estaria entre os percentis 10% e 25%, ou seja, na cauda inferior e isso seria má notícia para o seu gestor.
ANÁLISE DE VOLATILIDADES
A interpretação da tabela abaixo é similar à anterior, mas agora quanto menor a volatilidade, melhor, pois isso significa que o fundo corre menos risco e tem flutuações menores em sua rentabilidade histórica. Por esse motivo, perceba que os percentis estão em ordem crescente desta vez. Compare um FIA que você queira analisar vis-à-vis a tabela abaixo para saber se o risco assumido por ele está acima ou abaixo da média de mercado.
ANÁLISE DE DESEMPENHOS AJUSTADOS A RISCO
Uma análise que não pode faltar na hora de escolher um fundo para investir é aquela que junta as duas métricas anteriores: é o que chamamos de performance ou desempenho ajustado ao risco assumido. Na tabela abaixo, uso o índice Sharpe. Um Sharpe acima de 0,53 nos últimos cinco anos significa dizer que o fundo ficou acima de mais de 50% dos FIAs. Um Sharpe acima de 0,91 nos últimos cinco anos o colocaria na cauda dos 10% melhores FIAs, de acordo com essa métrica de performance.
ANÁLISE: FIAs VERSUS IBOVESPA
Nas duas tabelas abaixo, indico o percentual de FIAs que conseguiram bater o principal índice da B3 (SA:B3SA3), o (Ibovespa). Nos últimos 12 meses, apenas 38,9% dos FIAs analisados obtiveram rentabilidade acima do Ibovespa, mas se considerarmos os últimos três e cinco anos, esse percentual sobe bastante, para respectivamente 74,3% 3 67,2%.
Ao analisarmos a performance ajustada a risco pelo índice Sharpe, percebemos na tabela a seguir que a maioria dos gestores de FIAs consegue bater o Ibovespa. Ponto para a gestão profissional.
Espero que as análises acima sejam úteis para vocês. Vejo muitos investidores que não conseguem realizar análises de fundos por falta de dados para comparação e, então, a saída é comparar com benchmarks de mercado tal como o Ibovespa para FIAs ou até o CDI para fundos multimercado. Entretanto, essa análise é um pouco rasa, sendo o ideal comparar com fundos da mesma classe e saber como determinado fundo se posiciona em relação aos seus pares. Meu objetivo com esse artigo foi justamente trazer base de comparação para FIAs. Caso você tenha gostado e queira uma análise semelhante em outro(s) mercado(s), me avise comentando abaixo. Escrevo para vocês!
Forte e respeitoso abraço a todos.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor Pesquisador do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência e finanças pessoais, corporativas e públicas. Ele pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.