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Almoço grátis: Por que diversificar globalmente

Publicado 13.09.2024, 13:30
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O conceito de que “there is no such thing as a free lunch” - “não existe almoço de graça” - foi popularizado pelo economista Milton Friedman nos anos 1970. Sua origem remonta ao final do século XIX, quando houve uma febre em restaurantes e bares nos EUA oferecendo ‘almoços de graça’ para clientes que comprassem um drink. O referido almoço consistia em comidas bem salgadas, como queijos, presuntos e pretzels, que provocavam sede e faziam o cliente consumir ainda mais bebida. Na prática, era apenas uma estratégia para vender mais álcool.

Friedman usou o conceito para criticar a ideia de que os governos poderiam gastar sem custos, uma visão que se baseia na crença de que impostos e criação de dinheiro não têm consequências. Na prática, o imposto, seja ele sobre empresas ou indivíduos, impacta diretamente alguém: o acionista, o consumidor ou, mais frequentemente, o empregado. Portanto, o gasto excessivo do governo resulta inevitavelmente em algum tipo de taxação, seja na forma de impostos diretos ou indiretos, como a inflação.

Nas últimas décadas, o conceito veio crescentemente sendo usado em finanças e investimentos, sempre que se quer apontar o custo implícito de alguma decisão. Mas, aqui em Pindorama, temos nossos jeitos e criamos o que mais se aproxima de um almoço grátis, os chamados ‘ativos isentos’. Estes, por não incorrerem em Imposto de Renda, combinam baixo risco com alta rentabilidade e, depois de um período inicial, liquidez imediata.

Ao escolher uma LCI (Letra de Crédito Imobiliário) ou LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) em vez de um CDB (Certificado de Depósito Bancário) da mesma instituição financeira, o investidor pode manter o risco de crédito inalterado e obter um rendimento adicional de 1,00% a 1,50% ao ano. Com a taxa real de juros atualmente em cerca de 6,5%, isso resulta em um rendimento de 7,5% a 8% acima da inflação. Um ganho inimaginável para um ativo com riscos de juros inexistente (pós-fixado) e de crédito tão reduzido, emitido por bancos de primeira linha. Afinal, um retorno de 7,5% ao ano faz o capital inicial dobrar a cada 10 anos, algo digno de aplicações de risco elevado.

Mas, sob um olhar mais atento, é essa jabuticaba tão atraente assim? Nos últimos 10 anos até o final de agosto de 2024, o CDI teve um retorno acumulado de 142,24%, equivalentes a 9,25% ao ano. Nesse mesmo período, a cotação do dólar passou de R$ 2,24 para R$ 5,61, uma desvalorização de 152%. Com isso, R$ 1.000, que em agosto de 2014 equivaliam a U$ 447, transformaram-se em R$ 2.423. Mas esse valor, atualmente, só compra U$ 432, U$ 15 a menos. Ou seja, em moeda forte, perdeu-se dinheiro.

Pode-se argumentar que o câmbio está num momento excessivamente desvalorizado. Mas, como uma vez ouvi do economista Persio Arida, “moedas podem ficar fora de lugar por muito mais tempo do que as pessoas costumam imaginar”. E, diante da política fiscal que vem sendo implementada, a perspectiva mais provável é de fortalecimento do Real ao invés de ainda mais enfraquecimento?

Recentemente, fiz um estudo sobre países que, no passado recente, enfrentaram crises cambiais. Escolhi dois candidatos em que a depreciação da moeda foi consequência de políticas populistas. Na Venezuela, o caso mais agudo: gastos sociais, subsídios econômicos, controles cambiais vigentes há duas décadas e a fixação da taxa de câmbio levaram à perda do valor do bolívar e à dolarização da economia. Já na Turquia, programas de estímulo fiscal e incentivos ao consumo, acrescidos de interferência política no Banco Central, levaram a uma desvalorização da lira turca de mais de 500% de 2019 desde 2019.

E trouxe um exemplo curioso de um país desenvolvido, o Japão. A elevação das taxas de juros nas demais economias, para combater a inflação pós-Covid, ampliou fortemente os diferenciais de taxa de juros, enquanto o aumento dos preços de energia, de que o país é fortemente dependente, agravou o déficit na balança comercial. O yen saiu do nível Y100 por dólar no início de 2021 para um pico de Y160 esse ano - uma desvalorização da ordem de 50% -, tendo retornado para Y140 recentemente. Um movimento dessa magnitude levaria o Real para R$ 8,40, por exemplo.

Diversificar globalmente é aquele tipo de conselho que muitos ouvem, mas nem todos fazem. Da mesma família do “use protetor solar” e “beba água todos os dias”. Ainda mais num país como o nosso, com tanto “almoço de graça”. Mas, como Friedman já afirmava e mostramos acima, este simplesmente não existe.

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