- Alphabet e Microsoft divulgaram resultados fortes, mas a resposta do mercado foi mista.
- A divisão de nuvem da Alphabet cresceu 28%, enquanto o Azure, da Microsoft, teve um avanço mais lento, de 26%.
- Ambas as empresas estão focadas na evolução da inteligência artificial (IA). A Microsoft aumentou seu lucro operacional em 21%, enquanto a Alphabet está investindo em recursos de IA e chips aceleradores TPU.
A Microsoft (NASDAQ:MSFT) e a Alphabet (NASDAQ:GOOGL) divulgaram balanços fortes na noite de ontem, superando as expectativas dos analistas. A gigante da tecnologia fundada por Bill Gates registrou um lucro por ação (LPA) de 5,5%, acima das expectativas do mercado, e a Alphabet teve um desempenho levemente melhor, com seu LPA subindo 7,3%.
No entanto, apesar dos sólidos números de ambas as companhias, a reação do mercado a cada balanço foi bastante distinta.
A Alphabet disparou cerca de 6% após o anúncio, ao passo que a Microsoft despencou 4%. Por conta do peso dessas empresas, os índices mais amplos apresentavam queda antes da abertura desta quarta-feira, 26, marcada pelo importante anúncio de juros do Federal Reserve.
Uma das razões para essa reação do mercado é o desempenho das ações de ambas as empresas neste ano. De um lado, os papéis da Alphabet tiveram um avanço mais lento em meio à euforia com a inteligência artificial no primeiro semestre, distantes de outras grandes ações de tecnologia, ficando bem abaixo da máxima de 52 semanas.
Já as ações da Microsoft atingiram a máxima histórica na semana passada, o que levou alguns investidores a venderem suas ações antes do anúncio dos resultados trimestrais.
Além disso, a Alphabet anunciou que sua diretora-geral financeira, Ruth Porat, assumirá o novo cargo de presidente e diretora de Investimentos. Essa notícia foi bem vista pelos investidores, pois mostra o compromisso da companhia em manter a eficiência financeira no novo ciclo de crescimento, mesmo após um período difícil no ano passado.
No entanto, ao examinarmos mais de perto os relatórios de resultados de ambas as empresas, surge a questão: será que a reação do mercado foi apenas impulsiva e subestimou o valor das companhias?
Uma análise mais profunda dos balanços pode nos ajudar a responder a essa questão.
Nuvem
Ao contrário do que muitos analistas previam, o destaque foi o incrível crescimento da divisão de nuvem da Alphabet, ofuscando o avanço do Azure da Microsoft.
A unidade de nuvem do Google, que inclui infraestrutura e aplicativos de produtividade, registrou um crescimento de receita de 28%, alcançando rentabilidade no primeiro trimestre e apresentando um lucro operacional significativo de US$ 395 milhões no segundo trimestre, revertendo a perda de US$ 590 milhões do ano anterior.
Já a receita do Azure e de outros serviços em nuvem da Microsoft cresceu 26% em relação ao ano anterior, mas com uma leve queda de 1% em comparação com o trimestre anterior. O crescimento sequencial do Azure vem desacelerando desde pelo menos o terceiro trimestre de 2022, o que preocupa os investidores, no momento em que as empresas reduzem suas despesas de capital, por conta do aumento dos juros.
Para piorar as coisas, durante a teleconferência de resultados, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, afirmou que a empresa não poderia garantir que a queda no crescimento da receita da nuvem havia atingido o fundo.
“A migração para a nuvem ainda está nos estágios iniciais, então ainda há muito por vir”, declarou.
IA
O segundo semestre do ano promete ser decisivo para as grandes empresas de tecnologia, que terão que mostrar aos investidores e clientes os frutos dos seus investimentos em inteligência artificial.
A Microsoft, apesar de ter enfrentado uma queda nas ações após divulgar seus resultados, teve um desempenho muito bom nessa área. Seu segmento de nuvem inteligente, que inclui boa parte das soluções de IA da empresa, teve um crescimento de 21% no lucro operacional em relação ao mesmo período do ano passado.
O CEO Nadella aproveitou a teleconferência para anunciar que novas funcionalidades de IA serão lançadas no próximo trimestre:
“Nosso foco é liderar a mudança para a nova plataforma de IA, ajudando os clientes a usar a Microsoft Cloud para obter o máximo valor de seus gastos digitais e ter mais alavancagem operacional”.
Ele também destacou que a nova tecnologia adicionou 1 ponto percentual ao crescimento da plataforma Azure no último trimestre e deve adicionar 2 pontos percentuais no trimestre atual.
Já a diretora-geral financeira da Microsoft, Amy Hood, afirmou que o aumento de receita dos novos serviços de IA no software Office, como os recursos Copilot que serão lançados em breve, só deve aparecer nos resultados no próximo ano.
Por outro lado, a Alphabet informou que usaria as margens acima do esperado para ampliar a capacidade dos seus data centers e investir pesado no desenvolvimento dos seus próprios chips aceleradores TPU.
As duas empresas, no entanto, esperam enfrentar um cenário de crescimento mais difícil no segundo semestre, por causa das taxas de juros mais altas, e prometeram manter o foco na eficiência financeira para continuar entregando margens saudáveis.
Números financeiros
A Microsoft teve mais um trimestre excelente e parece estar bem posicionada para continuar entregando margens saudáveis no longo prazo, apesar da reação negativa aos seus resultados.
No trimestre encerrado em 30 de junho, a empresa sediada em Redmond, Washington, teve receitas de US$ 56,2 bilhões e lucro por ação de US$ 2,69. Esses números superaram as projeções do mercado de US$ 55,5 bilhões em receitas e US$ 2,55 em lucro por ação.
Além disso, nos últimos 12 meses, a Microsoft teve um aumento impressionante de 21% na sua receita total, enquanto seu lucro líquido também subiu 8%. A empresa também teve um crescimento significativo nos lucros, que subiram 10%, e nas vendas, que subiram 6% em relação ao trimestre anterior.
Os fundamentos da Alphabet também são bastante fortes. No entanto, em comparação com a Microsoft, a empresa parece estar avançando com mais vigor.
No segundo trimestre, o lucro por ação foi de US$ 1,44, superando os US$ 1,34 por ação (ajustados) esperados. Além disso, a receita da empresa foi de US$ 74,6 bilhões, superando as expectativas do mercado de US$ 72,82 bilhões.
O desempenho de segmentos específicos também foi notável, com os anúncios do YouTube gerando US$ 7,67 bilhões em comparação com os US$ 7,43 bilhões esperados. Já os custos de aquisição de tráfego foram de US$ 12,54 bilhões, um pouco acima dos US$ 12,37 bilhões esperados pelo StreetAccount. No geral, a receita do segundo trimestre da Alphabet subiu 7%, chegando a US$ 74,6 bilhões em comparação com os US$ 69,7 bilhões do mesmo período do ano anterior.
Segundo o InvestingPro, a Alphabet tem vantagem sobre a Microsoft em termos de precificação de mercado, ao ser mais atraente para investimentos nos níveis atuais. As duas empresas têm um excelente índice de saúde financeira (ver abaixo):
Fonte: InvestingPro
- No entanto, a dona do Google tem um potencial maior de valorização nos próximos 12 meses.
Fonte: InvestingPro
Além disso, a Alphabet apresenta um índice de preço/lucro (P/L) mais baixo, que deve se manter estável nos próximos trimestres, pois a empresa busca manter a resiliência financeira sob a nova gestão. A Alphabet também tem uma situação melhor em termos de índice preço/valor patrimonial, índice preço/vendas e relação dívida total/capital.
Fonte: InvestingPro
Conclusão
Podemos dizer que tanto a Microsoft quanto o Google são ótimas ações para o longo prazo, apesar da reação inicial do mercado.
No entanto, a compra de ações da Microsoft nos níveis atuais pode demorar mais para gerar retorno, devido às métricas elevadas da empresa e às altas expectativas, especialmente no mercado de IA.
Portanto, quem busca um retorno mais rápido pode preferir comprar ações do gigante das buscas nos níveis atuais.
Por fim, é importante lembrar que nenhuma dessas ações é uma aposta de curto prazo, pois suas métricas estão muito esticadas, especialmente diante de taxas de juros mais altas. Para quem se interessa em abrir uma posição em qualquer uma das empresas, o melhor a fazer seria esperar uma correção maior no mercado para entrar em preços melhores.
**Aviso: O autor tem posições compradas em GOOGL e MSFT.