O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu acelerar o ritmo de elevação da taxa básica de juros e elevou a Selic de 11,75% para 12,25% ao ano. Ao que tudo indica no comunicado, a expectativa é de que haja a continuidade dos aumentos e o mercado já trabalha com a taxa acima dos 14% ao ano. “Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, afirmou o Copom.
Nas palavras do colegiado do Banco Central: o cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista.
Traduzindo em miúdos, a contaminação fiscal e o desvio da inflação da meta implicam na necessidade de elevar ainda mais a taxa de juros. Isso significa um cenário mais desafiador para os investimentos em renda variável e outros ativos mais arriscados, como o mercado de dívida privada corporativa. A hora agora é reduzir a exposição ao risco e proteger o capital. Porém, não é esse o cenário que estamos vivenciando no momento quando se trata do crédito privado corporativo.
Quando olhamos, por exemplo, os fundos de renda fixa expostos ao crédito corporativo observamos que os spreads se encontram muito baixos, o que leva os cotistas a assumirem um risco alto para obter um retorno pouco acima do CDI. Lembre-se que o spread de crédito é dado pelo risco, ou seja, a possibilidade de a empresa não pagar o empréstimo; pelas taxas de juros praticadas no mercado, mensuradas pela Selic e pelo prêmio de risco, que está relacionado ao cenário macroeconômico e custo de oportunidade do investidor. Será que o patamar atual, de CDI + 1,4% ao ano a partir de julho, de acordo com o Índice de Debêntures Anbima, engloba realmente todos esses fatores, principalmente quando falamos da probabilidade de inadimplência?
À medida em que o Copom continua elevando a Selic, a economia desacelera, o risco das empresas devedoras aumenta e os credores passam a exigir prêmios maiores pelo risco excedente que começam a assumir. Desta forma, os spreads que estão achatados agora passam a se abrir novamente, o que levará a perdas dos investidores que se sentem seguros por estarem em renda fixa. Os ganhos que obtiveram carregando títulos ao longo do ano de fechamento dos spreads, começam a se perder quando estes mesmos spreads abrem. Assim é gerada a chamada cota negativa em renda fixa e a decepção daqueles que buscaram um porto nem tão seguro assim.
Mas a conta não é feita tão imediatamente. Ao contrário, os investidores tendem a comprar mais crédito privado com a alta dos juros olhando apenas para o maior retorno e não para os riscos. Para se ter uma ideia, nos últimos meses, apesar do cenário de alta da Selic ter começado já em setembro, os investidores continuaram saindo da renda variável para a renda fixa. E o excesso de demanda é o responsável pelo achatamento dos spreads. Dados da Anbima mostram que, somente nos dez primeiros meses desse ano, os fundos de renda fixa registraram entradas líquidas de R$ 312,4 bilhões, ante resgates de R$ 41,5 bilhões no mesmo período de 2023. Mas outro dado da entidade chama ainda mais atenção: o forte crescimento dos fundos de renda fixa que investem em crédito privado. Entre janeiro e agosto, eles acumularam captação líquida positiva de R$ 292,5 bilhões e a maior parcela (R$ 94,3 bilhões) foi direcionada para os fundos que alocam entre 50% e 70% nesse tipo de ativo, ou seja, aqueles que incorrem em risco maior de inadimplência.
Essa distorção do mercado deve levar a prejuízos aqueles que se sentem seguros em deixar seus recursos na renda fixa, acreditando que não incorrem em risco algum. É preciso lembrar que os fundos são marcados a mercado e, por esse motivo, exibem volatilidade. Para evitar cotas negativas futuras, alguns fundos já se fecharam a novas captações. Isso porque os títulos de crédito privado se encontram caros no momento. Sem novos aportes, tais fundos buscam evitar comprar papéis a prêmios tão baixos e sofrer um revés no futuro.
É questão de oferta e demanda. No momento, a demanda é elevada, o que faz o mercado pagar um prêmio pelo risco muito pequeno, mesmo diante dos riscos do mercado de crédito, com alguns segmentos exibindo mais fragilidade para honrar seus compromissos. De toda a forma, as empresas vêm captando barato, enquanto os fundos lutam para entregar um pouco mais que o CDI. A alta da Selic vai fazer estrago no futuro. É questão de esperar.